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Alimentos podem ficar ainda mais caros devido ao clima

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Problemas climáticos podem deixar os preços dos alimentos, principalmente os de origem animal, ainda mais caros no mercado brasileiro neste segundo semestre. O atraso do plantio e baixo volume de chuvas durante a fase de crescimento do milho safrinha afetaram a produtividade e é prevista uma queda de mais de 30% na produção. Ao mesmo tempo, as geadas no Sudoeste do Estado estão causando a queima dos pastos, o que reduzirá a oferta de alimento para os animais, exigindo mais investimento em ração. A soma dos dois fatores deve ser um custo maior para o produtor rural e preços mais altos para o consumidor, principalmente das carnes e leite.

Os problemas começaram ainda no início da última safra, que é plantada em outubro para colheita em janeiro e fevereiro, quando ocorre o plantio do milho safrinha. Mas as chuvas demoraram para chegar, o que acabou atrasando o plantio da soja. Automaticamente, o plantio do milho, que deveria ter sido feito no início do ano, também atrasou.

"Além da demora para chegar, a quantidade de chuvas foi bem menor que em anos anteriores", lembra o agrônomo Luiz Antônio Monteiro, diretor da Nutroeste Nutrição Animal.

O resultado foi a perda de muitas lavouras de milho e a queda na produtividade das que ficaram e na produção do grão, muito usado para fabricar ração, o que deve afetar o abastecimento interno e até as exportações. Luiz Antônio também lembra que grande parte da produção já havia sido vendida antecipadamente e o produtor não terá como entregar.

Para piorar, a última frente fria causou uma forte geada no Sudoeste do Estado, que queimou as pastagens que já estavam penalizadas pela seca e até parte dos canaviais.

Muitos produtores plantam milho depois de colher a soja. Mas, este ano, como a janela de plantio foi ruim, muitos optaram por semear semente de capim, que se beneficia da qualidade deste solo, para a produção de pasto. "Mas veio a geada, queimou este capim e agravou o problema da oferta de alimentação para o gado durante esta seca, justo num momento de menor oferta de milho", destaca o agrônomo.

O resumo é: essa redução dos pastos provocará uma maior necessidade de ração, que estará com preços altos, o que aumentará os custos para o produtor e deve se refletir nos preços de produtos como as carnes e o leite para o consumidor. Vale lembrar que a suinocultura e a avicultura também serão diretamente afetadas. As integrações, maiores compradoras de milho, podem não receber tudo que precisam, já que o produtor não terá como entregar. "O cenário que se desenha nos próximos 60 dias é muito difícil", alerta Luiz Antônio.

Safra americana

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que haverá uma quebra de 30% na produção de milho safrinha em Goiás, com o atraso no plantio e a estiagem. O cenário internacional é de alta no preço. Mas o coordenador institucional do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Leonardo Machado, ressalta que o mercado ainda está na dependência do desempenho da safra americana, que pode ajudar a estabilizar mais os preços no segundo semestre.

Outro fator que pode influenciar é a questão cambial. "A expectativa era exportar 35 milhões de toneladas de milho, mas este número não deve ocorrer porque os preços no mercado interno ficarão mais atrativos por conta da maior demanda e menor oferta do grão", prevê Leonardo. O Ifag estima que a quebra na safra possa chegar até aos 38%. Para o coordenador, o produtor será o maior penalizado, por não conseguir repassar toda a alta de custos para o preço dos produtos no cenário econômico atual. A saca de milho já ultrapassou os R$ 90.

A zootecnista Carolinne Mota, especialista em nutrição animal, informa que muitos produtores já vislumbram um "cenário catastrófico" para este ano, que deve se refletir nos preços de vários produtos. Ela explica que a planta queima e seca antes de chegar ao ponto certo de maturação e o milho para silagem está sendo colhido antes do tempo. Mas, para fazer a silagem, ele precisa estar com um nível correto de umidade. "Colhendo antes da maturação, o nível de qualidade cai e é preciso mais ração para o gado, o que aumenta os custos", explica.

Para Carolinne, há possibilidade de falta do produto no mercado interno, já que o câmbio continua favorecendo as exportações, apesar da baixa. Ela conta que a geada já prejudica outras atividades e até piscicultores já relatam a mortalidade de animais nos tanques por causa do frio severo. "Matrizes estão morrendo em virtude das geadas", destaca. A zootecnista lembra que o clima também acaba interferindo na qualidade da produção de folhagens e pressionando os preços na feira.

Luiz Antônio ainda alerta para o aumento do risco de incêndios nas lavouras, que deve ser maior este ano. "A geada deixou tudo ainda mais seco. Começou a colheita do milho e a palha está bem seca, elevando risco de incêndio. O produtor deve ter uma brigada de incêndio junto à colheitadeira para apagar qualquer início de fogo", alerta.

Jornal O Popular
Comunicação Sistema Faeg/Ifag

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