O desempenho do setor agropecuário será o principal responsável pelo crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano. Mas as boas notícias vindas do campo não devem ficar restritas a estes três meses iniciais. De acordo com especialistas, a expectativa é que fatores como o clima e a baixa base de comparação, em relação a 2016, continuem dando frutos até dezembro, fazendo com que a produção agrícola cresça, na pior das estimativas até agora, 6%.
As próprias denúncias deflagradas contra o presidente Michel Temer, que têm o potencial de abortar a recuperação econômica do país, podem ter até efeito oposto na agropecuária. Conforme diz o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Pedro Arantes, a previsão é que o setor agropecuário continue apresentando resultados expressivos. Baseado nas safras agrícolas e graças às boas condições climáticas. “O agro ainda é o carro-chefe da economia brasileira. Ele é quem alavanca o PIB, com destaque, principalmente, nas culturas de milho e soja. Apenas aos preços das commodities dos milhos e soja que tiveram queda nos preços quanto comparada ao ano passado”, pontua o especialista.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o carro-chefe desta recuperação será a safra de grãos, estimando uma produção de 26,2% maior este ano na comparação com 2016, chegando a 233,1 milhões de toneladas. Para o presidente, Nelson Rocha Augusto, do Banco Ribeirão Preto (BRP), o crescimento é quase tão grande quanto às 56 milhões de toneladas de soja produzidas anualmente na Argentina. As regiões que mais se beneficiarão, caso os resultados positivos sejam confirmados, serão: Centro-Oeste e o interior de estados, como Paraná e Santa Catarina.
Resultados
A expectativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que a produção aumente 15,4% em relação a 2016. De acordo com a consultoria Tendências, mais de 75% do crescimento esperado para o PIB deve vir da agropecuária. Até quinta-feira (18), a consultoria estimava alta de 0,3% da atividade neste ano, mas o número ganhou um viés de baixa depois da crise política instalada pela delação premiada da JBS. A consultoria tem estimativa de alta de 8% para o PIB agrícola neste ano, mas já planejava revisá-la para cima.
A partir de meados do segundo trimestre, com ainda mais força no terceiro, é o milho quem deve puxar o carro, com alta de 40% em relação ao ano passado. “A safrinha virou safrona”, disse Hausknecht, da MB Agro. Somados, milho e soja representam 89% da produção de grãos. Parte dessa recuperação se deve ao clima. Se em 2016 o regime desfavorável de chuvas gerou quebras de safra, em 2017 a situação é oposta. “Neste ano, choveu no lugar certo, na hora certa”, disse Rocha Augusto, do BRP.
Outro fator que influenciou esse crescimento foi a alta dos preços, que, justamente em função das quebras de safra do ano passado, incentivou os agricultores a ampliarem a área de plantação. Em 2016, o PIB agrícola caiu 6,6%. As estimativas do boletim Focus para este ano estão em alta de 6%, mas o BRP calcula aproximadamente 6,5% e a Tendências espera 7%.
A supersafra de milho e soja terá ainda efeitos indiretos para o interior do país. Um deles é que a grande oferta desses itens, principais insumos para a ração de animais, barateará a produção bovina. “As perspectivas para a carne são muito boas”, disse Novaes, da Tendências. O setor foi levemente abalado pela operação Carne Fraca, no fim de março, mas deve voltar com força nos próximos meses. Segmentos como a fabricação de máquinas agrícolas, transportes e serviços têm tudo para ser alguns dos mais beneficiados. “Uma safra dessas pode não dinamizar a região metropolitana de São Paulo ou do Rio de Janeiro”, disse Felippe Serigati, professor do MBA em Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas. “Mas, sem dúvida alguma, no interior do país quem carrega o piano é o setor agropecuário. ”
Fonte: Valor Econômico, com informações da Faeg
Foto: Fredox Carvalho