Rodolfo Cardoso
Membros da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se reuniram no último mês, em Esteio, no Rio Grande do Sul,onde discutiram entre muitos pontos o fim da vacinação contra febre aftosa, mudando o status de alguns estados brasileiros de “livre com vacinação” para “livre sem vacinação”. Representando a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Maurício Velloso, é enfático ao dizer que alcançar o status de área livre de aftosa sem vacinação seria a meta natural, mas que o processo precisa ser feito de forma cautelosa e responsável. Na ocasião, também foram discutidas propostas para desenvolver o setor ainda mais, começando, por exemplo, pelo alinhamento dos esforços entre as Federações e os órgãos ligados à pecuária.
O encontro, conduzido pelo presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte, Antônio Pitangui de Salvo, reuniu importantes lideranças do setor, como os presidentes do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião da Costa Guedes; da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli; e do diretor do Centro Panamericano de Febre Aftosa da Organização Mundial da Saúde (Panaftosa), Ottorino Cosivi, além de presidentes e representantes de federações e associações de raça de todo o país. Completando a lista, o assessor técnico da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Luiz Alberto Pitta Pinheiro e Maurício Negreiros Velloso, pecuarista que preside a Comissão de Pecuária de Corte da Faeg.
O assunto mais polêmico do encontro foi a possível erradicação da vacinação contra a febre aftosa, apresentada pelo presidente da Comissão de Pecuária de Leite da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Ronei Volpi, o qual esclareceu sobre a importância dos estados apresentarem simultaneamente propostas de mudança de status de “livre de aftosa com vacinação” para “livre de aftosa sem vacinação”. Segundo ele, isso aconteceria de forma individual, sendo essa a forma de conferir maior segurança a todos os parceiros.
Ele informou também, que essa atitude seria uma resposta aos clientes consumidores externos, que são exigentes. “Em novembro de 2015, faremos a revisão total dos cadastros para nos prepararmos e, em novembro de 2017, encaminharemos o pedido de área livre para Organização Internacional de Epidemiologia (OIE) para tentar conquistar a condição em 2018”.
O presidente da Comissão de Pecuária de Corte da Faeg, Maurício Velloso, vê a proposta com certa desconfiança. “Há muitos anos, vacina-se o rebanho com o sonho da extinção da febre aftosa e, por conseguinte, também da vacinação. Alcançar o status de área livre de aftosa sem vacinação seria o coroamento de um trabalho bem feito de planejamento, execução e fiscalização das campanhas pela erradicação da febre aftosa, levadas a termo no estado, mas o status também poderia causaria danos irreversíveis ao agronegócio goiano, e não apenas à pecuária de corte”, explica.
José Roberto Pires Weber, presidente da Associação Brasileira de criadores de Angus, foi contrário a ação tomada de forma exclusiva, pelo estado do Paraná. Ele acredita que o diálogo entre os vizinhos deve evoluir buscando uma agenda positiva comum, e, ressaltou a coragem dos paranaenses em colocar “o bode na sala”, obrigando o setor à reflexão sobre o assunto que, ainda é tabu.
Mas, o representante do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC), Sebastião Guedes, garantiu que a erradicação da febre aftosa na América do Sul até 2020 é definitiva. Ele defendeu a retirada da vacinação, porém, devendo ser conduzida de forma individual pelos estados da Federação, contudo simultaneamente, iniciando o programa pelos estados do sul, sudeste e centro-oeste, leste, norte e nordeste, e por último, das áreas de risco, quando as condições forem propícias.
Ele também destacou como ações importantes: a criação de um banco de reserva de vacinas, o risco de manipulação de vírus exóticos no continente e discussão em reunião extraordinária do Grupo Interamericano de Erradicação da Febre Aftosa, em Washington. O diretor do Panaftosa, Ottorino Cosivi, expôs um panorama da aftosa nos países da América do Sul e afirmou que a região tem bom sistema de vigilância. “De todos os países, o que mais preocupa é a Venezuela, onde o serviço sanitário declarou não ter como saber o que se passa em todo o território nacional”, disse. Cosivi alertou para a importância da manutenção de um sistema de vacinação para casos emergenciais.
Temas diversos
Os outros assuntos abordados no evento vieram de encontro às demandas urgentes do setor, como a proposta do pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sérgio Bertelli Pflanzer, de classificar as carcaças bovinas apenas pelo número de dentes, o que irá facilitar a definição de pontuação, fazendo com que a classificação efetivamente aconteça. Outra proposta que chamou atenção dos presentes foi apresentada pelo pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Roberto Girolo, que propôs um selo “verde” para quem seguir as práticas de Integração Lavoura Pecuária (ILP) e Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF), presumindo atender às demandas dos consumidores brasileiros e externos (sobretudo os europeus), cada vez mais exigentes quanto à sustentabilidade do sistema produtivo e contemplando ações que valorizem o bem estar animal.
Também dentro da temática “selo verde”, Maurício Velloso, destacou a necessidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) trabalhar a pesquisa sobre a quantidade de carbono sequestrada pelas pastagens melhoradas, bem como as áreas de reserva legal e Área de Proteção Permanentes (APPs) das propriedades, seguramente um enorme crédito ambiental não contemplado pelo projeto Carne Carbono Neutro. Já Antônio Pitangui de Salvo, e Gedeão Pereira, vice-presidente da Farsul, destacaram a importância do projeto apresentado por Velloso e reiteraram dizendo ser indispensável identificar a pegada de carbono das pastagens e das reservas florestais já existentes.
"A Região do Bioma Pampa, por exemplo, tem característica de não ter árvores. Precisamos de outro caminho por aqui", comentou Pereira que, também observou o fato das diferenças geográficas e climáticas do Sul brasileiro, que segundo ele, exigem adequações da tecnologia sugerida.