O extrato nacional do crédito rural contratado para safra 2020/2021, entre julho do ano passado a fevereiro deste ano, em âmbito nacional, demonstra que R$ 147,5 bilhões (62,45%) dos R$ 236,3 bilhões disponibilizados pelo Governo Federal no Plano Agrícola Pecuário (PAP), conhecido como Plano Safra, têm conta-destino cadastrada. O valor solicitado é 18% superior ao mesmo período da safra anterior. O bom desempenho das contratações tem como destaque os financiamentos pactuados pela categoria formada por produtores de maior porte e cooperativas. Este grupo pleiteou R$ 104,7 bilhões, o que equivale a 62% do crédito total de custeio e 74% do crédito de investimento contratados até 1° de março. O ticket médio das operações demandadas pela categoria subiu 16%, enquanto o número de contratos reduziu 22%.
As informações fazem parte do Balanço de Financiamento Agropecuário da Safra 2020/2021, divulgado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no dia 04 de março, com dados do Banco Central. O levantamento aponta como destino das aplicações: investimentos - R$ 47,33 bilhões (41% do total geral de crédito demandado), custeio - R$ 78,64 bilhões (14%), industrialização - R$ 8,24 bilhões (1%) e R$ 13,34 bilhões (-3%) para comercialização. Para os analistas do Mapa, a redução na linha de comercialização é explicada, principalmente, pela elevação dos preços agrícolas, que torna desnecessária a formação de estoques.
Mais investimentos
Os consultores afirmam que o panorama atual dos financiamentos reflete a confiança dos agentes de crédito e dos produtores rurais neste ano-safra, além de ser a principal alternativa para dar capital ao homem do campo para investir em pacotes tecnológicos avançados e cobrir a elevação nos custos de produção. O superintendente do Banco do Brasil, Gustavo Henriques, diz que os dados apontam que, mesmo em meio à pandemia da Covid-19, o agronegócio continua aquecido e crescendo cada vez mais. “Em função disso, o produtor rural está investindo em tecnologia e na modernização de sua propriedade”, afirma. Enquanto na categoria dos grandes produtores e cooperativas os valores para investimentos alcançaram mais de R$ 49 bilhões (crescimento de 16% no comparativo com mesmo período na safra anterior), no âmbito do Pronaf, foram contratados R$ 10,23 bilhões e R$ 1,88 bilhão ao amparo do Pronamp, crescimento de 8% e 3%, respectivamente.
Em relação aos financiamentos realizados no âmbito dos programas de investimento, com recursos da fonte BNDES, administrados pelo Mapa, os programas que se destacaram, pelo valor contratado e respectivo aumento, foram o Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeiras (Moderfrota) com R$ 7 bilhões (33%); o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica na Produção Agropecuária (Inovagro) com R$ 1,56 bilhão (29%); o Programa de Construção e Ampliação de Armazéns (PCA) com R$ 1,66 bilhão (60%); e o Programa de Incentivo à Irrigação e à Produção em Ambiente Protegido (Moderinfra) com R$ 714 milhões (106%).
Segundo analistas de crédito rural, essa demanda por mais investimentos retrata o crescimento do agronegócio nacional, cuja superação foi confirmada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dados do órgão indicam que o agro apresentou 2% de crescimento no Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, sendo o único dos três grandes setores da economia ( os outros são serviços e indústria) que teve saldo positivo no período. Na análise da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) este desempenho do campo evitou uma queda mais acentuada do PIB total do País em 2020 (-4,1%), em um ano atípico em função dos efeitos adversos da pandemia e do impacto que a desvalorização cambial impôs aos custos de produção.
Na opinião de economistas da CNA, o cenário macroeconômico deixa claro que o agro, além de essencial à segurança alimentar, continuará contribuindo significativamente com a geração de emprego e renda no País. Uma das provas do peso do protagonismo do campo no contexto econômico é a expansão do número de agências bancárias e canais especializados no atendimento ao produtor rural.
