Catherine Moraes
Nos últimos sete meses, quatro casos de mormo já foram identificados em Goiás, fazendo com que o Estado perdesse o status de zona livre da doença. Desde então o debate foi reforçado, levando em consideração que a doença não tem cura e é transmissível, inclusive, para humanos. Na manhã desta quinta-feira (21), o encontro foi realizado durante a 70ª Exposição Agropecuária de Goiânia para listar as próximas ações a serem executadas com prevenção, educação sanitária e também fiscalização.
A reunião foi comandada pelo presidente da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa), Arthur Toledo a contou com participação do presidente da Comissão de Equideocultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Hélio Fábio; diretor da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA), Paulo Brom; coordenador-técnico do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), Marcelo Penha; coordenadora-técnica do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-GO), Raquel de Sousa, entre outros.
Presidente da Comissão de Equideocultura da Faeg, Hélio Fábio falou da importância de realizar o cadastro com os produtores para mensurar, assim, quais os próximos passos a serem tomados. O Sistema ainda está em andamento com a Agrodefesa, mas deve funcionar em breve e já tem sido pauta de reuniões desde 2014. Representando o Senar Goiás, Marcelo Penha falou sobre os cursos e treinamentos do Senar Goiás na área de Equideocultura que já capacitou pelo menos 130 produtores em 2015. “Nós estamos auxiliando os produtores durante nossos cursos e treinamentos e o trabalho precisa ser constante e interligado”, completou.
Casos registrados
O primeiro caso, registrado em outubro de 2014 em um animal no Parque de Exposições Agropecuárias fez com que o local ficasse interditado por mais de 30 dias. Daí em diante, outros três casos foram confirmados: Hidrolândia, Abadia de Goiás e Goiânia, no Hipódromo da Lagoinha. O caso do Hipódromo da Lagoinha, em Goiânia, por exemplo, ainda espera decisão judicial para realização do sacrifício do animal apesar de o local estar interditado. Por lá ficam cerca de 130 animais e um dos medos das entidades é que isso possa aumentar as chances de contaminação.
A doença
Ocasionada pela bactéria Burkholderia mallei, a doença não tem cura e pode ser transmitida, inclusive, pelos alimentos, água ou secreções como: catarro, urina e fezes, de um animal saudável para outro sadio e ainda, para os humanos com sintomas similares e difícil tratamento. O animal pode apresentar febre, catarro, ferida dentro do focinho, tosse, gânglios aumentados e dificuldade para respirar. Em caso de confirmação, todos os animais da propriedade passarão por dois exames e o local (parques de exposições, leilões ou propriedades) pode ser interditado. Sem tratamento, os animais sacrificados precisam ser queimados e enterrados.
Confirmação laboratorial
Responsável pelo Programa Estadual de Sanidade de Equídeos (Pese), da Agrodefesa, Luana Palhais explicou sobre o processo de exames dos animais com suspeita de mormo. “No total podem ser realizados até três exames para confirmar o resultado positivo e os demais animais da propriedade serão testados, por duas vezes, com intervalo mínimo entre os exames, de 45 dias. De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa), a análise inicial é feita com prova de Fixação de Complemento (FC), em laboratório credenciado. Em caso de exame inconclusivo, positivo ou anticomplementar é feito um novo exame pela técnica de Western Blotting, considerada comprovatória. Se o animal der positivo, conforme preconiza a Instrução Normativa nº 24/2004 do Mapa, não há outra indicação senão o sacrifício”, completou.
Gerente do Laboratório da Agrodefesa (Labvet), Rafael Vieira afirmou que o laboratório goiano pode ser o primeiro do setor público a se credenciar para identificar o mormo. No Centro-Oeste são apenas dois laboratórios credenciados que ficam no Distrito Federal. “O processo é longo e difícil e os insumos são importados, mas quando conseguirmos será ainda mais fácil identificar e combater a doença”, completou.
Eventos com animais não cadastrados
Fiscal Agropecuário da Agrodefesa, Janilson Junior apresentou dados de transporte de animais referentes ao ano de 2014. Segundo ele, apenas com a finalidade esportiva, 16 mil animais foram transportados conforme emissão de guias. Além disso, 8 mil animais foram transportados com a finalidade de trabalho. O que ocorre, segundo ele, é que muitas festas e eventos são realizados sem a emissão dessa guia por parte da Agrodefesa. Presidente da Agência, Arthur Toledo falou da necessidade de intensificar a educação sanitária e também a fiscalização, com o intuito de garantir maior segurança aos produtores goianos.
Universidade pode auxiliar em pesquisa
Residente clínica de cirurgia de grandes animais do Hospital Veterinário da UFG, Jéssica Alves afirmou que a universidade está aberta ao diálogo e disposta a auxiliar na parte de pesquisas. Atualmente, com maior foco no Nordeste do país, o mormo é mais estudado por Estados como Pernambuco. “Nós estamos participando das reuniões para saber até que ponto nós podemos auxiliar os produtores e também garantir pesquisas importantes para a universidade”, finalizou.