Michelle Rabelo
Com a intenção de debater problemas enfrentados por quem vive da plantação de grãos em Goiás, produtores e representantes do setor, como a Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), os Sindicatos Rurais (SR) e a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) se reuniram nesta quarta-feira (14). Compuseram a pauta de discussões temas como o cultivo do milho com tecnologia BT, o vazio sanitário da soja, o plantio do grão na safrinha e a contratação do seguro rural.
Um trabalho de conscientização juntos aos produtores, a realização de reuniões periódicas com representantes do setor, avaliação a fundo do modelo agrícola do estado da Bahia – que é diferente de todos os outros estados brasileiros devido ao clima -, a criação de um modelo específico para o Centro-Oeste e discussão dos preços futuros do milho BT, foram algumas das sugestões dadas pelos participantes durante toda a manhã.
Comissão técnica
O encontro tratou também sobre as características da agricultura goiana e do posicionamento dos produtores diante das especificidades de Goiás. Ao final da reunião ficou definido que uma comissão técnica irá se reunir nos próximos dias para organizar o debate sobre a agricultura tropical. Eles irão definir a programação, nomes de palestrantes, data e local para realização de um fórum.
Segundo o presidente do Sindicato Rural (SR) de Cristalina, Alécio Maróstica, é preciso pensar, com urgência, onde os produtores goianos querem chegar e como pretendem caminhar para isso. “Aqui são aplicadas técnicas desenvolvidas no Rio Grande do Sul. Nosso modelo agrícola não adianta mais”, destacou.
Para o presidente da Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Faeg, Flávio Faedo, encontros como o desta quarta-feira são fundamentais para que o governo federal conheça as dificuldades do campo. “Por meio dos Sindicatos Rurais a Faeg fica sabendo o que está acontecendo no meio rural e pode repassar as demandas para a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)”, pontuou, ao agradecer as presenças e o empenho das empresas de tecnologias e sementes, como a Pioneer e a Monsanto.
Milho BT
Sobre a utilização das tecnologias BT na cultura do milho, os produtores alegam que grande destas tecnologias não tem garantido um controle satisfatório. Faedo comentou que o descontentamento é geral. “O grande problema é que os produtores pagam caro pela tecnologia e acabam tendo que fazer um controle complementar com inseticidas, aumentando seus custos de produção”.
Foi consenso entre as empresas que fornecem esta tecnologia e os produtores rurais, que o agravamento deste problema se deu pela falta de adoção de medidas de mitigação dos riscos de resistência, como a implementação de áreas de refúgio. Para o consultor técnico do Senar Goiás para área de cereais, fibras e oleaginosas, Cristiano Palavro, novos estudos sobre esta prática, além de um forte plano de divulgação, é extremamente necessário, já que, apesar de não ser a única forma de controle de resistência, o refúgio estruturado é a principal delas.
Safrinha
O cultivo da safrinha da soja também foi debatido durante o encontro. A prática foi classificada como um erro técnico e a Agrodefesa também se posicionou de maneira contrária, alegando que o cultivo não apresenta viabilidade técnica e econômica. Os produtores concordaram e foi consenso entre todos os presentes que o cultivo do grão na safrinha deve ser proibido. A sugestão do órgão é que seja definido um calendário de cultivo e que o plantio da soja aconteça entre os dias 1º de outubro e 31 de dezembro.
Vazio Sanitário
Sobre o vazio sanitário da soja, a discussão abordou a questão das áreas de pesquisa e produção de sementes genéticas, nas quais a planta é cultivada mesmo quando os produtores estão proibidos de fazê-lo. Segundo a Agrodefesa, em Goiás existem 450 hectares experimentais, sendo que 120 são destinados para pesquisa e 330 para cultivo de sementes genéticas.
Os produtores da região de Rio Verde alegam que a prática gerou grandes prejuízos às lavouras vizinhas das áreas de pesquisa devido a entrada precoce da ferrugem asiática. Eles alegam ainda que os prejuízos têm relação com a perda de eficiência dos fungicidas disponíveis no mercado. “A pesquisa é necessária por isso as áreas não podem ser destruídas. Porém, precisamos encontrar uma maneira de conciliar as duas coisas. Uma das saídas seria definir locais específicos destinados a pesquisa e avanço de gerações de cultivares em melhoramento”, disse o vice presidente institucional da Faeg, Bartolomeu Braz.