Michelle Rabelo
Tido como promissor para 2015, o mercado para os pecuaristas que investem na fase da cria foi um dos destaques durante o primeiro dos oito Encontros Regionais de Pecuária de Corte, realizados pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) em parceria com os respectivos Sindicatos Rurais (SRs). Na noite desta terça-feira (10) foi a vez dos produtores da Cidade de Goiás receberem o médico veterinário, especialista em mercado do boi gordo e analista de mercado Rodrigo Albuquerque, responsável pela palestra “Cenário Econômico e Perspectivas para a Pecuária de Corte” e pela afirmação que deixou alguns dos criadores com um sorriso de orelha a orelha. “A cria é a bola da vez”, brincou.
Em relação à atividade – menina dos olhos para 2015 - Rodrigo destacou que hoje nota-se, entre outras coisas, produtores mais profissionais, um foco produtivo voltado para o melhoramento genético e facilidade da compra desses animais através do parcelamento de seus valores. Além disso, ele explica que o sistema é muito heterogêneo e que ainda há uma enorme parcela a ser profissionalizada, ou seja, o "negócio do boi" ainda vai trazer boas novas para o cenário econômico. “A atividade de cria vem subindo desde 2007. Em 2014 o animal ficou cerca de 46% mais caro. O ano é da cria. Vocês estão virando a página e o mercado vem buscando um equilíbrio”. Rodrigo se refere aos aumentos registrados nos 12 meses do ano passado: além dos bezerros, os garrotes subiram 38% em média e o boi magro ficou cerca de 31% mais caro. Para o analista, esse é só o começo. “Ágios de 40% em relação a arroba do boi serão constantes. Se preparem”.
Mas nem só da cria vive a pecuária. O analista apresentou o "ciclo que a carne percorre", composto por cria, recria,engorda, atacado, varejo, exportação e concorrentes. Rodrigo também fez um resumo do mercado em 2014 e apresentou suas expectativas para 2015. “O boi deu um salto e o nosso negócio ficou tão bom que todo mundo ganhou: a cria, o ciclo completo e a engorda. O patinho feio ficou bonito, o resultado em reais foi positivo e hoje todo mundo gosta de falar sobre a pecuária”. O analista pontuou que além do salto do boi, o produtor também evolui levando mais tecnologia para a propriedade.
O produtor João Carlos Batista, saiu do evento satisfeito. “Achei a abordagem do palestrante muito interessante. Rodrigo trouxe dados atualizados, o que não encontramos na maioria dos eventos da área. A apresentação de experiências pessoais dele também contribuíram muito, pois traz os dados para nossa realidade. A divisão e uma abordagem exclusiva para a fase da cria foi diferenciada”.
Do poema e da pecuária
Relativamente representativa na pecuária de corte goiana – onde contabiliza-se 21,5 milhões de cabeças de gado, representando 11% de participação nacional - , a Cidade de Goiás, não é conhecida apenas por ser a terra de Coca Coralina. O município acumula 278 mil animais entre leite e corte.
Assim como nas outras sete cidades por onde o evento vai passar até o próximo dia 20, na Cidade de Goiás o objetivo da Faeg foi discutir maneiras de se produzir mais carne em uma área cada vez menor. Além disso, desafios como o aumento da produtividade, a melhoria na gestão da propriedade e a intensificação de investimentos na profissionalização da equipe, foram debatidos durante a noite.
Para o vice-presidente institucional da Faeg, Bartolomeu Braz, a entidade percebe cada vez mais a necessidade de levar para dentro da porteira, informações e ferramentas que auxiliem na gestão e a ideia de uma pecuária de precisão. Ele deu destaque ao Pesebem, programa da Faeg que afere a pesagem dos animais dentro dos frigoríficos. “Precisamos ocupar bem nossos espaços. Eu falo da intensificação da atividade e conhecimento de mercado. O setor que compra nossa carne é muito bem organizado. Não podemos perder o time da coisa”, pontuou. Ele fez questão de ratificar a importância de eventos do tipo, visto que Goiás possui o terceiro maior rebanho do Brasil, ficando atrás somente do Mato Grosso e de Minas Gerais. “Só em 2013, foram abatidas no país 3,5 milhões de cabeças de gado, produzindo-se cerca de 750 mil toneladas de carne. Isso mostra nossa importância”.
