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Festa de sabores que dura o ano todo

Senar Goiás tem ajudado produtores, sobretudo na produção que abastece as cozinhas que produzem as comidas e bebidas típicas



Junho e julho são é marcados pela alegria das músicas e comidas típicas e serve de tema para muitas comemorações. Números de um levantamento feito pelo Ministério do Turismo, com informações das Secretarias Estaduais e Municipais de Turismo, e divulgado na segunda quinzena do mês apontam que mais de 21,6 milhões de pessoas devem curtir os tradicionais festejos pelo Brasil. A representatividade desta que é considerada a segunda maior festa do país, perdendo apenas para o Carnaval, foi confirmada com a aprovação do Senado e posterior sancionamento pela Presidência da República da Lei nº 14.900, de 21 de junho de 2024, que reconhece as quadrilhas juninas como manifestação da cultura nacional.

Em todos os anos, a criatividade do povo brasileiro faz nascer novos sabores nessa mistura. Em Goiânia, por exemplo, duas paixões se uniram e vem fazendo a alegria de muita gente: pastel e pamonha. O prato nasceu da curiosidade de uma família proprietária de uma pastelaria na capital.

Há dois anos e meio no mercado, o Quintal da Zi começou como delivery na pandemia, tendo a família se unido para comercializar pastéis. De lá para cá, o quintal da casa literalmente ganhou vida reunindo todas as noites pessoas para rodadas de pastéis com sabores diferentes. Entre os sabores, o de carne seca e costela com tomate e muçarela têm a preferência do público, inclusive com os molhos produzidos em um fogão a lenha. No entanto, uma combinação bem inusitada fez o movimento aumentar, inclusive com o registro de clientes que andam longe para conhecer a mais nova iguaria do cardápio. Quem afirma é Jennifer Moraes Silva, filha da proprietária. “Meu irmão e a mãe são sócios na pastelaria e apaixonados por pamonha. Em uma tarde em casa, o irmão chegou com uma pamonha e utilizou para rechear um pastel. Acabou que todo mundo aprovou, achou uma delícia e eles aproveitaram a época junina pra poder lançar e ver como seria a aceitação dele”, conta Jennifer. O local ganhou destaque na imprensa, com a criação do prato como edição especial para período junino, e que agora tem tudo para permanecer no cardápio. “Até o momento, a aceitação dele foi de 100%. Temos uma amiga da igreja que produz pamonha há mais de 15 anos. Como conhecíamos a procedência e que é extremamente saborosa também, passou a nos fornecer a pamonha pronta e recheamos os pastéis. Hoje, 40% das nossas vendas estão revertidas no pastel de pamonha nesses últimos dias. Todo mundo diz que deveria ficar no cardápio e não retirar mais. Estamos pensando na sugestão”, conta animada a empresária.

Para a pamonha: milho verde

Apesar das festas juninas serem reconhecidas pela sua grandiosidade na região Nordeste do País, na região Centro-Oeste a ligação com o agro garante um cardápio repleto de comidas típicas. Em Goiás, pode se dizer que é junho o ano todo, pelo amor que o povo tem pelos pratos tradicionais para a época. Várias comidas típicas foram incorporadas ao dia a dia das pessoas, como é o caso da pamonha. A mistura que tem como base o milho verde ganhou até um dia no ano para ser celebrada. Em dezembro de 2022, o prato foi declarado patrimônio cultural imaterial goiano pelo governador Ronaldo Caiado. Essa decisão reflete a relevância histórica e social da pamonha, que tem suas raízes na cultura indígena e foi influenciada pela culinária portuguesa. O amor é traduzido em números bem expressivos pois, atualmente, Goiás conta com mais de 11 mil pamonharias, sendo que só a capital do estado abriga cerca de 3.175 desses estabelecimentos.

Para dar conta da demanda que aumenta nessa época do ano, produtores rurais do Estado investem na produção do milho verde o ano todo, em rotatividade com outras culturas e a divisão por talhões plantados em ciclos. Além disso, a utilização da irrigação garante o produto o ano todo.

Itaberaí, cidade localizada a 100 quilômetros de Goiânia, tem papel importante nesta cultura, já que ocupou há alguns anos o primeiro lugar na produção no Estado. “Itaberaí hoje é o quarto maior produtor de milho verde do Estado, atrás de Anápolis, Palmeiras de Goiás e Cristalina. Tivemos, há três anos, problemas com a questão de doença e outras variedades não se adaptaram em todas as áreas. Mesmo assim ainda temos representação do município pois conciliamos o milho com feijão, fazemos o revezamento de talhões e a irrigação em períodos mais secos para conseguirmos produzir o ano todo”, explica Marciel Reis da Costa Chaves, presidente do Sindicato Rural de Itaberaí.

