Catherine Moraes
Se o ano de 2014 começou com grandes prejuízos para os produtores devido à falta de chuva e às diversas pragas, o ano de 2015 promete uma safra recorde de grãos com 18,7 milhões de toneladas, 2,7% a mais que a anterior. A perspectiva de crescimento era ainda maior, mas, mesmo com as adversidades, foram 4,77 milhões de hectares plantados em 2014, 3,7% a mais que na safra 2012/2013 e 18,33 milhões de toneladas colhidas, 3,6% maior que na safra 2012/2013. Para 2015, precaução é a palavra de ordem do setor.
Os dados foram apresentados durante coletiva de imprensa que ocorreu na sede da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) nesta segunda-feira (22). O presidente da entidade José Mário Schreiner, iniciou sua fala classificando 2014 como o ano de resiliência, já que durante os 365 dias produtores rurais tiveram que enfrentar desafio. “Não sei se falo aqui do pibinho, do pibeco ou do pibito”, brincou se referindo ao crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no ano que está terminado. José Mário também usou o tom para acalmar os ânimos dos cerca de 30 jornalistas que compareceram ao local. “Mas nem tudo são notícias ruins. Em 2015 o cenário deve ser mais positivo para quem vive da agropecuária” pontuou.
Ele falou sobre dois cenários para 2015. “Precisamos diferenciar os cenários. Temos a macroeconomia nacional, no qual vamos notar um reajuste fiscal e monetário necessário, e a macroeconomia mundial, com uma demanda crescente por alimentos vinda da China, por exemplo”. No quesito macroeconomia mundial, o crescimento em 2014 foi de 3,3% sendo que na China, por exemplo, o aumento foi abaixo do ano anterior, 7,5% no PIB de 2014 contra 10% do PIB de 2013. Nacionalmente, o IPCA alcançou 6,56% nos últimos 12 meses, acima da meta que era 4,5%. Entre outros desafios tivemos a forte desvalorização do Real e o Dólar alcançando 2,69 na última semana. Para 2015, a expectativa é de alta ainda maior com a moeda americana chegando a R$ 2,78.
Quanto aos reajustes fiscal e monetário, o presidente da Federação falou em necessidade. “Não poderemos fugir dos reajustes, o que deve arrochar um pouco o produtor. O ideal, é claro, seria que existisse o reajuste, mas que a arrecadação fosse investida e não utilizada para quitar dívidas”, explicou.
Investimento que gera resultados
Como pontos positivos do último ano tivemos, por exemplo, a criação de 69 mil empregos no setor agropecuário em Goiás. O estado também foi considerado o melhor em competitividade no mercado de setor rural no país e, de acordo com relatório da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Goiás tem a 2º menor taxa de desemprego no campo.
Considerando os dados da Secretaria de Estado de Indústria e Comércio (SIC) até novembro de 2014, as exportações do agronegócio alcançaram US$ 5,2 bilhões, equivalente a 79,6% do total. Já as importações chegaram a US$ 450 milhões, 11% do total, com destaque para fertilizantes e derivados do tomate. O saldo da balança do agro foi de US$ 4,71 bilhões e, não fosse o setor, a balança comercial do Estado de Goiás estaria deficitária em US$ 2,3 bilhões.
Para 2015, José Mário disse esperar – além de números melhores – as tão sonhadas reformas política e tributária, “além de maiores discussões em torno das políticas agrícolas que alavancam a vida dos produtores rurais. Eles precisam de investimento em infraestrutura – no que diz respeito ao escoamento da produção, armazéns, energia elétrica e capacitação para que tenham fácil e livre acesso à assistência técnica – nosso grande desafio no ano que chega. Assim como os doentes precisam de atendimento médico, os produtores precisam de assistência técnica”, pontuou.
O presidente da Faeg exemplificou a necessidade utilizando o exemplo de uma corrente. “Está tudo interligado. Se tivermos produtores mais capacitados, produziremos mais em Goiás, a riqueza gerada aqui também vai crescer, a qualidade dos produtos vai melhorar e a competitividade do que é produzido aqui vai aumentar. Tudo isso resulta em uma melhoria na qualidade de vida da população”. Para José Mário, o governo federal adotou uma política assistencialista que não serve para os produtores rurais. “Não queremos a ajuda pronta. Sabemos que as bolsas disponibilizadas tiraram muitas pessoas da miséria, mas queremos que o produtor aprenda a caminhar com as próprias pernas e avance junto com o país”.
Principais avanços
Entre os principais avanços de 2014 estão: a atualização da legislação fitossanitária do estado (vazio sanitário da soja, vazio sanitário do feijão, instrução normativa do girassol); desburocratização da legislação ambiental, principalmente na liberação de licenciamentos ambientais e ampliação do Cadastro Ambiental Rural (CAR); redução de ICMS de alguns produtos e manutenção de benefícios fiscais ao setor produtivo primário como eucalipto e sementes de capim. Além disso, podemos citar ainda o acompanhamento e cobrança na liberação de crédito de investimento e custeio de safra e safrinha e na resolução de conflitos entre produtores e indústrias como leite, tomate e cana.
No âmbito federal, houve atuação junto à liberação de recursos para Garantia de Preços Mínimos nas culturas de milho e feijão (Pepro e AGF); ampliação da capacidade armazenadora nas propriedades rurais através da captação de recursos do Programa de Construção de Armazéns (PCA) e criação no PAP 2014/2015 de linha específica para aquisição de animais para confinamento e para retenção de matrizes bovinas.
Desafios para 2015
Os desafios para 2015 não são poucos e envolvem alguns assuntos já tratados, constantemente, pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Entre eles: os problemas com a falta de energia elétrica que prejudica não só o setor rural; consolidação da Reforma Política e Tributária; ampliação dos recursos para a subvenção do seguro rural e investimento em infraestrutura: ferroviária (formas de concessão), portuária, rodoviária.
A Federação, em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e demais entidades também tem como objetivo ampliação dos serviços de capacitação e formação profissional; assistência técnica; extensão rural e pesquisa agropecuária. Com isso, pretende-se ainda alavancar parte da classe D/E para a classe C e da classe C para A/B. É preciso levar em consideração que 0,6% das propriedades produzem 51% da produção total em Goiás e que 76,86% das propriedades possuem proprietários nas classes D/E.
Acreditando na educação e capacitação
Em 2014 o Senar Goiás capacitou mais de 57.500 pessoas nas áreas de Formação Profissional Rural e Promoção Social. Entre os cursos mais procurados: piscicultura, cultivo de pimenta, olericultura básica e orgânica, inseminação artificial de bovinos de leite e artesanato. Além disso, programas como O Agrinho, Ensino à Distância (EaD) e Pronatec formaram mais de 350 mil crianças jovens e adultos. Para 2015 as metas são ainda maiores porque o Senar Goiás acredita que, por meio da educação e da capacitação, produtores podem ganhar mais e conquistar uma melhor qualidade.
Por fim, José Mário falou sobre seu medo diante da falta de capacitação do país. “O setor agropecuário segura o Brasil e precisa ser tratado com mais atenção por parte das administrações federais, estaduais e municipais. São cerca de 85 mil produtores que precisam de assistência técnica e com isso podem fazer o país crescer ainda mais”, concluiu.