O presidente do SR da Cidade de Goiás, Rogério Azeredo, também esteve no evento e fez questão de destacar a importância da iniciativa. “Além de mostrar a representatividade do município, o evento é um meio de fortalecer o produtor e, consequentemente, a classe. No Brasil o produtor é penalizado por tudo. Precisamos de defensores e entidades que defendam quem produz”. Ele aponta a falta de informações na área técnica como a principal lacuna da atividade. “Precisamos procurar melhoras no setor por meio da tecnologia. Temos que quebrar esse paradigma que existe de que o novo não é bom e usar as novidades ao nosso favor”. Rogério, que também é vice-prefeito do município, estava acompanhando pelo vice-presidente do SR, Aldecir Ferreira.
Intensificação da produção
O vice-presidente institucional da Faeg, Bartolomeu Braz, alerta para a dificuldade que alguns produtores enfrentam para enxergar a atividade como um negócio que precisa de gestão. “O segredo é produzir mais em um espaço menor. O produtor precisa estar atento à gestão da porteira para dentro, sem se esquecer de avaliar como está a situação da porteira para fora”. Ele também destaca a importância da etapa da comercialização. “Agora é o momento de discutirmos as ações dos governos municipal, estadual e federal no que se refere á infraestrutura – impactando diretamente na competitividade. A Faeg tem várias comissões técnicas e busca ligar o produtor aos órgãos competentes, mas é preciso que cada um deles se posicione, cobre, participe”.
Braz explica ainda que o evento também objetiva abrir espaço para discussões sobre as necessidades do setor ao que se refere às políticas públicas. “Queremos estreitar os laços entre produtores e técnicos. Hoje estamos com a economia um pouco abalada, um dólar muito alto que traz preocupação no custo de produção. A expectativa é que os criadores possam ser orientados por gente como o Rodrigo, grande conhecedor do mercado. A ideia é aproveitar esse momento para discutir políticas públicas que venham ajudar nesse período de dificuldade”.
Assim como os cerca de 60 produtores que estiveram na Casa Maçônica de Goiás, Jurimar Godinho disse que foi até o evento aprender mais sobre gestão e posicionamento de mercado. Ele possui cinco mil cabeças de gado em sua propriedade, no município de Araguapaz, e entende que a maior falha do produtor é não buscar informação dentro de um cenário de custos mais elevados e supervalorização dos animais de reposição. “Se o produtor não souber aproveitar os momentos de compra e de venda, buscar momentos de comercialização, não conseguirá se manter no mercado”, completa. Para ele, que já trabalha com cruzamento industrial e matrizes inseminadas, falta planejamento na atividade.
Após a palestra os produtores puderam tirar dúvidas, participando com perguntas do painel formado por Rodrigo Albuquerque, pelo gerente da regional Oeste do Sebrae, Sergio Augusto Monturil, pelo gerente geral da agência da Caixa Econômica na Cidade de Goiás, Valdir Borges, e pelo presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg, Maurício Velloso.
Para finalizar, Bartolomeu relembrou que os eventos, realizados pela Faeg e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), objetivam mostrar ao produtor a importância de aproveitar o momento – venda do rebanho e compra de animais para reposição - que é propício para iniciar um planejamento anual da atividade.
Também compuseram a programação temas como mercado, cenário econômico - tanto local quanto internacional -, potencialidade de exportação, o tipo de gestão mais adequado para cada tipo de negócio, a forma e a maneira de comercializar os animais, entre outros pontos que são dúvidas frequentes dos produtores. Além da Cidade de Goiás, o circuito é composto por outros sete municípios - Porangatu, Nova Crixás, Posse, Caiapônia, Mineiros, Itarumã e Ipameri.
Confira datas, horários, locais e a programação dos próximos eventos:
11/03 – Porangatu: Salão do Sindicato Rural - Av. Brasília s/nº - Parque Agropecuário Hilton M. da Rocha, Vila Rosa
12/03 - Nova Crixás: Parque de Exposições Agropecuárias - Rodovia Go 164 Nº 10 Qd. 01 Lt. 01
13/03 – Posse: Salão de eventos da AABB – Rua Dr. Vanderlan Antônio de Araújo nº 971 – Setor Prudêncio
17/03 – Caiapônia: Salão de Eventos do Sindicato Rural - Av. Plynio Gayer n° 448, Nova
18/03 – Mineiros: Tatersal do Parque de Exposições – Av. Ino Resende – Trevo da BR-364
19/03 – Itarumã: Parque de Exposições Agropecuárias - Rua Jataí n° 4 - Setor de Clubes
20/03 – Ipameri: Salão do Sindicato Rural - Rua José Balduíno dos Santos n° 770, Centro
Programação:
18h Recepção
19h Abertura
19h30 Palestra: Cenário Econômico e Perspectivas para a Pecuária de Corte
20h30 Painel e Debate
21h10 Encerramento