Foram mais de 50 receitas até chegar à bebida que desperta curiosidade e é pioneira em Goiás
Depois de passar pela charmosa casa de campo, cruzar um rego de água cristalina, o caminho leva para um pomar onde se encontra tranquilidade, sabores e inovação. Logo adiante, surgem fileiras bem cuidadas de goiabeiras que somam 400 pés. As plantas estão sendo trabalhadas para um sistema de escalonamento, que permite ter frutas o ano todo. Aqui começa a história de recomeço e empreendedorismo do produtor Elias Pinto de Macedo, proprietário do Sítio Recanto dos Pássaros, a 20 km de Vianópolis (GO).
Depois de trabalhar por 33 anos, na sua distribuidora de água mineral em Goiânia, o estresse da correria diária, a dificuldade de manter mão de obra e o desejo por uma vida mais leve o levaram de vez para a propriedade que antes era usada apenas para pássaros fins de semana. A escolha da goiaba veio por gosto pessoal. “É uma das frutas que mais gosto, e também pela possibilidade de gerar renda. Mas ciente que pra se destacar nesse cenário eu tinha que inovar. Aqui na região, a maioria das pessoas tem pé de goiaba em casa e não tem esse hábito de comprar. Por isso decidi ir além do tradicional.
A inspiração veio de longe. “Pesquisando, vi que nos Estados Unidos o pessoal usa muito essa ideia da fermentação das frutas. Foi com essa ideia dos americanos que eu fui aprimorando aqui, porque não existe receita, e se existe, a pessoa não passa”, conta.
Assim nasceu a ideia da água ardente de goiaba, um destilado artesanal que já despertou a curiosidade e o paladar de quem provou. A produção começa no pomar. “O primeiro passo é colher as goiabas bem maduras, né? Ela tem o maior teor de sacarose, ou seja, são mais doces. Nós as cozinhamos com água e açúcar. Isso vai sendo fermentado, depois de 15 ou 20 dias a gente joga pro alambique. Demora mais ou menos quatro ou cinco horas pra alambicar”, ensina Elias, revelando apenas parte da receita.
Mas não é tão simples quanto parece! Para chegar ao sabor atual foi preciso muita persistência. “Eu arrisco a dizer que já testei mais de 50 receitas. Eu acho que vou alambicar mais umas 30, 40…sou perfeccionista”, brinca.
E o que dizem os primeiros degustadores? “Todo mundo que experimenta, gosta. O produto em si é muito bom e minha intenção é vender para presentear. É um produto que não se acha fácil”, explica.
Além da água ardente, o produtor também fabrica vinho, licor e doces como compota e goiabada cascão. Tudo com apoio da esposa, Francisca Verdene Nóbrega Macedo, que também tem uma loja de produtos naturais em Vianópolis, um dos pontos de venda, junto com o perfil no Instagram: @santagoiabaartesanal.
O acompanhamento técnico do Senar Goiás foi fundamental no processo. “A assistência do Senar Goiás, começou com o técnico de Campo Raul me ajudando a melhorar o pomar. A assistência dele é 10. Pode ser final de semana, eu chamo ele e ele me atende. Tanto que eu troquei outras assistências e fiquei só com a do Senar”, ressalta Elias.
Raul Kardec de Sousa Silva, engenheiro agrônomo e técnico de campo do Senar Goiás, explica como a atuação foi estratégica desde o início. “A gente tinha dificuldade muito grande aqui em mão de obra. O produtor não morava aqui antigamente, então muitos serviços ficavam atrasados. Infelizmente, a safra passada a gente perdeu, porque ele não conseguiu fazer o controle de pragas e doenças. A adubação não foi realizada de forma correta. Agora está tudo diferente, vamos conseguir frutos maiores e com mais sabor.”
O produtor, com as orientações da assistência técnica está fazendo a adubação mais concentrada, voltada para enchimento de frutos. E tentando trabalhar de forma mais natural. “Quando a fruta tá quase no ponto, já não fazemos aplicação de defensivos, porque qualquer momento você pode vir aqui e pegar fruta do pé mesmo e comer”, detalha Raul.
O Senar Goiás, entrou pela segunda vez na propriedade agora com a parte da agroindústria. A orientação é feita pela técnica de campo Nayara Canedo Correia. “Eu vim para a propriedade com uma assistência casada com a fruticultura. Foi o Raul que me indicou, justamente pela necessidade de processar as frutas que não estavam tendo saída. O produtor precisava processar para armazenar por mais tempo e agregar valor”, explica.
A orientação técnica do Senar ajudou a moldar os produtos e a estrutura. “O principal objetivo do produtor é ter uma agroindústria regularizada para processar toda a matéria-prima. A gente iniciou com o alambique, no formato artesanal, mas vai ser construída uma estrutura adequada para os registros. Nós, como técnicos da agroindústria, orientamos todo esse processo junto ao Mapa e auxiliamos nas demandas que ele tem”, afirma Nayara.
Ela também destaca a qualidade de tudo que é produzido. Não é só mais uma goiabada, é uma goiabada com goiabas selecionadas, com redução de açúcar e um sabor mais acentuado da fruta. O mesmo vale pra compota, licor e vinho. E a aguardente também diferente, que não tem aqui no estado. Já é um produto inovador”, afirma.
E assim, da terra brotam não só as goiabas doces, mas também as ideias férteis de quem decidiu transformar uma fruta comum em um produto único. Mais do que uma bebida, sua água ardente é uma experiência engarrafada que merece um brinde a criatividade e a coragem de mudar. “A Santa Goiaba...tim tim”, comemora o produtor.
Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag