Depois de conseguir superar a crise econômica dos últimos anos, a agropecuária segue como um dos motores da economia brasileira e deverá recuperar a participação no Produto Interno Bruto (PIB) em 2017. No entanto, alguns produtos terão que equilibrar a relação entre a oferta e a demanda para garantirem rentabilidade aos produtores. Tudo isso a poucos dias do início do plantio da safra 2017/2018 no país.
A expectativa, de acordo com a Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), é de uma produção de soja estimada em 107 milhões de toneladas, ante as 114 milhões de toneladas colhidas na safra 2016/17 – queda na produção de 6,14%. Mesmo com o recuo, o USDA mantém o Brasil como o maior exportador de soja do mundo, com 64 milhões de toneladas, aumento de 4,07% em relação às exportações da safra 2016/17 que somaram 61,50 milhões.
Para o milho, o USDA estima uma produção de 95 milhões de toneladas, isto é, um leve recuo em relação à safra 2016/17, quando nos atuais níveis de produtividade média do país – próximo a 93 sacas por hectare –, a redução de área não chegaria a 2%. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), é possível uma queda ainda maior na produção, principalmente em função da redução esperada na área plantada do milho 1ª safra, já que muitos produtores tendem a trocar a área de milho por soja, visto que a segunda está mais rentável. No entanto, este volume de produção pode ser ainda menor que o previsto pelo USDA. O mercado tem projetado redução na área plantada entre 2% e 5%.
Do lado econômico as preocupações também são grandes, já que atualmente os preços da soja e do milho estão em patamares inferiores aos comercializados no ano anterior. Cerca de 15% a 20% do complexo soja tiveram suas vendas antecipadas e os preços estão pressionados em função de uma oferta mais ampla propiciada pelas últimas safras produtivas no Brasil e nos Estados Unidos.
O que traz boas expectativas é a demanda, que segue aquecida no mundo, em especial na China. “No caso do milho os preços já estão buscando uma recuperação após a depressão nos momentos de colheita e alta oferta da safrinha, mesmo assim as expectativas são de queda na área plantada nacional no verão, de até 30%, o que pode gerar oportunidades aos produtores que pretendem investir nesta cultura”, diz o analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) e da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Cristiano Palavro.
Do lado de quem planta
O produtor rural Clodoaldo Calegari, 47 anos, entra nesta safra 2017/18 na Fazenda Buritizinho, na região de Silvânia, apreensivo. Na safra anterior, ele comercializou antecipadamente em torno de 60% da produção de soja. Neste ano, a comercialização não chegou a 10%. “Estamos em um ano extremamente complicado, onde teremos que ser assertivos tanto na tomada de decisões técnicas, quanto nas decisões comerciais. Hoje estamos trabalhando com preços em torno de 20% a 25% abaixo do que estávamos trabalhando um ano atrás, tanto para o mercado físico quanto para o mercado futuro”, diz.
A expectativa do produtor é de plantar 2,4 mil hectares de soja no final de outubro e colher 70 sacas em cada um, aumento de 5% de saca em relação as últimas duas safras. “Nossa média tem ficado acima das 65 sacas por hectare e se o clima favorecer, buscaremos atingir o objetivo estabelecido para este ano”, aponta. A compra de insumos já foi antecipada e o produtor manteve o nível de investimento, mesmo com as margens reduzidas. “Eu prefiro não mexer e manter minha programação, porque se eu interferir na parte técnica pensando em cortar custos eu acabo cortando resultados e minha produtividade acaba caindo”, afirma.
Pelas últimas previsões, ‘São Pedro’ não será muito generoso nesta safra. As primeiras chuvas são esperadas para o final de setembro e início de outubro em Goiás, com volumes acumulados variando de 15 a 50 mm. Na região Sudoeste do estado é esperado o maior volume de chuva. “Após esta primeira semana existe a possibilidade de um período seco, de cerca de 15 dias, com as previsões apontando o retorno das chuvas de forma mais firme apenas no último decêndio de outubro”, destaca Palavro. Do lado do plantio, é esperada uma semeadura mais lenta.
Em comparação com a safra passada, as chuvas chegaram mais cedo, o que facilitou a rápida instalação das lavouras de soja. Este fator também colaborou no plantio do milho safrinha dentro da janela ideal. Já nesta safra as previsões indicam uma estabilização do período chuvoso mais tardiamente, o que exige atenção redobrada na escolha do momento de colocar as sementes no solo, evitando possíveis necessidades de replantio.
Custos de produção
Para a próxima safra, os custos de produção devem permanecer em patamares mais baixos comparados à safra 2016/17. Porém, o comportamento dos preços, o clima, além de outros fatores externos, poderão pesar no final das contas e os números de custo e receita devem empatar, o que não é nada atrativo ao produtor. “O momento é sempre de muita observação e de busca pela potencialização da produção, procurando diminuir ao máximo os custos sem comprometer a produtividade”, alerta o analista técnico do Ifag e Faeg, Alexandro Alves.
É nessa toada que segue o produtor rural de Rio Verde, Ênio Jaime Fernandes. Em uma área de 3,3 mil hectares, a perspectiva é de colher 55 sacas de soja em cada um. Das 192 mil sacas previstas, já comercializou 30%. “Este ano será extremamente desafiador e com margens extremamente apertadas”, ressalta. Ele conta que o risco maior está na possibilidade de aumento da carga tributária para o agronegócio. “A gestão pública brasileira já conseguiu aniquilar a indústria, está destruindo o setor de serviços, e começa a ameaçar o agro”, frisa.
Texto: Nayara Pereira
Foto: Larissa Melo