Na opinião do presidente do Sistema Faeg Senar, deputado federal Zé Mário Schreiner, o acesso aos recursos disponibilizado pelo Plano Safra melhorou. “Hoje, o que os produtores mais questionam é a burocracia dos agentes financeiros em disponibilizar o crédito. Tal burocracia diz respeito tanto ao grande número de documentos solicitados como também à necessidade de aquisição de produtos bancários como contrapartida para disponibilizar os recursos”, avalia Zé Mário. Ele destaca as iniciativas do Sistema Faeg Senar no combate à prática da venda casada.
Bancos confirmam aumento na procura e na oferta de crédito rural
Líder no mercado de financiamentos destinados ao agro, o Banco do Brasil disponibilizou R$ 103 bilhões para safra 2020/2021, sendo R$ 92,7 bilhões (crédito rural) e R$ 10,3 bilhões (empresas do agronegócio). O volume representa crescimento de 11,4% em relação à safra 2019/2020 (R$ 92,5 bilhões). Em novembro de 2020, o banco liberou mais R$ 1 bilhão para atender seus clientes (produtores rurais) no financiamento de máquinas, equipamentos agropecuários e armazenagem. Em fevereiro de 2021, um novo montante (+ R$ 1 bilhão) foi aportado para operações de investimento. O Banco informa que, até fevereiro deste ano, financiou R$ 58,8 bilhões {o valor é 14% superior aos R$ 51,7 bilhões registrados no mesmo período da safra anterior}.
De acordo com a diretoria de agronegócios, as operações de custeio ocupam o topo da procura, com R$ 22,7 bilhões. “O crescimento com sustentabilidade é um dos principais focos. Ampliamos os financiamentos para energia renovável no campo por meio de linhas de crédito e convênios com empresas. Financiamos implantação de usinas geradoras de energias renováveis (biomassa, eólica e energia solar), contribuindo com a redução do custo de produção, autossuficiência na geração de energia, produção e utilização de energia limpa, transferência de tecnologia ao campo, manutenção da renda e ampliação do apoio ao setor agropecuário”, reforçam.
Com oito anos de atuação no crédito rural, a Caixa Econômica Federal (CEF) afirma que possui uma carteira em evolução. Só em 2020, entre julho e dezembro, houve um crescimento de 33% no volume de recursos emprestados em operações de crédito rural, se comparado ao mesmo período do ano agrícola 2019/2020. A Caixa lançou também, no início do ano agrícola 2020/2021, a linha de crédito de custeio Pronaf, destinada ao financiamento da aquisição de insumos e pagamento de serviços, cujo público-alvo são os agricultores familiares enquadrados no Pronaf. Demonstrando a relevância do setor para a CEF, em janeiro foi concedido volume de recursos superior a R$ 400 milhões, o que representa mais de 350% comparado a janeiro de 2020.
O gerente de agronegócios do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Raphael Santana, informa que até o momento foram liberados R$ 9,9 bilhões. “A meta é atender 100% da demanda dos associados para esta safra, com crédito rural na ordem de R$ 17 bilhões. Hoje, o valor já emprestado no País é 25% superior ao mesmo período da safra 19/20”, indica Raphael. Valores referentes a 82,3% dos recursos foram disponibilizados para investimentos. No total, o Sicoob celebrou 67.391 contratos.
Produtor aplica financiamento em tecnologia
Para o produtor e presidente do Sindicato Rural de Piracanjuba, Gustavo Elias Filho, o banco é o primeiro parceiro. “Preciso trabalhar com banco para não envolver o meu lucro. O crédito bancário é a alavanca que impulsiona o produtor, pois sem crédito não há como prosseguir. E é claro que a instituição financeira pede uma garantia, então colocando meu patrimônio à disposição, como garantia, o banco me favorece com crédito a juros que dou conta de trabalhar no mercado e não preciso retirar capital para custear o giro dos negócios”, resume. Gustavo usa o valor financiado para pagar insumos à vista e ter desconto em outras operações durante a safra. “Somente quando o volume do crédito fornecido pelo banco não supre a necessidade, procuro as empresas para fazer algum tipo de troca”, acrescenta.
