Com a saca de 60 quilos da soja ultrapassando os R$ 70 em Goiás, 35% mais que no mesmo período do ano passado e com tendência de alta, os produtores devem se capitalizar mais para voltarem a investir, inclusive com a aquisição de máquinas e equipamentos. A quebra na safra argentina e o aumento da demanda interna e externa provocaram uma disparada dos prêmios no Porto de Paranaguá, onde o preço da saca já chegou a R$85.
Goiás deve colher cerca de 11,2 milhões de toneladas de grãos nesta safra, sendo que quase 70% já foram comercializados. O preço da soja disponível já ultrapassou os R$ 70 e o da soja futura já chega a RS 72. O analista técnico do Instituto para Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Cristiano Palavro, lembra que esta sempre foi uma época de preços mais baixos, por causa do início da colheita.
Os preços vêm subindo desde o início do ano. A soja de balcão já estava em R$ 69 esta semana, contra R$ 52 em abril de 2017. Segundo Cristiano, isso é reflexo de uma demanda aquecida nos mercados interno e externo, com a China comprando mais e o mercado interno em plena recuperação econômica.
Enquanto isso, a safra da Argentina, terceiro maior produtor mundial de soja e maior exportador de farelo, amarga quebra histórica. "Esta grande demanda encontrou uma oferta menor este ano", destaca.
A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos também está favorecendo o Brasil. Porém, ele explica que a alta por aqui só não foi maior porque o preço brasileiro é balizado pela Bolsa de Chicago, que foi afetada pelas retaliações chinesas às restrições de Donald Trump. Ao mesmo tempo, os prêmios nos portos brasileiros "explodiram" nos últimos dias, ajudando na formação dos preços atuais.
Investimentos
Com a safra atual e a passada sendo tão boas para a produção brasileira de soja, a tendência é que o produtor se capitalize. Cristiano Palavro prevê que essa maior capitalização e a queda dos juros no mercado provoque uma retomada dos investimentos no campo, que estavam parados. "O produtor ficou muito tempo sem investir, principalmente por causa da alta dos juros", lembra.
Por isso, segundo ele, o momento atual é propício para fazer investimentos, como renovação da frota e armazenagem. Um indício está na comercialização recorde de R$ 2,5 bilhões registrada durante a feira de tecnologias rurais Tecnoshow Comigo, realizada este mês, em Rio Verde.
O produtor de soja Joel Ragagnin, de Jatai, plantou 4 mil hectares de soja para esta safra que está sendo colhida. Ele conta que sua produtividade está em cerca de 57 sacas por hectare do grão e em tomo de 60% da produção já foram comercializados em trocas e venda direta para trades e a Cooperativa Comigo, ao preço médio de R$ 63 por saca de 60 quilos.
Agora, com os preços melhores, Joel pretende conseguir entre RS 71 e RS 72. Segundo ele, o dinheiro que entrará será usado como capital de giro, já que no banco ainda está muito caro. "Precisamos nos recapitalizar, depois de anos difíceis, e investir mais na produção, como em variedades melhores", conta.
Com a maior demanda pela soja brasileira, o analista do Ifag lembra que a margem também está melhor para a indústria de processamento e exportadores de grãos e farelo. A preocupação fica para o consumidor, pois o farelo de soja já subiu cerca de 30% desde o início do ano, o que deve afetar diretamente o custo de produção da pecuária, avicultura e suinocultura.
Texto: Lucia Monteiro
Foto: Larissa Melo