Vem deste município o milho que abastece a panificadora da empresária Maria Luzia Nunes, em Goiânia. O cardápio oferecido pelo estabelecimento nessa época inclui pipoca, caldos e cocadas, mas os bolos de pamonha à moda e o bolo de pamonha doce são os carros chefes. Demanda que requer mais gente para dar conta de todos os pedidos, uma vez que, segundo ela, em 2024 registrou aumento de 60% nas vendas. “Este ano tive que contratar mais quatro pessoas para conseguir atender os consumidores que compram no balcão e as empresas que também procuram muitos produtos para as festas temáticas nessa época. Mesmo a matéria prima vinda de longe, prefiro investir por conhecer a qualidade do produto e ter certeza que não vai faltar, pois até meados do dia 15 de julho ainda temos muita procura pelos pratos típicos das festas juninas”, comemora a empresária.

Impossível imaginar todo esse movimento na economia do País com os festejos juninos sem a participação do que é produzido no campo. O produtor rural Coriolando Inácio Carneiro Neto, da Chácara Novo Tempo, em Ipameri, comemora esses bons ventos desta época, oportunidade de melhorar os ganhos com a venda do milho verde. “Eu já me programo para o milho estar pronto nessa época. Só conseguimos isso com a irrigação, e tem a vantagem de já ter tudo vendido antes mesmo de plantar. O preço do produto melhora nessa época, sem muita oferta, com melhor preço. Hoje, deve estar R$ 1.200 por tonelada; em outras épocas do ano, quando tem oferta, pagam até R$ 500 por tonelada na nossa região. Ao longo do ano, faço três ciclos da cultura e agora, neste mês, já plantei novamente milho verde que vai para pamonharias em Goiás.”

O produtor é assistido pelo Senar Goiás desde março de 2021. A técnica de Campo, Paula Regina, afirma que para lidar com as pragas, como a cigarrinha do milho, que vem sendo problema para quem produz a cultura no estado, a rotação de cultura foi uma das estratégias adotadas. “Para o controle de pragas recomendo o cuidado com solo. Essa orientação que passo para o produtor é importante, o que tem apresentado resultados bem positivos nos oito hectares que ele produz. Na rotação de culturas, optamos pela produção de abóbora cabotiá, no qual ele plantou da última vez uma abóbora que chama sergipana. Essas são orientações que a gente fornece ao produtor para não empobrecer o solo, além de outros manejos para mantermos uma matéria orgânica melhor no solo”, explica.

Demanda por diversos segmentos

As festas temáticas também alavancam a demanda por produtos típicos, onde empresas aproveitam para investir e receberem seus convidados com a alegria das cores na decoração. Um exemplo é a Record Goiás que promoveu, recentemente, uma comemoração pelo Dia do Mídia e o tema escolhido foi o Arraiá. A temática agradou os cerca de 300 convidados com muita música, decoração e comidas da época. “O evento reuniu o mercado publicitário, clientes e empresas parceiras. A escolha do tema foi por conta do período e a gente quis entrar no clima o que teve grande aceitação e fez com que recebêssemos muitos elogios”, celebra Michelly Bruna, do departamento de Marketing da TV.

Pensando que a produção no campo pode ser também oportunidade para aumento nas receitas com as delícias culinárias, o Senar Goiás aproveita a época para ensinar como processar o milho verde e seus derivados em receitas deliciosas. No mês de junho, moradoras de Joanápolis, distrito de Anápolis, participaram de curso e serviram seus produtos para os visitantes do 10º Festival do Milho. “O curso ensina a trabalhar o milho verde e seus derivados, como torta salgada de milho com linguiça de frango, bolo de fubá com coco e queijo ralado, bolo de fubá com erva doce, broa salgada, curau de milho verde e canjica de amendoim. A nossa intenção é que, além de saber aproveitar o que produzem no campo, isso se torne até uma nova fonte de renda para a família”, enfatiza o instrutor do curso, Cristiano Ferreira.

Como nesses festejos não pode faltar o tradicional quentão para esquentar as noites frias e animar os festeiros para dançar um forró pé de serra, Goiás também produz cachaça que ajuda nesse tempero. O instrutor Antônio Pereira percorre todo estado ministrando o curso de produção artesanal de cachaça, pelo Senar Goiás, e conta que a procura pelo curso cresceu muito esse ano e que é um produto que se faz com paciência e boa matéria prima. “O preparo de uma fermentação é um pouco demorado. Eu posso gastar até 15 dias para desenvolver 100%. Basicamente uso farelo de milho e caldo de cana-de-açúcar. Agora está muito bom de treinamento, normalmente eram um, dois, até três por mês, mas esse ano está diferente, está derramando treinamento!”, celebra Antônio.

Para participar do curso, os grupos devem ter no mínimo 8 participantes e máximo de 14, e segundo o instrutor são grupos com públicos bem diferentes que querem aprender mais sobre a produção e até mesmo começar a vender a cachaça. Para ele, há mais de 20 anos como instrutor, o mais gratificante é poder ajudar a transformar o que o campo produz e as pessoas para quem repassa os ensinamentos. “Tudo isso é muito bom. Aprendi muito ensinando e ainda quero aprender mais ainda”, finaliza.


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