Douglas Freitas, com informações do Mapa
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) lançou na última semana o Manual de Boas Práticas para o Bem-Estar Animal em Competições Equestres. O documento traz orientações gerais referentes ao cuidado em relação a conduta dos esportistas, a qualidade e situação das instalações, as regras de transporte dos animais, ao controle de uso de substâncias melhoradoras de desempenho (antidoping) e aos métodos de treinamento dos cavalos. Diante da divulgação, a assessora técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) para a área de pecuária de corte, Christiane Rossi, lembra que o documento não é direcionado não só aos organizadores de eventos, mas, também, aos produtores rurais e treinadores, os quais encontrarão informações de fácil acesso nesse mecanismo capaz de atender às demandas relacionadas ao bem-estar animal.
Elaborado pela Câmara Setorial de Equideocultura juntamente com a Comissão de Técnica Permanente de Bem-Estar Animal, ambas do Mapa, o guia busca apresentar e demonstrar possíveis soluções que envolvem o setor de eventos equestres. “Os principais desafios de bem-estar animal são decorrentes da falta de conhecimento científico e das melhores práticas para com os animais. Por isso, o primeiro passo é divulgar as boas práticas e capacitar as pessoas responsáveis para identificar e prevenir problemas”, informa a coordenadora de Bem-Estar Animal do Mapa, Lizie Buss.
O uso de equipamentos adequados, os cuidados para treinamento dos equinos e o regulamento nas competições estão entre os principais temas do manual. Além do mais, orienta sobre quais cuidados devem ser adotados em relação aos animais feridos em locais de competição, e quais as condutas proibidas no caso do transporte. A assessora técnica da Faeg, Christiane Rossi, destaca o uso do documento pelos organizadores de eventos. “Sabemos que eventos maiores ou mais profissionais já se atentam a tais questões, cujas são exigidas internacionalmente. Porém, os de menor porte acabam desconhecendo ou não se envolvendo, mas atualmente as exigências não estão escolhendo situações, pois cobra-se muito em relação aos cuidados com o animal e bem-estar. Essa é uma tentativa de eliminar aquilo que excede, pois sabe-se que pode haver, por exemplo, algum equipamento mal utilizado e o manual virá para demonstrar as maneiras mais coerentes de utilizá-lo, sem exageros. Então, com isso acaba-se por elevar o nível dos eventos, dando uma sustentabilidade maior a eles, mas de forma a respeitar os limites do animal”, explica Christiane Rossi.
Bem-estar animal em discussão
Em agosto, a Faeg realizou o 1º Seminário de Equideocultura, com o intuito de criar um espaço para discussões e aprofundamentos em relação às questões que envolvem o universo de equídeos. De saúde à situação econômica, o Seminário trouxe aos mais de 250 presentes uma ampla explanação sobre o setor que é destaque no Brasil. Com 7.487.657 cabeças, entre equinos, muares e asininos, o país se enquadra como o maior rebanho de equinos da América Latina e o terceiro a nível mundial.
Diretamente da Universidade do Cavalo, a médica veterinária Cláudia Sophia Leschonski, que também é uma das autoras do Manual de Boas Práticas para o Bem-Estar Animal em Competições Equestres, foi a responsável por discutir, justamente, o bem-estar dos equídeos. Com a palestra ‘Bem-Estar Animal: O que esperar do futuro’, a médica veterinária bateu de frente com parte do tradicionalismo aplicado ao trato com os animais, o qual se caracteriza, em alguns casos, por formas de lidar que acabam por prejudicar o cavalo.
Para Cláudia, questionar certos paradigmas se destaca como principal mecanismo de mudanças não só na área equídea, mas em diversos setores dos mais diversos ramos. Ela explica que gerar boas imagens sobre as formas de lidar com os animais é a bola da vez, afinal, a percepção que as pessoas de “fora do mercado” possuem sobre a temática vem se modificando rapidamente. “A palavra de ordem é qualidade e não quantidade”, pontua.
“A tradição pode ser muito boa à medida que remonta certos paradigmas valiosos existentes a pouco, mas em alguns pontos ela deve ser questionada.Por exemplo, quando alguém fala: esse cavalo deve usar esse freio, essa embocadura ou essa técnica antiga, porque meu pai e meu avô fizeram assim, eu respondo: você, hoje em dia, arranca dente no boticão sem anestesia? Ninguém vai querer, pois na hora do próprio dente, a escolha sempre será pelo melhor e mais moderno tratamento”, exemplifica Cláudia Leschonski.
Sem perder o foco sobre os principais desafios brasileiros em relação ao bem-estar dos equídeos, a palestrante fez questão de ressaltar que o Brasil pode, sim, se tornar um paraíso para a área de equideocultura. Tudo isso, pois possui características que são capazes de diferenciar a produção nacional da internacional. “O país possui área abundante e cavalos precisam disso, seja para ele se movimentar ou mesmo produzir os alimentos de seu consumo. Da mesma maneira que o país é uma das potências mundiais do boi verde, nós podemos ter um sistema de produção de equídeos de forma natural”, informa a médica veterinária.
*O manual já está disponível para download, para acessá-lo basta CLICAR AQUI.