O processo de urbanização e industrialização acontecido no Brasil e em Goiás na segunda metade do século passado deixou sequelas graves. Uma delas diz respeito ao acesso a atendimentos básicos de saúde. Na verdade, houve um processo de concentração de recursos nas metrópoles, ocasionando grandes vazios sociais no interior do Brasil e também de Goiás. Pensem, se nas capitais a população sofre em filas e aguardam um longo período para conseguir consultas com especialistas e exames mais complexos, na grande maioria dos municípios goianos não há médicos especialistas ou quando existem estão abaixo no número mínimo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Segundo informações do site index Mundi, o Brasil possui 1,76 médicos para cada mil habitantes, enquanto países como Argentina, Uruguai, Austrália e Egito possuem 3,16, 3,74, 3,85 e 2,83, respectivamente. Em relação ao interior do Brasil e ao setor agropecuário - que hoje impulsiona nossa economia -, sabemos que a integridade física e mental das pessoas é essencial para garantir a qualidade de vida, manutenção da produção e renda no campo. Como garantir a saúde dessas pessoas que trabalham para levar o alimento às nossas mesas? Dentro da vertente da Promoção Social, o Sistema Faeg Senar desenvolveu alguns programas que disponibilizam atendimentos médicos e de cidadania, trabalhando sempre de forma educativa os conceitos da medicina preventiva.
Desde de 2008, milhares de pessoas já foram atendidas com o Programa Campo Saúde. Neste ano o programa passou por Cavalcante, São Domingos de Goiás, Bom Jardim de Goiás, Doverlândia, Montes Claros de Goiás, Ceres, entre outros. Especialidades como oftalmologia, dermatologia e cardiologia estão entre as mais procuradas, além dos exames preventivos.
Durante as edições do Programa Campo Saúde encontramos pessoas que estão aguardando por atendimento médico especializado há meses, como também mulheres e homens que nunca realizaram um exame preventivo. E quando ações como essas são realizadas, a principal preocupação é a continuidade do atendimento às pessoas que são diagnosticadas com alguma enfermidade. As secretarias municipais de saúde realizam os devidos encaminhamentos, porém quando essas pessoas precisam realizar procedimentos mais longos na capital do estado, que é para onde a maioria das pessoas são encaminhadas, o que acontece para dar continuidade ao tratamento? Ter parentes ou familiares na capital seria uma condição necessária para viabilizar esse tratamento, mas muitas dessas pessoas não conhecem ninguém na grande Goiânia e o fato de precisar se deslocar até a capital acaba sendo uma tortura psicológica para esses pacientes.
Pensando nisso, a Federação da Agricultura de Goiás (Faeg), o Serviço de Aprendizagem Rural (Senar) e o Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag) estruturaram a Casa de Apoio à Saúde Rural para ser o ponto de apoio para essas pessoas, advindas do meio rural, que estão passando por momentos difíceis, frequentando clínicas, laboratórios e hospitais em Goiânia. Essas pessoas são acolhidas e a casa de apoio oferece a hospedagem, transporte e alimentação, além de um acompanhamento do tratamento por parte de assistentes sociais. Programas como esses mostram o comprometimento do setor produtivo com o projeto de construir um Estado com menos desigualdade e melhor para se viver.