Uma das maiores secas em décadas afetou os grãos da Argentina. A quebra fez abrir mercado de quase 20 milhões de toneladas de soja e o Brasil tem sido um dos principais beneficiados, o que inclui Goiás, onde o produto é o principal item da balança comercial. “A safra deles era estimada em 57 milhões de toneladas e deve fechar abaixo de 36 milhões de toneladas. Quem assume são os brasileiros e parte dos Estados Unidos”, explica o assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas, da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Alan Malinski.
A Argentina é o terceiro maior produtor de soja do mundo. Por isso, o impacto é tido por especialistas como grave. Mas, além do Brasil absorver parte do que ela não vai conseguir exportar, os produtores brasileiros também têm sido favorecidos pela alta do dólar, que de R$ 3,20 no início da safra passou para R$ 3,70. Esses fatores, como lembra Malinski, fizeram a saca em algumas regiões chegar a R$ 80 e este ano a expectativa não era de preços tão favoráveis como o que tem ocorrido por conta dos fatores externos. “O produtor conseguiu absorver parte dessa melhora dos preços. Uma safra boa com custo semelhante à passada e essencialmente produtiva. E isso vai fazer ter melhor rentabilidade, dá perspectiva para o produtor investir em tecnologia dentro da porteira”, diz sobre o conjunto de situações favoráveis. Como, aproximadamente, 50% da safra já tinham sido vendidas, segundo ele, há quem já aproveitou a alta e quem trabalha para aproveitar os preços para 2019. “A Argentina finaliza a colheita e o panorama não deve mudar”, informa.
Para o produtor de Jataí, no Sudoeste de Goiás, Joel Ragagnin, isso impacta positivamente e de imediato. “Conseguimos ver a alta do preço nitidamente para o que tinha em estoque. No meu caso, tinha 25% da produção”, expõe ao contar que conseguiu valor maior do que R$ 72 a saca para o que estava armazenado em cooperativa. Mas sabe de colegas que, com armazém próprio, negociaram por R$ 78.
Quando começou a venda, em janeiro, o valor que conseguia na saca estava na faixa de R$ 60, para se ter ideia. Por isso, o momento o faz trabalhar com mercado futuro para segurar o preço e já fez venda antecipada da safra que virá. Ragagnin produz soja em 4 mil hectares. “Nós tivemos basicamente três anos difíceis, dois com seca e outro com preço que deixou represado o investimento”, acrescenta. Assim, essa melhora, no primeiro momento, ele afirma que servirá para devolver capital de giro e se tiver, então, um ano bom, os investimentos vão retornar.
Investimentos para melhoria da produtividade, adubação melhor e, em segundo momento, os planos do agricultor é focar em maquinário e novas tecnologias. “Quem aproveitou era quem estava com a vida financeira organizada para aguardar os melhores momentos e acompanhar com assessoria de comercialização e bom consultor”, opina. Ele colheu 58 sacas por hectare na safra. Fora a soja, com o milho também espera impacto bom no preço inclusive por causa da seca argentina.
Impactos em Goiás
O consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e analista técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Cristiano Palavro, salienta que a soja tem comércio forte com movimentação de importação e exportação e o preço é balizado no mercado internacional, diferente do milho, em que a formação de preço em Goiás é mais local. Portanto, o impacto no Estado é sentido especialmente com a soja desde que começou a sinalização da quebra argentina e as altas na Bolsa de Chicago. “Esse é o primeiro fator de alta significativo, só que não é o único, tem o dólar subindo e mais a 'guerra' entre Estados Unidos e China”, reforça ao acrescentar a possível taxação dos chineses aos americanos, o que poderia fazer com que direcionem mais as compras para o Brasil. De toda forma, o prêmio nos portos com valores maiores tem auxiliado os brasileiros. “E temos safra boa que ajuda a compensar as quebras”, pontua sobre o Estado em que a safra de soja 2017/2018 teve produção de 11,58 milhões de toneladas, o que é 7,1% acima do que ocorreu no ciclo passado.
Nem todo mundo vai aproveitar e as boas vendas não são para toda soja, alerta ele. “Mas, para os produtores que conseguirem margens melhores e se as taxas para financiamento caírem como imaginamos é o momento de retomada de investimento, que ficou parado em função das altas taxas de juros.” Palavro observa, no entanto, que para aproveitar o momento o produtor tem de ter cautela e estar focado na gestão de custo e de comercialização. “Não adianta preço alto se não negociar agora ou se pagou mal o insumo e não sabe o custo de produção real. Sempre tem de planejar para nas oportunidades aproveitá-las com cautela.” A recomendação, como completa Alan Malinski, da CNA, é fazer os cálculos e colocar o custo de produção e rentabilidade de maneira favorável para saber qual o momento ideal da venda.
Texto: Katherine Alexandria, assessoria de Comunicação do Sistema Faeg Senar
Foto: Marcus Vinicius