“Ter crédito é fundamental para que o produtor sobreviva no mercado. É uma via de mão-dupla: você para girar crédito precisa pagar em dia seus compromissos e a instituição precisa de liquidez”, observa. Gustavo produz soja, milho e sorgo, em Pirancajuba. Para a próxima safra, ele está dobrando a área plantada e financiou R$ 4 milhões no Banco do Brasil, via Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). Este montante foi usado para adquirir duas plantadeiras, tratores, colheitadeiras e autopropelido. Os equipamentos serão pagos em 10 anos, podendo ter dois de carência. Ele afirma que optou por esta linha porque diferente do financiamento particular, onde os juros são mais altos, pelo FCO há descontos quando há antecipação de parcelas. Para a próxima, está pleiteando mais de R$ 6 milhões para prosseguir os investimentos. Sobre as taxas, ele diz que os juros poderiam ter baixado mais em virtude das dificuldades impostas pela pandemia – mas, a expectativa é de bons negócios.
“O agro é uma porteira aberta para o futuro. Nós, produtores, precisamos de tecnologia e de novos maquinários para um mercado tão competitivo. Não podemos perder grãos prontos, não podemos perder tempo no plantio e nem na colheita, pois o tempo é precioso e o produtor precisa usar a tecnologia e o crédito ao seu favor”, destaca o presidente do Sindicato Rural de Piracanjuba.
No contexto nacional, dezenas de produtores, assim como Gustavo, buscaram adquirir equipamentos mais modernos. Em fevereiro, o mercado sinalizou o esgotamento dos recursos para o financiamento de máquinas. Diante deste cenário, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) encaminhou, ao Mapa, o pedido de um aporte de R$ 7 bilhões no atual Plano Safra. Além do reforço no Programa de Modernização da Frota de Tratores Agrícolas e Implementos Associados e Colheitadeira (Moderfrota), a entidade reivindicou mais R$ 3,8 bilhões para o Programa para a Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), R$ 800 milhões para o Inovagro e R$ 1,8 bilhão para o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Projeto de crédito e FCO
O gerente da Assistência Técnica e Gerencial do Senar Goiás, Guilherme Bizinoto, explica que o Instituto CNA fez um convênio nacional com o Banco do Brasil, válido para todo País. Por meio desta parceria, os técnicos de campo do Senar Goiás foram capacitados pelo banco e estão habilitados para elaborar projetos de custeio e investimento para crédito rural, principalmente no âmbito do Pronaf, para todos os produtores assistidos. Goiás foi o primeiro a beneficiar o produtor assistido com esta iniciativa. “Agradecemos o Sistema Faeg Senar pela parceria e celebração de convênio criado para facilitar o acesso ao crédito pelo pequeno produtor rural, com a assistência técnica de qualidade fornecida pelo Senar”, diz Gustavo Henriques, superintendente do Banco do Brasil.
Uma das formas de obter crédito rural é por meio do FCO Rural. Em 2021, a estimativa de orçamento do FCO é de R$ 1,98 bilhão, com R$ 992,5 milhões para o setor rural. Em 2020, o FCO disponibilizou R$ 2,48 bilhões em empréstimos em Goiás, além de R$ 538,8 milhões para a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride). O FCO é o fundo de crédito criado pela Constituição Federal, com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico e social da região Centro-Oeste, que atende empresas e produtores rurais que desejam iniciar, ampliar ou modernizar atividades produtivas, com longo prazo de pagamento e baixas taxas de juros.
Fique por dentro
Antes de procurar a instituição financeira para solicitar crédito, o produtor precisa ficar atento às exigências para concessão de crédito rural. As regras incluem:
. Avaliação da idoneidade do tomador;
. Apresentação de toda documentação exigida no cadastro, seja do produtor, do imóvel, dos intervenientes, que são o cônjuge, avalistas, etc;
. Apresentação de orçamento, plano ou projeto;
. Oportunidade, suficiência e adequação dos recursos.
. Ao agricultor familiar, inclui a apresentação da Declaração de Aptidão ao Pronaf – DAP.
As dicas são da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater), que elabora projetos de acesso ao crédito para os produtores nos moldes requeridos pelas instituições financeiras.
Mais informações sobre este serviço: (62) 3201 8118, creditorural.emater@goias.gov.br e www.emater.go.gov.br/wp/credito-rural.
Confira mais conteúdos como esse na Revista Campo do Sistema Faeg/Senar .
(https://sistemafaeg.com.br/faeg/revista-campo/revista-campo-marco-2021)