A ausência de conectividade digital e carência na assistência técnica aos pequenos produtores são os principais entraves para a consolidação da agricultura de precisão no Brasil. Apesar de as propriedades familiares serem maioria no setor, a falta de estrutura dificulta o crescimento da produtividade. Esta foi uma das conclusões dos especialistas que integraram a terceira mesa de debates do seminário Inovação no Brasil: Centro-Oeste, promovido pelo jornal Folha de São Paulo, na segunda-feira, 12 de março.
A agricultura de precisão é a tradução de informações que contribuem para a redução do uso de insumos, para aumento de produtividade e para uma maior renda aos produtores, explicou Luis Henrique Bassoi, pesquisador da Embrapa Instrumentação. “É uma forma de gestão de uma área agrícola que leva em consideração a variação de fatores em um determinado sistema de produção no espaço e tempo. Possibilita analisar e tomar decisões de um modo diferenciado”, disse.
José Mário Schreiner presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), afirmou que a união entre as esferas políticas e entidades de pesquisa é fundamental para a inclusão da produção familiar na agricultura de precisão. “Temos muita tecnologia no agronegócio, mas isso não consegue chegar nas propriedades rurais, principalmente àquelas de menor porte”.
Início nos anos 1990
A agricultura de precisão foi introduzida no Brasil nos anos 1990, com a chegada dos primeiros tratores com sistema de GPS. Nas últimas décadas, o sistema evoluiu para outras frentes de trabalho, incluindo plantadeiras, colheitadeiras e pulverizadores pré-programados de acordo com as condições da área. Schreiner afirmou que a automatização do trabalho rural reflete no protagonismo do Brasil como produtor mundial de alimento.
Além da mudança na produtividade, a agricultura de precisão também atraiu profissionais e especialistas de outras áreas ao agronegócio, segundo Bassoi. O aumento nos investimentos na área elevará o setor ao o que o especialista chama de “fazendas inteligentes”.
“Precisamos ter essa transmissão de dados de maneira mais eficiente. A partir disso, teremos práticas diferenciadas do tratamento de solo, água, controle de plantas invasoras, controle de pragas e doenças”.
Políticas públicas diferenciadas
Apesar de ser majoritariamente presente em lavouras de grande escala, os especialistas ressaltam que o emprego da agricultura de precisão é acessível para todos os tipos de produção. “O procedimento é passível de utilização em qualquer sistema de produção e em escalas diferentes”, disse Bassoi.
Para Schreiner, a diferenciação deve ser nas ações do poder público para a inclusão de todos. “Todos nós somos produtores. Não existe essa diferença, o que devem existir são políticas públicas para chegar a esses produtores menores e cadeias menos favorecidas”.
Benefícios ambientais
A análise de áreas que precisam de maiores combativos contra pragas, resultando na redução do uso de defensivos agrícolas, também foi enfatizada pelos especialistas como benefício da agricultura de precisão. Segundo o presidente da Faeg, a economia chega a 80% em determinadas situações.
A seleção de áreas para irrigação também foi apontada como outra contribuição para preservação ambiental. “A irrigação é o maior elemento da agricultura de precisão, porque consigo controlar exatamente a minha umidade do solo, assim como eu desejo ou preciso”, afirmou Pontes.
Texto: Folha de S. Paulo
Foto: Fredox Carvalho