Catherine Moraes
Gerente geral da Embrapa Cerrado e com um currículo extenso, Lineu Rodrigues, doutor em Engenharia Agrícola e pós-doutor em Engenharia da Irrigação e Manejo da Água conduziu a quarta palestra do 1º Seminário Irrigação de Goiás – Água para produção de alimentos com o tema: Irrigação e o uso eficiente da água na produção de alimentos. O evento é realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) nesta quinta-feira (7), no Setor Sul, em Goiânia.
Lineu começou a palestra explicando sobre a necessidade de produção de alimentos no mundo que deve aumentar em até 70% nos próximos anos. Completando, falou da importância do país neste cenário e apresentou dados referentes ao período de 1992 a 2013. "Neste período nossa produção de alimentos cresceu em 150% e o segredo disso é tecnologia. A irrigação é a melhor tecnologia para atender a demanda crescente por alimentos de forma sustentável”, completou.
Desmitificando o “consumo da água” na irrigação, o palestrante afirmou que não existe consumo de água, mas uso da água para produção de alimentos. Isto porque, na irrigação, o percentual que a planta absorve é ínfimo perto da porção que infiltra no solo realimentando os lençóis freáticos e as nascentes. “Utilizamos apenas 1% da água disponível no Brasil. Aí muitos vão dizer, ‘mas toda esta água está na Amazônia’. Sem a Amazônia usamos 4,77% da água disponível. Sabemos da relevância de São Paulo, mas não podemos generalizar a crise deles como sendo nacional”, afirmou.
Produtividade e eficiência
O setor agropecuário mundial produz cerca de 5,5 bilhões de toneladas de alimentos, sendo que um quinto de toda a área produtiva utiliza algum sistema de irrigação. Esses 20% de área irrigada no mundo são responsáveis por 50% da produção mundial de alimentos. No Brasil ela chega a 8% do total e já é responsável por mais de 25% da produção de alimento no país.
Hoje, a agropecuária irrigada contribui fortemente na manutenção de preços acessíveis dos alimentos, pois permite a disponibilização deles durante todo o ano, evitando os picos de inflação. É por meio da irrigação que alimentos como o feijão conseguem ser plantados e colhidos até três vezes ao ano, por exemplo.
Durante a palestra, Lineu reforçou ainda a eficiência da irrigação, que é de 80 a 90%. Além disso, falou da utilização de painel solar na irrigação, que ele afirmou ter recomendado à pequena agricultura devido ao alto custo e frequentes problemas com energia elétrica.
Tipos de irrigação
Goiás possui uma das maiores áreas irrigadas do país, sendo o pivô central o sistema mais utilizado. Os pivôs apresentam eficiência média de 85%, chegando a 95% com manejo correto. “Muita gente pergunta o porquê de o pivô central, por exemplo, utilizar muita água. É muito claro, utiliza muita água porque irriga uma área muito grande, com eficiência”, disse.
Outro método que vem crescendo é o gotejo, que apresenta eficiência média de 95%, mas que não é indicado para qualquer cultura. Dessa forma percebemos que os equipamentos são eficientes, quando comparados, por exemplo, ao sistema de abastecimento público, que fechou 2014 com perdas de 37%.
Vazão autorizada para captação
Lineu também explicou que a água utilizada pelos produtores, para irrigar, é legal, outorgada pelo Estado e que, por isso, seu uso não pode ser demonizado como algo irregular. A vazão de água autorizada para captação na irrigação ou qualquer outro uso não é a vazão total do rio, e sim a vazão que pode ser outorgada, mediante autorização das autoridades responsáveis pela gestão da água e feita com base em estudos hídricos e ambientais. Essa gestão é responsável, para em caso de escassez, fazer cumprir a Lei 9.433/97, e priorizar o uso desse bem para o abastecimento público e a dessedentação animal.