Nayara Pereira
A pecuária de corte tem atualmente o melhor cenário de médio e longo prazo entre os produtos do agronegócio brasileiro. A avaliação foi feita pelo presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, durante mais uma edição dos Encontros Regionais da Pecuária de Corte, na última sexta-feira (15), na cidade de Piranhas. O evento, realizado pela entidade e pelo Sindicato Rural (SR) do município, reuniu cerca de 160 produtores, técnicos e empresários que foram em busca de novos conhecimentos sobre o cenário do boi gordo.
Schreiner fundamenta sua avaliação argumentando que o cenário de restrição de oferta de carne bovina, nos três principais fornecedores mundiais, os Estados Unidos, o Brasil e a Austrália, tem sustentado os preços em patamares elevados. “A pecuária de corte já enfrentou momentos dificílimos, mas nos últimos anos, ela vem mostrando a sua força. Para vocês terem uma ideia, quem segurou as exportações do Brasil e dos principais fornecedores na virada do ano, foi a carne”, enfatizou durante abertura no encontro.
Consolidando esse fator aos pecuaristas presentes, o consultor de marcado Rodrigo Albuquerque, que já percorreu oito municípios goianos apresentando a palestra “Cenário econômico e perspectivas para a pecuária de corte”, afirmou que o ano de 2015 será de altos retornos, mas também de elevados riscos. “Atualmente, o preço da arroba do boi é de R$ 148,00. Nunca antes o boi alcançou esse preço. O cenário, agora, é de firmeza, que pode ser externada através dessa alta da arroba e da resistência contra a queda de preços, mas o conjunto clima, política e economia irá exercer cada vez mais pressão na demanda do mercado interno por carne”, afirmou.
Em contraponto, o consultor destacou que apesar da alta dos preços, é preciso cuidado ao consumo interno da carne brasileira, responsável por 75% do potencial de compra produzido no país. “Em um momento apertado, a dona de casa substitui a carne bovina por carne de frango, que há mais de um ano tem custado, em média, 50% menos que a carne bovina”, explicou. Decorrente disso, Rodrigo considerou a alta do dólar, que empurra os preços para cima, que pode também impactar negativamente na atividade, uma vez que refletirá no aumento da inflação e na consequente queda de poder de compra do consumidor brasileiro.
Outro aspecto destacado pelo especialista é quanto a abertura de novos mercados. Com a restrição da oferta, o país pode entrar em novos mercados, como o próprio norte-americano, o Japão, o da Coreia do Sul e o da China.
Rodrigo diz que analistas chineses projetam que as importações de carne bovina, nos próximos dez anos, devem crescer de 1,5 milhão de toneladas para 5 milhões de toneladas por ano, o que representa mais da metade das exportações globais do produto, que são de aproximadamente 9 milhões de toneladas.
Em 2011, as exportações brasileiras de carne somaram 14,4 bilhões de dólares – em menos de 12 anos, as receitas do setor no mercado externo foram multiplicadas por 8. Para manter o crescimento nas vendas para o exterior, as empresas do setor enfrentam o desafio de superar as crescentes barreiras comerciais em mercados importantes, como Estados Unidos e os países da União Europeia.
Um novo olhar para a pecuária
Destacando o potencial da boa fase da arroba do boi, Rodrigo Albuquerque, apresentou aos pecuaristas presentes, novas perspectivas para o melhoramento do animal, destacando a tecnologia como aliada dos bons negócios. “Hoje, o fazendeiro precisa produzir mais e reduzir custos para manter o negócio viável”, diz o especialista.
Existe demanda por produtores e serviços para engordar o gado mais rapidamente, melhorar o uso do pasto e automatizar a gestão dos rebanhos, entre outras necessidades do mercado. “Estão surgindo muitas oportunidades para pequenos e médios negócios que ajudem os produtores a enfrentar esse tipo de desafio, a questão é, aliar a tecnologia as produções diárias da fazenda”.
Graças ao emprego da tecnologia nas fazendas, os criadores estão conseguindo produzir mais com menos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 1996 as áreas de pastagens encolheram 10% no país – boa parte do terreno perdido deu lugar a lavouras de milho e soja.
No mesmo período, o rebanho brasileiro cresceu 12%. A produtividade também aumentou. Hoje, um boi em confinamento pode ser abatido com dois anos e meio de idade, antigamente o gado tinha de reminar cinco anos no pasto até chegar ao peso adequando para ir ao matadouro. Há três décadas um frango demorava 50 dias para atingir 1,8 Kg, peso mínimo para o abate.
Mais eficiência
Diz um velho ditado que o olho do dono engorda a boiada. O pecuarista Jair Pereira de Oliveira, de 62 anos, parece levar a sério esse ensinamento. Ele passa boa parte do tempo acompanhando o desenvolvimento de 218 cabeças de gado criadas em sua fazenda na cidade de Piranhas. Como um bom curioso, o pecuarista veio em busca de novos métodos para agregar aos que já usam no dia a dia.
Diariamente, Jair avalia uma série de informações sobre a alimentação dos bois, além de dados a respeito do aumento de peso do rebanho e relatórios apontando quantos animais estão prontos para o abate. Apesar de todo o desvelo dedicado à criação, o pecuarista busca novas formas para aumentar sua criação. “Para ampliar meu negócio, preciso de algo mais, e sei que novos olhares serão abertos a partir das dicas dadas no encontro de pecuária”, pontou.
Proposta
A Faeg realiza os Encontros Regionais de Pecuária de Corte porque entende que, cada vez mais, a profissionalização do produtor deve chegar à comercialização dos produtos da agropecuária. Isso transmite eficiência e busca oferecer garantias à cadeia produtiva. Para a pecuária de corte, a Federação realiza ainda o Programa Pesebem, que acompanha o abate e garante a pesagem correta dos animais.