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De Madagascar para o Cerrado

Assistido pelo Senar Goiás, por meio do Sindicato Rural de Cocalzinho de Goiás, o francês Daniel Briand promove o cultivo de baunilha no Cerrado

Com quase 30 anos, o Café Daniel Briand, que leva o nome do dono, faz sucesso pelas delícias francesas, em Brasília. Em muitas delas, a baunilha é essencial para a experiência de degustação que transporta muitas pessoas para a Europa, por meio do seu sabor delicado. Aqui, no Brasil, esse ingrediente é pouco produzido, sendo a maioria importado e o custo pode chegar até R$ 4 mil.

Em 2016, o francês Daniel Briand, que também é dono de um sítio no município de Cocalzinho de Goiás, plantou dois pés de baunilha. Três anos depois apareceram as primeiras favas. Ali, percebeu que a propriedade era favorável para o cultivo e então procurou um especialista na Bahia, onde já existe uma produção mais acentuada, para entender detalhes. Com a chegada da pandemia, em 2020, ele ficou seis meses no campo.

“Nesse período, eu estudei bastante, li bastante coisa, todas as matérias que você pode encontrar na internet. Aí eu comecei a me interessar, comecei a polinizar, mas não sabia polinizar direito. Comecei a curar, mas não sabia curar direito. Até que chegou o Saulo, técnico de Campo do Senar Goiás, e juntamente com meu funcionário Jubileux, que é o apelido do Junimarques Ribeiro, decidimos ampliar a produção e fazer o manejo adequado”, conta o produtor.

O técnico de campo do Senar Goiás, Saulo Araújo de Oliveira, tem o objetivo de contribuir para que o município de Cocalzinho de Goiás seja um grande produtor de baunilha. Viu no Sítio Jatobá uma grande oportunidade para difundir esse cultivo e repassar os resultados a outros produtores. “Quando nós chegamos aqui no sítio do Sr. Daniel, encontramos uma propriedade que tinha um cultivo amador, vamos dizer assim. Ele cultivava como se fosse um pergolado e isso dificultava muito o manejo. Então, a primeira coisa que a gente mudou foi a forma de conduzir as mudas, as plantas, no ambiente, porque aqui tudo é produzido em agrofloresta. A partir disso, a gente começou a individualizar essas plantas em estruturas tipo espaldeira. Tanto em plantas nativas, quanto em madeira, como mourões de cerca. Isso facilitou muito o manejo”, relembra Saulo.

O próximo passo foi trabalhar a adubação. “Depois de encontrarmos a maneira de conduzir as plantas adequadamente, estamos aprimorando o manejo para a próxima safra. Estamos fazendo adubação orgânica e usando os microrganismos eficientes que estão presentes na natureza, favorecendo o desenvolvimento deles também. Quanto à irrigação, a gente retira a água por algum período para estimular o florescimento dessas plantas, faz também poda de indução que vai ajudar essa planta a florescer mais do que ela floresceria naturalmente”, conta.

Após essa fase vem um momento decisivo e minucioso: a polinização. “Tem todo um ritual. A polinização é individual. Então a gente pega planta por planta, flor por flor. Cada flor só vai abrir uma vez, das 8 às 11 horas da manhã, mais ou menos, que é o período fértil dela. Nesse período, a gente tem que fazer a polinização. Se não fizer nesse dia, aquela flor vai ser abortada e não vai ter o fruto. Cada flor precisa gerar uma fava”, descreve.

Depois que as favas se formam, são cerca de nove meses para ficarem maduras, às vezes até mais um pouco. Na sequência estão processos físicos e químicos para que elas fiquem prontas para o consumo. Daniel Briand realiza a imersão em água quente e depois as coloca em uma caixa de isopor, envoltas em pano, para iniciar o processo da cura. Assim inicia-se a desidratação e a liberação de seus mais de 200 componentes. Nesse período, de cerca de seis meses, elas precisam ser massageadas manualmente. Em uma produção em grande escala, esse processo requer alguns avanços para ser mais eficiente. Em 2023, foram colhidas 1.600 favas. A colheita da safra 2024 ocorre entre os meses de maio e julho, com perspectiva de aumento na quantidade a ser colhida.

O produtor está animado. “Eu comprava baunilha na Europa há dez anos, era muito barato. Aí teve problemas na produção, especialmente com doenças em Madagascar, então subiu os preços. Tem especulação também. Como estava muito caro, eu comecei a baixar a quantia de baunilha que eu comprava e eu uso muito em sorvete, crème brûlée, essas coisas. Agora eu espero me tornar autossuficiente. Meu objetivo é usar para o meu trabalho. A baunilha que eu tenho aqui, a Vanilla planifolia de Madagascar, é bem rara por aqui. Tem um produtor na Bahia que cultiva, mas eu acho a produção uma coisa bem pessoal. Aqui temos o ‘negócio’ da natureza, a relação com as pessoas e, com ajuda do Saulo, do Jubileux e com nossa dedicação, a qualidade daqui vai ser melhor”, conclui descontraidamente animado.

Diferente de Daniel Briand, que cultiva para o consumo no café e confeitaria, a baunilha, considerada uma das especiarias mais caras do mundo, tem atraído pessoas que querem plantar para vender e ter uma nova fonte de renda. As favas dessa planta trepadeira, da família das orquídeas, são bastante procuradas não só pela gastronomia, mas também pelas indústrias de perfumes, cosméticos e farmacêutica. A maior produção se concentra na África, em Madagascar e nas Ilhas Maurício.

No Brasil, há variedades nativas da Mata Atlântica, Amazônia e no Cerrado. E a espécie Vanilla pompona tem se mostrado promissora para a produção comercial. Ela é encontrada nas Américas Central e do Sul. “O Sindicato Rural de Cocalzinho de Goiás tem um plano de transformar a região em um polo produtor de baunilha. Esse é um trabalho do Sindicato, junto com o Senar Goiás. Foi um presente a gente ter encontrado o Daniel, que já estava produzindo. Então, ele acabou inspirando outros. Fizemos visitas técnicas aqui com produtores. É um cultivo novo. Quem vê as plantas já na fase de produção, na fase final, se anima em produzir”, explica o técnico de campo do Senar Goiás, Saulo Araújo.

Depois de colhida, a baunilha perde cerca de 80% de umidade no processo de preparo das favas (cura). O que demanda um bom número de produtores para uma produção expressiva para venda. “Aqui, a nossa característica principal do município de Cocalzinho é ter os produtores da agricultura familiar. Como eles não têm uma quantidade suficiente de recursos para investir, nós pulverizamos a quantidade de produtores para ter um volume de produção suficiente para comercialização. A partir daí, estamos implantando a Cooperativa Agropecuária da Serra dos Pirineus (Cooaspi), que vai auxiliar nessa comercialização. E, também, criando uma casa da cura onde vai ser realizada esse pós-colheita das favas. É uma iniciativa pioneira para o Senar Goiás oferecer assistência nessa área. Acredito que é um cultivo inovador que está chegando no Brasil”, finaliza Saulo, otimista.

O francês Daniel Briand recomenda a Assistência Técnica e Gerencial do Senar Goiás (ATeG). “Eu vi que meu cultivo passou a ser de uma forma mais profissional, em especial na maneira de induzir a planta para produzir mais flores. Foi uma revolução aqui. É muito gratificante”, celebra.

Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag

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