A Missão Técnica aos Estados Unidos da América (EUA), com 29 produtores rurais, empresários e técnicos encerrou sua programação, na última sexta-feira (30), com três visitas institucionais em Washington/DC. A missão é organizada pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (FAEG) e Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás).
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) foi o primeiro local visitado no dia. Anthony Prillaman, chefe da Seção de Estatísticas de Grãos, foi quem recebeu o grupo e explicou o trabalho do seu departamento, responsável pela coleta e análise de dados estatísticos de produtividade, produção e área plantada. Ele explicou como os dados são conseguidos, a metodologia de coleta de informações e como são processados e divulgados os relatórios do USDA.
A primeira informação coletada é sobre a intenção de plantio, sendo apresentado o dado de estimativa de área plantada antes da realização da semeadura. Durante o desenvolvimento das culturas são realizadas as definições da área real plantada, assim como os sucessivos levantamentos a respeito da produtividade esperada e consequentemente da produção total de cada produto.
Anthony explicou que os dados são conseguidos de forma voluntária com os produtores e empresas de insumos agrícolas, por meio de entrevistas e questionários realizadas presencialmente e por telefone. Nestas entrevistas são feitas amostragens para identificar qual o número necessário de produtores entrevistados para representar o todo, sendo que o método tem como grande vantagem o baixo custo. Outro método de levantamento de dados utilizados são os monitoramentos via satélite, os quais tem como vantagem a análise de 100% da área plantada no país, sendo a grande desvantagem o alto custo destas operacionalizações.
Questionado sobre como são realizados os levantamentos divulgados pelo USDA sobre as safras em outros países, Anthony evitou responder a pergunta, informando que estas informações não fazem parte do departamento dele e que não está autorizado a falar sobre o assunto. O chefe da seção não respondeu também as demais perguntas dos produtores brasileiros, dizendo se tratar de assuntos confidenciais e não permitiu fotografias no interior do prédio.
Farm Bureau
O escritório da entidade representativa American Farm Bureau Federation, organização semelhante a CNA brasileira, foi o segundo local visitado pela missão. A entidade é uma organização privada, sem fins lucrativos, de fazendeiros e outros adeptos do setor, possuindo aproximadamente seis milhões de membros. Um fato interessante é que grande parte dos membro da American Farm Bureau não são produtores rurais e sim associados que pagam a contribuição anual para poder desfrutar dos benefícios oferecidos. O custo da contribuição anual é de 50 dólares por ano, sendo que destes apenas 4 dólares vão para a federação nacional e a maior parte para as federações estaduais e municipais. A taxa é igual para todos os fazendeiros norte-americanos, independente do tamanho da área ou cultura plantada. Ele informa que as federações estaduais também oferecem serviços ao produtor, como armazenagem, e-commerce, seguro saúde, seguro de safra, entre outros.
David J. Salmonsen, diretor chefe de relações com o congresso da Farm Bureau Federation, foi quem recebeu a missão brasileira. Ele comentou que atualmente a grande luta da confederação da agricultura americana é em relação ao impasse no congresso norte-americano, que está travando a aprovação da Lei Agrícola. Para ele, os Republicanos querem acabar com um programa de alimentação aos pobres, no modelo de distribuição de Vales-refeições, que existe desde 1960 e que é responsável por maior parte dos gastos destinados a produção de alimentos americana. Segundo David, a economia americana ainda sofre fortemente com os efeitos da crise financeira, e como o governo pretende manter este programa, os cortes no orçamento vêm afetando os produtores americanos, com redução nos investimentos na agropecuária. David também afirma que mesmo com a economia melhorando, o número de desempregados não está baixando, e o governo tem dado preferência para as áreas urbanas e industriais por gerar um maior número de empregos. “A cidade quer que o dinheiro do país seja gasto nas cidades e o campo no campo. Essa tem sido a principal discussão no congresso americano, já que antigamente havia dinheiro para satisfazer todos os grupos e hoje não há”, disse David.
Questionado pelos produtores brasileiros sobre as disputas de mercado e trocas comercias entre Brasil e Estados Unidos, David falou que as relações de compra e venda ainda são pequenas neste ramo, já que ambos os países são grandes produtores e exportadores de commodities agrícolas, tendo mais a relação de competidores. Quanto as relações entre americanos e europeus falou que querem uma Europa mais aberta aos produtos norte-americanos, assim como o Brasil, e que com a demanda da China nos padrões atuais tem-se espaço no mercado para todos.
Em se tratando de representatividade no Congresso, David explicou que todo senador norte-americano presta atenção à área agropecuária. Dos 435 congressistas, ele afirma que 120 são ruralistas de base, mas que todos os demais conhecem e se preocupam com a questão agrária, pois esta é fundamental para a segurança alimentar do país.
Embaixada do Brasil
A missão encerrou sua programação visitando a Embaixada do Brasil, em Washington/DC. Os produtores foram recebidos pelo diplomata Luiz Felipe Schmidt e pelo adido agrícola Horrys Friaça Silva, este último instituído no cargo desde 2010. Eles explicaram o trabalho da embaixada brasileira nas disputas de interesses agrícolas americanos e brasileiros, principalmente nas relações comerciais mundiais. Apresentaram um histórico da produção e da Lei Agrícola norte-americana.
Horrys informou que a política agrícola americana é voltada principalmente para a renda dos produtores e não exatamente à produção. Os investimentos americanos têm sido transferidos de uma política de altos subsídios à produção para o incentivo ao seguro agrícola.
Ao final, os diplomatas responderam a alguns questionamentos dos produtores brasileiros e ressaltaram o trabalho da Embaixada e do Ministério das Relações Exteriores em conseguir maior acesso dos produtos brasileiros e a equalização dos direitos comerciais frente ao mercado mundial.