Produtores estão de olho em novos mercados e contam com apoio do Sistema Faeg e parceiros, como o Governo do Estado e o Sebrae Goiás, em programas e capacitações voltadas à comercialização internacional
Receber em dólar e cultivar um pomar tipo exportação. Este é o sonho de fruticultores goianos que estão investindo na profissionalização dos seus processos produtivos e na gestão de suas propriedades. O Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo e a produção nacional supera 44 milhões de toneladas por ano, segundo dados da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). De acordo com a entidade, apenas de janeiro a junho de 2020, mais de 399,8 mil toneladas de frutas cruzaram as fronteiras do Brasil e as exportações de frutas faturaram mais de US$ 312 milhões, só neste primeiro semestre.
Comparado ao mesmo período de 2019, o volume de embarques teve queda de 5%. No entanto, apesar da redução, algumas frutas apresentaram crescimento significativo como a laranja (132%), o abacaxi (97%) e o limão (12%). Conforme o presidente da Abrafrutas, Guilherme Coelho, o País está abrindo novos mercados e a previsão é que o faturamento chegue a US$ 1 bilhão em 2020. "Estamos na luta. Acabamos de aprovar os trâmites para exportar melão para a China e avançamos nas tratativas para vender limão para Estados Unidos e maçã para a Colômbia", destaca o executivo. Guilherme acrescenta que a associação está prospectando a inserção do abacate brasileiro no Japão, Chile e Estados Unidos, assim como enviar uva para a China e a Coreia do Sul. E, em breve, segundo ele, o melão nacional também deverá ser consumido na África do Sul, Filipinas e Vietnã.
Segundo o presidente da Comissão de Fruticultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), Edson Carlos da Silva, a exportação de frutas requer organização e planejamento mesmo antes do plantio. "Com organização é possível conhecer os trâmites e acessar países com melhor rentabilidade", explica. As regulamentações internacionais englobam, entre outros aspectos, o controle rígido dos prazos de entrega e o conhecimento dos pontos certos da colheita para alcançar o padrão de qualidade específico, exigido por cada importador, acrescenta o fruticultor. "O processo é burocrático e rentável. O produtor não deve ficar engessado ao mercado nacional", observa.
O mercado externo pode oferecer preços atrativos e já é um importante cliente para o agro goiano. De acordo com o sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro – o Comex Stat, do Ministério da Economia, do total de US$ 799,3 milhões em exportações no mês de julho no Estado, 79,6% foram do agro, o que equivale a US$ 636,3 milhões. No acumulado de janeiro a julho, o índice do agro alcança 81,1% das exportações totais, conforme levantamento da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), divulgado em 6 de agosto.
Segundo o secretário de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Carlos de Souza Lima Neto, os números de exportação do agronegócio, em Goiás, revelam a importância que o segmento exerce para movimentar a economia no Estado. "A cada nova divulgação mensal do Comex, percebemos que o agro domina as exportações goianas. No acumulado do ano, também superamos os 80% de tudo o que foi exportado por Goiás. Isso é reflexo do trabalho de fortalecimento da cadeia produtiva agropecuária no Estado, inclusive no período de pandemia da Covid-19”, destaca.
Para construir uma cultura exportadora junto com o setor produtivo, o Governo de Goiás, por meio das secretarias de Estado de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e da Seapa, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Goiás) e a Faeg criaram o Programa de Exportação Estruturada (PEE). Lançado em 2019, o programa visa melhorar o ambiente de negócios para exportação. Um dos três eixos principais da inciativa é o AgroExport, um plano de redirecionamento da produção rural, que objetiva preparar os empreendedores do campo para a cultura com maior valor agregado destinado à exportação.
De acordo com o diretor técnico do Sebrae Goiás, Wanderson Portugal Lemos, os produtos goianos têm boas oportunidades com possibilidade de exportação, porém falta escala e padronização para emplacar a produção no mercado externo. "Levamos o baru para uma exposição internacional na Alemanha. Apresentamos o sabor e os benefícios da nossa castanha. Sugerimos seu consumo como tira-gosto com o uísque. A aceitação foi surpreendente. Infelizmente, não tínhamos escala de produção para atender o primeiro volume de contêineres solicitado pelos compradores", exemplifica Wanderson.
Ele também relembra o sucesso dos doces goianos, do figo, do marmelo, além do mel e do açafrão em outras experiências capitaneadas pelo Sebrae em outros países estrangeiros. "O agronegócio goiano tem bastante potencial e este Programa é um esforço conjunto para articular novos caminhos para a exportação", resume o diretor. Wanderson Portugal recomenda ao pequeno produtor, interessado em exportar, a fazer o autodiagnóstico disponível no site do Sebrae. "Neste ambiente, ele vai visualizar rapidamente se está em condições de exportar e o que precisa fazer primeiramente para se preparar", indica. O diretor técnico do Sebrae Goiás aponta que os parceiros do AgroExport buscam alternativas para agregar valor às frutas. Recentemente, o superintendente de Produção Rural Sustentável da Seapa, Donalvam Maia, e outras autoridades estiveram em Uruana, por exemplo, para discutir a venda de melancia para outros países. Goiás é o quarto maior produtor nacional da fruta, com seis mil hectares de área plantada, e Uruana é a capital nacional da fruta. A produção do município alcança 150 mil toneladas por ano. A equipe do PEE visa estudar alternativas técnicas para expandir a participação da melancia de Uruana no mercado internacional, superando alguns entraves como a perecibilidade e o formato da fruta, que dificulta seu armazenamento em escala.
