Murillo Soares
Na manhã desta segunda-feira (9), a Comissão de Equideocultura da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), se reuniu na sede da instituição para discutir questões que permeiam a sanidade dos equídeos do estado, sobretudo no que diz respeito à responsabilidade dos criadores dos animais. Um dos principais pontos discutidos foi a questão do mormo. Até o ano passado, Goiás tinha o título de estado livre da doença, mas diante de tantos focos no estado e no país, a classificação já foi alterada para status de endêmico, conforme informado em reunião da Câmara Setorial do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Segundo o presidente da Comissão de Equideocultura da Faeg, Hélio Fábio, que também é representante da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) na Câmara Setorial do Mapa, 20 animais foram declarados como positivos no Hipódromo de Goiânia; oito casos foram confirmados em Silvânia e mais três em Hidrolândia.
Os dados são confirmados por Luana Batistella, coordenadora do programa de Sanidade de Equídeos da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). Segundo ela, foram oito focos em todo o estado. Destes, cinco estão em processo de saneamento, ou seja, com animais positivos aguardando confirmação, e três confirmados como positivos.
“O problema são as aglomerações”, ressalta Christiane Rossi, assessora técnica da Faeg para a área de Equideocultura. Ela explica que o mormo é contagioso e não tem cura, além de ser uma zoonose, ou seja, também pode ser transmitida para seres humanos. Sendo assim, se há um animal infectado em um grupo com vários, é bem possível que muitos deles também se contaminem e o problema se agrava.
No encontro desta segunda-feira (9), discutiu-se que, em exposições e competições, são exigidos diversos exames para a entrada dos animais, por isso, são ambientes controlados. Em eventos como cavalgadas, no entanto, o cuidado já não é o mesmo. “Durante as cavalgadas há pessoas com seus animais provenientes de vários lugares e as quais se inserem durante o trajeto. Isso geralmente ocorre, não havendo a emissão de GTA (Guia de Trânsito Animal) e nem os exames exigidos", pontuou Christiane.
A assessora ainda defende que atividades assim abrem espaço para a proliferação não apenas do mormo, mas também da Influenza e da Anemia Infecciosa Equina (AIE).
Diante disso, além de intensificar as informações aos produtores, através de material informativo elaborado pela Agrodefesa, foi tratado em reunião sobre a possibilidade de se determinar uma data para se aumentar a fiscalização por parte da entidade, nesses eventos.
Contenção
A assessora técnica da Faeg conta ainda que, constatado que o animal está doente, uma bateria de exames é feita em um espaçamento de datas, em laboratórios oficiais. Além disso a interdição do local é feita e protocolos com orientações são entregues aos proprietários que devem obedecê-los - como os cuidados com o manejo dos animais pelos tratadores com uso de EPIs, isolamento do animal, entre outros.
Após confirmado animal positivo conclusivo e providenciado o abate sanitário, ainda assim, é necessário mais tempo para se sanear o local. “Todo esse período interditado, gera prejuízo aos envolvidos. Mas é necessário atender a este rito, caso queiramos caminhar novamente para recuperar o status de livre, daqui há alguns anos”, comenta, Christiane Rossi. Luana explica que apenas dois laboratórios no Brasil fazem esses testes, um em Recife e outro em Belém, mas apenas o primeiro dá confirmação.
Assim que o mormo é constatado, o equídeo precisa ser sacrificado, o que leva muitos donos de animais a entrarem com ações judiciais. Pensando nisso, a Comissão da Faeg propôs criação de um Fundo de Indenização, que representaria mais uma ferramenta a contribuir para que os prejuízos sejam atenuados. Segundo Rossi, a criação desta poupança é primordial, pois a situação é emergencial e o abate, hoje, é a única solução. Entretanto, esbarra-se em alguns obstáculos. “O governo não pode arcar com isso, então não sabemos o valor da indenização, nem mesmo quem vai fornecem a quantia”, observa.
Sobre a análise da do mormo, a Comissão de Equideocultura espera com ansiedade a liberação do Laboratório de Análise e Diagnóstico Veterinário da Agrodefesa (Labvet) para a realização de exames da doença, já que assim, os resultados chegarão aos proprietários mais rápido. Luana afirma que uma auditoria já foi feita no laboratório e que ele aguarda apenas uma ISO do Inmetro, além de uma confirmação do Ministério da Agricultura. O processo todo deverá ser finalizado apenas no ano que vem.
A base de tudo
Outro ponto discutido pela Comissão de Equideocultura foi o cadastramento dos animais. Até o ano passado, só se tinha registro dos equídeos cujos proprietários eram também donos de estabelecimento rural, através da Inscrição Estadual. Foi quando a Faeg entrou em contato com a Agrodefesa e a Secretaria da Fazenda (Sefaz) para defender a inclusão, via CPF, daqueles que têm apenas o animal em um haras de terceiros ou em área urbana.
“Essa é a base de tudo. Para termos mais controle, não apenas das questões sanitárias, precisamos saber quem somos e onde estamos”, constata Christiane. Além disso, ela também sublinha que é primordial que se solicite o Cartão do Produtor, outro ponto discutido na reunião. De acordo com Rossi, isso facilitará a vida do proprietário dando outras opções de emissão e controle das GTAs, além de ter acesso ao saldo de seu rebanho. “O cartão vem com um login e senha, usados para que o próprio produtor possa gerar sua GTA”, explica. Essa guia também é uma forma de rastreabilidade, pois se sabe a origem e o destino da movimentação do animal e, para fins sanitários, isso é básico.
Ela conclui reafirmando a importância deste controle: “mesmo que eu esteja comercializando um animal para meu vizinho de cerca, devo emitir uma GTA, observando também a emissão da Nota Fiscal, em toda comercialização evitando problemas futuros com fiscalizações por parte da Sefaz”.
Goiás Estado Equestre
Goiás, hoje, tem o 3º maior rebanho de gado do Brasil e 4º maior de equídeos do país, demonstrando uma relação de interação entre estas. Segundo Hélio, “não há gado sem cavalo”. Por isso, a Comissão também quer propor um projeto e enviá-lo à Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) para que o Estado ganhe o título de Estado Equestre. “Isso nos daria o privilégio de trabalhar junto à Secretaria de Cultura, Turismo e de Esportes”, conta.
O representante da CNA comentou também sobre as atividades ligadas a equídeos que já são amplamente divulgadas por todo o estado. “Temos muita Equoterapia, muito difundida nos municípios, além de saltos, cavalgadas e corridas”, finaliza.