Em Goiás, no município de Cocalzinho, uma cultura tradicional vem ganhando protagonismo entre pequenos e médios produtores: o feijão-caupi, também conhecido como feijão-de-corda ou feijão-verde. De rápido ciclo, baixo custo de produção e com mercado certo, o cultivo tem se mostrado uma alternativa estratégica para diversificar a produção, garantir renda e implementar a rotação de culturas nas propriedades. Parte desse sucesso tem relação direta com o trabalho técnico do Senar Goiás.
Produtor há mais de 30 anos, Emerich Luís da Silva cultiva feijão-caupi no período das águas. Com 25 hectares, encontrou na leguminosa uma fonte de renda certa e uma alternativa eficiente de rotação para sua produção, que é predominantemente de mandioca e milho. “Esse feijão tem venda garantida. Nunca deu prejuízo para mim. Toda a vida deixou um bom resultado”, afirma.
A colheita é feita manualmente e o produto é comercializado ainda nas vagens, principalmente para feirantes e compradores de cidades vizinhas, além de chegar até a Ceasa Goiânia em períodos de excedente. Como se trata de um produto perecível, o prazo de venda é curto: cerca de quatro dias após a colheita, o que exige planejamento e escalonamento no plantio. Outro desafio é a escassez de mão de obra, realidade em diversas áreas da agricultura. Por isso, a família de Emerich se envolve diretamente na colheita. “Eu planto por tiras: três litros me renderam mais de 300 caixas. É manual e hoje a mão de obra está difícil. A gente colhe tudo, sem perder. Aqui, trabalhamos com o escalonamento, que é difícil de encontrar nesse tipo de serviço. O plantio escalonado ajuda a dar conta da produção com a estrutura que temos”, explica.
Parte da produção é armazenada em garrafas PET para garantir sementes para o próximo plantio, prática tradicional e de baixo custo. O produtor já planeja implantar um sistema de irrigação por gotejamento, o que permitiria duas safras anuais. “Com o gotejamento, quero plantar também no período seco. Minha terra é boa e o feijão exige pouca adubação. Dá para plantar bastante. A assistência técnica mudou muita coisa aqui. Eu recomendo demais, porque ensina a cuidar melhor do plantio. Tem que cuidar, sim, mas o feijão sempre dá retorno. Nunca perdi dinheiro com ele”, afirma.
Quem acompanha de perto o trabalho é o técnico de campo do Senar Goiás, Kályston Eduardo. Ele visita a propriedade mensalmente há um ano e já implementou mudanças significativas no manejo da cultura. “Na época que começamos o acompanhamento, o manejo do senhor Emerich era limitado. Ele usava doses incompatíveis de produtos e não fazia a adubação no momento correto. Introduzimos adubação foliar com foco em potássio durante a florada, e isso mudou completamente a produção”, relata.
Segundo o técnico, pequenos ajustes fizeram grande diferença. A florada tornou-se mais resistente e uniforme, aumentando a produtividade. Além disso, foram adotadas novas estratégias de controle de pragas, com rotação de princípios ativos e monitoramento constante. “Tivemos um ataque mais severo de pragas, mas rotacionamos os produtos e conseguimos um controle eficiente. O senhor Emerich é muito atento, percorre linha por linha da lavoura todos os dias. Às vezes até aplica em excesso, e precisamos lembrá-lo dos intervalos”, comenta Kályston.
O plantio em áreas mais isoladas, sem vizinhança de milho e soja, reduz a pressão de pragas, mas a realidade da maioria dos produtores é diferente, já que cigarrinhas, vaquinhas e mosca-branca, comuns na soja e no milho, migram para o feijão. O técnico ressalta a importância do monitoramento constante, principalmente nos primeiros 30 dias. Uma alternativa adotada na propriedade foi o plantio em blocos, espaçados entre 20 e 30 dias, estratégia que facilita o escalonamento da colheita e otimiza o manejo diante da limitação de mão de obra.
Outro exemplo é o produtor Ilter Borges de Freitas, de Anápolis, que já cultivava maracujá em 2.500 metros quadrados e decidiu apostar no feijão-caupi como alternativa de renda rápida enquanto o maracujá não gera retorno. Ele destinou 3.000 metros quadrados para o feijão, adaptando o sistema de irrigação por gotejamento já existente. “É a mesma rede de água, só dividi os setores. Já estiquei as mangueiras e está tudo pronto para plantar. Resolvi investir no feijão-caupi para movimentar o caixa da propriedade enquanto o maracujá não começa a gerar retorno. A ideia é essa: ter uma renda mais rápida. Se não fosse a irrigação, só poderia plantar em outubro, com as chuvas, mas o feijão em 60 a 90 dias já está pronto para colher”, explica.
O feijão-caupi, além de rentável, é estratégico para a agricultura familiar. Trata-se de uma pulse (semente comestível de leguminosa), até pouco tempo restrita ao nordeste, mas que vem ganhando espaço em Goiás e no Cerrado. A cultura contribui para a fertilidade do solo, pois fixa nitrogênio atmosférico por meio da associação com bactérias benéficas (rizóbios), reduzindo a necessidade de adubação nitrogenada. Além disso, seus restos culturais atuam como proteção para outras culturas, reforçando o potencial do sistema de rotação.
Em pesquisa publicada em 2025 no Boletim de Pesquisa Meio-Norte, resultados de produtividade de cultivares de feijão-caupi no Cerrado goiano foram apresentados em parceria entre Embrapa Meio-Norte, Faeg e Ifag. O engenheiro agrônomo Marco Antônio Azevedo Branco, doutor no Canadá, coordenou o projeto de multiplicação da cultura. “Observamos que o ideal é plantar na safrinha e no inverno, quando há menos precipitação. Já de outubro em diante, a chuva favorece doenças que afetam a produtividade. São materiais bem tolerantes à seca, que podem ser cultivados por pequenos produtores sem problema nenhum”, explica.
Segundo Branco, foram testados cultivares convencionais e biofortificados, ricos em ferro e zinco, nutrientes essenciais para a saúde humana. Entre os melhores resultados, destacaram-se o BRS Itaim em Anápolis e o BRS Guariba em Rio Verde. “Cada cultivar demonstrou comportamento específico conforme o ambiente e o manejo. Isso nos permitiu identificar materiais adaptados às condições do Goiás”, relata.
O projeto deu origem, em 2023, a um programa de multiplicação de sementes, que já vem fornecendo materiais adaptados diretamente aos agricultores familiares. “Estamos trabalhando com agricultores que se interessaram em participar como multiplicadores, fazendo demonstrações em campo para mostrar o desempenho dos materiais. A partir do momento em que conseguimos identificar as variedades que se adaptaram às condições do Estado, já conseguimos multiplicá-las e entregá-las aos produtores. O feijão-caupi é precoce, com colheita em 60 dias, e essa característica faz toda a diferença para garantir renda rápida ao agricultor”, conclui o engenheiro.
Assim, com manejo eficiente, apoio da assistência técnica do Senar Goiás e pesquisas voltadas à realidade regional, o feijão-caupi desponta como uma das culturas mais promissoras para pequenos e médios produtores goianos, unindo tradição, inovação e rentabilidade.
Imagens: divulgação
Comunicação Sistema Faeg/Senar
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