Logística, câmbio e capacitação
Conforme avalia o presidente da Comissão de Fruticultura da Faeg, Edson Carlos da Silva, Goiás tem uma localização estratégica, porém, precisa avançar em termos de volume, continuidade e padronização de frutas para acessar os novos mercados. Ele é sócio da Brava Agronegócios, empresa que, dentre outras atividades, beneficia e comercializa frutas produzidas na região de Cristalina. Em 2014, a Brava embarcou dez toneladas de abacate para o Chile. Edson avalia que a experiência mostrou que há uma demanda crescente por frutas frescas de clima temperado.
Com o câmbio favorável, ele aconselha os pequenos produtores que desejam investir no comércio exterior a conhecer bem as normativas internacionais e as etapas do processo de exportação. "O primeiro passo é entender que a atividade não é só plantar. É preciso fazer junto. Reunir outros produtores para ter maior volume, buscar investir na sustentabilidade e usar produtos de acordo com as recomendações técnicas", explica.
Além disso, capacitação é fundamental. "O Senar Goiás oferece vários treinamentos na fruticultura, que ajudam o produtor a ter mais eficiência na produção e a calcular o custo médio do quilo de fruta produzido e o valor mínimo de venda", destaca. Atualmente, ele investe na fruticultura consorciada, intercalando o plantio de goiaba e mamão. Sua propriedade possui treze hectares, local em que também cultiva uvas, atemóia e maçã.
Para a supervisora do programa de assistência técnica e gerencial (ATeG) do Senar Goiás, na cadeia de fruticultura e olericultura, Ana Paula Marquez, o principal entrave para expansão das exportações é a dificuldade dos produtores em contabilizar suas receitas e despesas corretamente, somada ao desconhecimento técnico das questões técnicas fitossanitárias. Ana Paula explica que o custo de produção não pode ser confundido com desembolso imediato. A operação deve incorporar a depreciação e o retorno do capital investido.
Nesse cenário, mais de 100 fruticultores estão sendo assistidos pelo Senar Goiás nos municípios de Inhumas, Nova Veneza, Caturaí, Anápolis, São Miguel do Passa Quatro e Itapuranga. Os grupos de produtores são orientados por técnicos do Senar Goiás a como alcançarem maior eficiência na gestão e ampliarem o emprego de novas tecnologias que compõem a fruticultura tecnificada. A supervisora da ATeG afirma que os fruticultores aprendem melhores práticas de manejo e adubação, além de medidas sanitárias adotadas para evitar a propagação de pragas como a mosca-das-frutas, por meio de manejo integrado de pragas (MIP) e métodos de controle biológico. Ela também recomenda que o produtor que deseja exportar faça os treinamentos de fruticultura e de operação de sistemas de irrigação por gotejamento oferecidos pelo Senar Goiás.
Hoje, na Ceasa. No futuro, no exterior
O fruticultor João José de Souza cultiva mamão desde 2006, na Fazenda Laranjal 2, localizada no município de Itapuranga. A fazenda conta com 25 mil pés da fruta, que agora são distribuídos em duas variedades: papaya e formosa. João recebe assistência técnica do Senar Goiás desde 2017 e aponta que as dicas e a experiência que o técnico repassa têm sido decisivas para que ele introduza novas tecnologias na sua plantação. "Nossa meta é atingir 100% do potencial da planta, vendendo toda a produção sem danificar os frutos pós-colheita", resume.
Há oito anos, ele representa a Cooperativa de Agricultura Familiar de Itapuranga (Cooperafi) e administra um box nas Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa Goiás), em Goiânia, cedido pelo órgão à Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Goiás (Fetaeg), com objetivo de fomentar a agricultura familiar. Para o fruticultor de Itapuranga, o ponto na Ceasa é uma referência que exige qualidade e, principalmente, a padronização de sabor e tamanho das frutas. Ele ressalta que tem conseguido agregar valor à sua produção, continuamente, a partir das orientações do técnico de campo do Senar Goiás, Jonas dos Santos Souza.
Na opinião do técnico de campo do Senar, Jonas do Santos, o produtor já está trilhando os caminhos do mercado externo. "Fazendo alguns ajustes na lavoura, em breve, ele estará pronto para exportar", afirma. Segundo o técnico de campo, a meta de caixa é obter 50 quilos de produção por planta, o que equivale a 2 a 2,5 caixas por pé. "Toda a produção é colhida manualmente e embalada rigorosamente de forma padronizada para evitar que a fruta sofra avarias no deslocamento até Goiânia", acrescenta.
Os especialistas aconselham os produtores que desejam ter um pomar tipo exportação a buscarem produzir em grande quantidade e com qualidade, entendendo o perfil dos consumidores e suas necessidades, além de adotarem medidas para realizar a distribuição e redução excessiva de perda de frutas na lavoura.
A coordenadora de formação profissional rural do Senar Goiás, Samantha Andrade Alexandrino, explica que a instituição acredita no potencial da fruticultura goiana e acaba de lançar o treinamento "Comercialização interna e exportação de hortifrúti". O objetivo é capacitar os produtores da atividade que visam expandir suas opções de negociações, acessando mercados externos para geração de ganhos em moeda estrangeira, como dólar. "Vem para explanar sobre a qualidade exigida pelo consumidor brasileiro e estrangeiro. O treinamento ensina como vender para outros estados e países. E, se for uma agroindústria, como a mesma tem que se portar, com foco no produtor que vende insumos ou produtos de horta ou fruta”, aponta a coordenadora.
Comunicação Sistema Faeg/Senar