Administrar uma propriedade rural requer mais do que trabalho braçal e terra no sapato. Exige conhecimento do processo produtivo. Registrar toda a movimentação da fazenda e acompanhar o cenário da agropecuária no Brasil e em Goiás são os primeiros passos para corrigir falhas, diminuir custos e aumentar ganhos. Não basta somente produzir, é necessário saber produzir. A tarefa de administrar começa pelo conhecimento de tudo que constitui uma empresa rural. Um dos caminhos para cumprir essa tarefa é a capacitação. Há 23 anos, o Senar Goiás oferece o treinamento ‘Administração de Propriedade Rural’ e, nesse período, mais de 39 mil pecuaristas e agricultores foram qualificados. Só em 2017, foram formadas 65 turmas com 780 produtores em busca de conhecimento.
O pecuarista Adriano Rabelo, de Itapuranga, foi um dos produtores que fez o treinamento no ano passado. Produzindo leite em grande escala há quatro anos, ele diz que a capacitação permitiu a redução de custos em 10%, diminuição da quantidade de animais mantendo a mesma produção, além da fabricação de queijos. “O curso me fez perceber que eu poderia melhorar em todas as áreas, baixar as despesas, mesmo que uma pequena porcentagem e ainda me mostrou outros potenciais com o leite”, afirma Adriano, que também cultiva milho em sete hectares. O cereal é utilizado como complemento na ração do gado leiteiro.
Na fazenda de Adriano são produzidos 320 litros de leite por dia, mas ele espera aumentar a produção em 30% até o final do ano. Por isso tem buscado agregar conhecimento com vários cursos. “A nossa atividade é complicada. Se você não souber administrar bem e ter controle de tudo na fazenda, você não consegue sobreviver. É fundamental que o pecuarista saiba o que ele gasta, o que ele ganha, como investir, como crescer; e isso só é possível com capacitação”, ressalta Adriano.
A pouco mais de 100 quilômetros dali, em Araguapaz, Dolmaria Bárbara Bastos Barbosa aplica os conhecimentos adquiridos no treinamento na cria, recria e engorda de 300 cabeças de gado. Graças a capacitação, a produtora, que ficou viúva cedo, conseguiu dar continuidade ao trabalho do marido. “Quando meu esposo faleceu, eu não sabia como funcionava a fazenda. Como era nossa única fonte de renda, eu busquei o curso, que me abriu horizontes. Percebi que eu estava à frente de uma empresa e que precisava de uma gestão eficiente”, explica. A capacitação despertou o interesse da pecuarista em fazer outros treinamentos.
Técnicas de gestão
Gratuito, o treinamento ‘Administração de Propriedade Rural’ tem como objetivo capacitar produtores e trabalhadores rurais com técnicas de gestão atualizadas seguindo as legislações, com foco no resultado e nas tendências de mercado. A ação tem duração de três dias, sendo 8 horas diárias de aulas teóricas e uma visita técnica à propriedade de um dos participantes. A capacitação se divide em duas modalidades: economia familiar e empresa rural. Cada uma atende um perfil diferente de público.
Em comum, o conteúdo das duas modalidades aborda o cenário da agropecuária no Brasil e Goiás, as inovações nos modelos de gestão, áreas e funções da administração rural, inventário patrimonial, planejamento e tomada de decisões, análise de custo de produção, orçamento, fluxo de caixa, comercialização e organização rural. As turmas são agendadas por trimestre em diferentes locais. As informações sobre as datas ficam disponíveis no site do Senar Goiás.
Para o técnico adjunto do Senar Goiás, Marcelo Penha, o impacto do treinamento para as cadeias produtivas é o desenvolvimento rural sustentável, maximizando a utilização de recursos e compreendendo os gargalos e os potenciais da propriedade rural. “A gente percebe que muitos produtores gostam da prática, mas quando o assunto é controle e gestão, eles acabam desanimando”, explica. Por isso, segundo ele, o intuito do treinamento é fazer com que cada aluno entenda seu negócio como uma empresa. “Com gestão, o produtor consegue planejar as despesas pessoais, que também afetam a vida dele. Nós buscamos mostrar que a atividade agropecuária não é só financeira, mas também social”.
Texto: Kamylla Rodrigues
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