No meio rural, a mulher sempre trabalhou muito, mas como apoio. Agora, com ela assumindo também a linha de frente ou participando cada vez mais das decisões, o agronegócio tende a ganhar. A avaliação é de Samantha Andrade, coordenadora técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e responsável pelo programa Mulheres em Campo, implantado há cerca de dez anos.
O programa é voltado à qualificação das mulheres que atuam no meio rural. Para participar, basta formar um grupo de no mínimo 16 mulheres produtoras em um mesmo segmento e procurar o sindicato rural do município para que encaminhe a solicitação do curso ao Senar.
São contemplados cinco módulos para formação de mulheres que atuam em alguma frente do agronegócio: liderança, planejamento, empreendedorismo, desenvolvimento pessoal e indicadores de viabilidade e custos da produção. A próxima turma, informa Samantha, será de produtoras de soja em Ipameri, que vão participar do programa em fevereiro. "Tem de ser uma linha de atividade similar para poder tratar a mesma temática. Elas fazem inventário da fazenda, trocam ideias sobre dificuldades e soluções, verificam avanços", explica a coordenadora técnica do Senar.
Por ano, são de seis a dez turmas atendidas em áreas produtivas como artesanato (bordado, pintura), processamento de alimentos (conservas, geleias, doces), cadeia láctea e lavoura. Recentemente, passaram pela qualificação produtoras de leite na região de Anápolis, donas do negócio ou casadas com produtores rurais.
Na convivência com empreendedoras no campo, Samantha diz notar características como perfil observador e postura de muito zelo nas atividades, o que, comenta, é confirmado no feedback dado nas propriedades onde elas atuam. Também entre as trabalhadoras no campo, esse cuidado maior é notado. "Cito uma usina que visitei no ano passado, em Goianésia. Em 2018, eram só duas mulheres operadoras de máquinas de colheita de cana e passaram para 18 no ano passado. Demonstraram eficiência e têm procurado esse nicho, de operar maquinário pesado, antes exclusivo de homens, na colheita de soja, milho e cana."
Amor ao que faz
A expansão do trabalho feminino no campo e a presença cada vez maior de mulheres em funções de comando, buscando se profissionalizar e investindo em estudos, cursos e palestras, têm contribuído para que novas formas de gestão, com mais detalhes, anotações e uso de softwares, resultem em melhores decisões, observa Christiane Rossi, analista de pecuária do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag). Segundo ela, "são índices técnicos antes desconhecidos transformados em informações que sustentam a qualidade das ações a serem tomadas".
A analista do Ifag aponta alguns diferenciais femininos que favorecem atividades em que maior docilidade, cuidados, observação e paciência são necessários. "Também são percebidas habilidades em lidar com seus colaboradores, uma percepção maior do ser humano que está sob seu comando, de forma mais holística."
Para mulheres que empreendem no campo, a orientação da analista é que busquem cada vez mais se profissionalizar.
"A gestão é fundamental tanto dentro da propriedade com fora dela. Saber produzir com eficiência, respeitando as leis (trabalhistas, ambientais, sanitárias), otimizando os recursos, buscando a sustentabilidade no sentido mais completo da palavra, que inclui além do que já foi dito, o que fará perpetuar na atividade: renda", salienta.
Para alcançar bons resultados, diz ainda Christiane, além do trabalho interno, é importante focar na atuação fora da propriedade, conhecendo sobre mercado, formas cooperativistas de atuar e participação em instituições que poderão auxiliar no contínuo crescimento das atividades que desempenham. "Além do amor ao que faz, primeiro que deveria ser citado!"
Fonte: reportagem O Popular
Comunicação Sistema Faeg/Senar