A diplomacia que falha, o agro que paga

Por José Mário Schreiner
Presidente do Sistema Faeg/Senar/Ifag, presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Goiás e 1º vice-presidente da CNA

Nos últimos dias, fomos surpreendidos pela declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao anunciar a proposta de uma taxação de 50% sobre as importações brasileiras. Trata-se de uma medida que, além de arbitrária, fere o espírito de cooperação histórica entre os dois países. Mas não é apenas sobre o gesto de Trump que precisamos refletir. O que está em jogo é a fragilidade da atual diplomacia brasileira, que se distancia do diálogo equilibrado e coloca em risco setores inteiros da nossa economia, especialmente o produtor rural.

Infelizmente, o Brasil tem flertado com a ineficiência diplomática em diversos momentos recentes. A defesa da desdolarização do comércio internacional, os alinhamentos ideológicos instáveis dentro do bloco dos BRICS e o afastamento de parceiros estratégicos colocaram o país em rota de colisão com potências econômicas, e os impactos disso já começam a ser sentidos.

A agricultura e a pecuária brasileiras podem se tornar os primeiros alvos práticos dessa instabilidade. Goiás, por exemplo, é fortemente exportador e depende de relações comerciais sólidas e previsíveis. Quando o governo não assegura um ambiente de confiança internacional, quem sofre é o setor produtivo, que se vê diante de barreiras comerciais, incertezas cambiais e desvantagens competitivas. Cada mercado fechado por falta de diálogo é uma porta trancada para o agro. A gestão da ex-ministra Tereza Cristina, por exemplo, mostrou como uma diplomacia técnica e respeitada internacionalmente pode abrir mercados, garantir sanidade, proteger a imagem do Brasil e evitar prejuízos mesmo em cenários adversos.

Ao propor tarifas sobre produtos brasileiros, Trump se vale de um argumento fácil: a falta de firmeza e previsibilidade na condução da política externa do Brasil. Não se trata apenas de retórica eleitoral ou de uma bravata política, é o reflexo da ausência de uma diplomacia ativa, técnica e estratégica. É justamente nesses momentos que os governos devem agir com prontidão, acionando canais de diálogo e defendendo o produtor nacional com argumentos sólidos e posicionamento firme, e não com hesitações ideológicas.

É preciso lembrar que mais de 90% das empresas brasileiras são micro e pequenas, e grande parte delas está no campo. O agro não pode pagar a conta de uma geopolítica mal conduzida. Nossa economia não pode ser refém de narrativas desconectadas da realidade de quem produz, emprega e movimenta o país.

O Brasil precisa urgentemente de uma diplomacia pragmática, previsível e leal ao interesse nacional. O setor agropecuário, que tanto contribui para o crescimento do país e para a segurança alimentar mundial, exige respeito, representação técnica e segurança jurídica em seus mercados externos.

De nossa parte, seguimos vigilantes. O que está em jogo não é apenas uma tarifa: é o futuro da competitividade brasileira no cenário global.

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