Murillo Soares
Apesar de, durante a Exposição das Tecnologias Voltadas ao Desenvolvimento da Pecuária (ExpoPec), muitos palestrantes terem apresentado um recorte extremamente favorável da Pecuária de Corte em Goiás – sublinhando, principalmente, uma maior preocupação do produtor com a qualidade do alimento – a economia ainda não está em completa sincronia. Nesta sexta-feira (1), Fabiano Tito Rosa, gerente nacional de compras dos frigoríficos Minerva, e Lygia Pimentel, sócia-diretora da Agrifatto, bateram nesta tecla, chamando atenção dos pecuaristas presentes sobre a crise econômica que afeta diretamente a atividade.
“Este é um ano de muita incerteza e volatilidade dos preços. Ou seja, um ano de risco”, afirmou Tito Rosa. Até agora, no ano de 2016, segundo dados do Minerva, há um menor abate de fêmeas, se comparado ao ano passado, o que significa retenção de matrizes para melhores resultados genéticos. Ele também resaltou o maior número de animais mais pesado e confinados. “É uma situação totalmente inédita. O peso médio das fêmeas é de 14 arrobas e, do macho, 19,20”, explicou.
Qualidade padrão
Toda essa mudança de criação, para Fabiano, gerou melhora no padrão da carne, ponto que também foi falado na quinta-feira (31) na palestra de Antônio Camardelli, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). “O mercado internacional vê nossa carne como um mero ingrediente, passando a uma carne para o dia a dia, tal qual a estadunidense. Mas ainda está bem longe de uma carne gourmet”, analisou. O que precisa ser melhorado, segundo ele, é o marketing da carne brasileira.
O gerente de vendas do Minerva também deixou bem claro outro ponto: o Brasil exporta para mercados que compram commodity. “Isso, no entanto, não é algo ruim. Significa que devemos ter um certo padrão e ser mais competitivos”, ressaltou. Ele também afirmou que há mercados segmentados, sendo que cada um dele exige um tipo diferente de carne, vendidas a preços e compradores bem específicos.
Uma carne dentro do mercado de commodities, segundo Tito Rosa, deve vir de um boi com menos de 36 meses, que pese entre 16 e 23 arrobas – com cerca de 3mm de gordura – e um Ph não muito alto. Para a assessora técnica da Faeg, Christiane Rossi, estas são informações valiosas para que o produtor não se acomode e comece a perder espaço no mercado. “Se o pecuarista não se adequar e acompanhar os padrões, certamente terá grandes prejuízos, pois haverá dificuldade em vender seus animais”, frisou.
Mercado de crise
Lygia Pimentel mostrou uma economia mais pessimista, que, segundo ela, fica volatilizada de acordo o preço internacional das commodities. “O tipo de condução econômica adotada pelo governo brasileiro desestabilizou um pouco o mercado de vendas. Injetou-se dinheiro artificial para girar a economia, mas não há meios de se fazer isso para sempre e, hoje, o mercado ficou solto, com inflações altas e o poder aquisitivo da população caiu”, salientou a sócia-diretora da Agrifatto.
“Os resultados das medidas adotadas são retração econômica, desemprego, inflação, real depreciado e desequilíbrio das contas públicas. E isso tudo acaba refletindo nos pecuaristas, também”, continuou. Para ela, a escassez de dinheiro no país começa a afetar o agronegócio com o crédito rural mais caro e as exigências dos bancos cada vez mais severas. Com o Brasil em baixa, economicamente falando, o real fica em baixa e o dólar, consequentemente, em alta, o que gera mais custos para o produtor.
Pimentel continuou o raciocínio, sublinhando que, com a inflação em alta, o poder de compra do brasileiro cai, já que os produtos ficam bem mais caros. “Imaginem um cidadão que está desempregado e com seu poder de compra menor. Ele certamente comerá menos carne. Se antes eram dois bifes na hora do almoço, hoje é apenas um, e olha lá”, exemplificou. Isso levou várias plantas de frigoríficos a fecharem suas portas, contou ela.
Para 2016, estudos da Agrifatto estimam a exportação subirá e passará da marca das 1.500 toneladas. Apesar disso, segundo Lygia, 107 mil toneladas a mais que no ano passado. Os rebanhos deverão continuar estáveis. O problema, no entanto, ficará por conta do mercado interno, que terá de dar conta de um excedente, para ela, acima do que pode suportar. “Nossos dados apontam que o consumo médio do brasileiro deve cair de 37,54 kg para 37,30 kg per capta”, completou.
E como proteger-se disso? Lygia Pimentel dá a resposta: “quem trabalha com tecnologia e estuda os passos de seu rebanho terá onde se apoiar”. Segundo ela, este é o ano de planejamento e não de fazer o mercado acontecer. As incertezas políticas, conforme afirmou, também atrapalham o produtor a se precaver, já que o que acontece – ou não – em Brasília estremece todo o mercado. “O pecuarista deve se preparar para o que virá, aumento do custo de alimentação em 30%, arrocho do mercado interno, incógnitas na política e adequação aos padrões das commodities”, disse.