China, Egito e Chile anunciaram no sábado (25) a reabertura de seus mercados para a importação de carne brasileira, movimentos que foram comemorados pelo governo brasileiro, que se mobilizou nos últimos dias para tentar diminuir o dano às exportações após escândalo envolvendo a fiscalização dos produtos no Brasil. Juntos, os três países receberam 20,7% de total de exportações brasileiras de carne em 2016. A China foi o maior mercado, com 12,6% do total – ou 1,75 bilhão de dólares.
O país havia divulgado uma suspensão temporária das importações nesta segunda-feira (27), após as denúncias da Polícia Federal (PF) sobre supostas propinas pagas para venda de produtos sem inspeção, no âmbito da operação ‘Carne Fraca’. Agora, os produtos brasileiros poderão voltar a ser importados pela China, com exceção daqueles provenientes dos 21 frigoríficos sob suspeita, cujas licenças de exportação já haviam sido suspensas pelo governo brasileiro.
Segundo o Ministério da Agricultura, apenas a fábrica da JBS em Lapa, no Paraná, havia exportado para a China nos últimos 60 dias. Em outra frente, a China também bloqueará e recolherá do país os produtos cujos certificados foram assinados por sete técnicos investigados na operação Carne Fraca.
As importações brasileiras de carne já começaram a ser liberadas em Xangai, afirmou uma fonte ouvida pela Reuters em Pequim. “Estamos plenamente confiantes que outros países seguirão o exemplo da China”, afirmou o presidente Michel Temer, em nota, na qual ressaltou que o posicionamento chinês representa uma confirmação do trabalho de esclarecimento feito pelo governo brasileiro nos últimos dias.
O governo coordena esforços para impedir o embargo e reverter suspensões à carne brasileira após a operação da PF ter levantado uma onda de preocupações em vários países no mundo. A intenção é circunscrever as restrições às plantas que estão sob suspeita. Entre elas, estão unidades de gigantes do setor, como JBS e BRF.
A expectativa agora é que o movimento da China acabe influenciando outros importantes mercados, como Hong Kong, segundo maior importador de carne brasileira, tendo comprado 1,62 bilhão de dólares em 2016. “A liberação (pela China) é um esforço gigante que foi feito aqui no Brasil com as explicações, de mostrar que as investigações estavam numa direção de investigar conduta de pessoas, comportamento de pessoas, desvio de conduta das pessoas”, disse à Reuters o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, por telefone.
Ainda ecoando as consequências da operação da PF para as operações brasileiras de carne, o Ministério de Mudanças Climáticas e Meio Ambiente dos Emirados Árabes Unidos anunciou na sexta-feira a suspensão de importações provenientes de seis empresas brasileiras e a remoção de todos os seus produtos dos mercados do país, de acordo com a agência estatal de notícias WAM.
Egito e Chile
Egito e Chile também decidiram no sábado (25) retomar as importações de carne brasileira, segundo autoridades dos dois países. Em 2016, as importações de carne brasileira pelo Egito somaram 690 milhões de dólares, segundo informações do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). As do Chile, por sua vez, responderam por 441 milhões de dólares.
Em comunicado, o Ministério de Agricultura egípcio informou que reabriu o mercado para importações autorizadas de empresas brasileiras, acrescentando que as remessas estariam sujeitas aos controles tanto no Brasil quanto no desembarque no Egito.
O governo chileno também anunciou neste sábado a derrubada das suspensões, mas destacou que as restrições seguirão de pé para as importações advindas das 21 fábricas sob investigação na Carne Fraca.
Em nota, o Serviço Agrícola e Pecuário do Chile afirmou que poderá impor a suspensão a “qualquer outro estabelecimento que se tornar envolvido nestes atos (de corrupção) no decurso da investigação pela autoridade brasileira”.
No início desta semana, o governo brasileiro chegou a sinalizar que poderia adotar medidas de retaliação, com suspensão de importação de produtos do Chile, caso o país decidisse barrar a importação de carne brasileira de maneira generalizada e não apenas das unidades envolvidas na Carne Fraca. Em outra nota divulgada neste sábado, Temer e Maggi apontaram que a decisão dos países corrobora “a confiança da comunidade internacional no nosso sistema de controle sanitário, que é robusto e reconhecido mundialmente”.
Nos últimos dias, as exportações e a produção de carne no Brasil foram duramente atingidas pela repercussão da operação da PF, com as empresas do setor perdendo bilhões de reais em valor de mercado na bolsa brasileira.
Texto: Reuters