Murillo Soares
Confiante, com sorriso de orelha a orelha e bem orgulhoso do resultado que alcançou. Essa era a impressão que transparecia o senhor Manoel Dias Carneiro, proprietário da Fazenda Camarão 2, de Palmeiras de Goiás. Ele foi um dos produtores que participou do Programa Goiás Mais Leite e, no último sábado (9), mostrou seus resultados em um Dia de Campo promovido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e pela Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg).
Para as cerca de 600 pessoas que estavam presentes na propriedade, Manoel mostrou que saiu de uma produção diária de 4,8 litros por vaca – aproximadamente 110 litros por dia para 9,2 litros por animal e 146 litros no total –. “Houve um melhor aproveitamento da propriedade, que tinha áreas desgastadas, com grama e solo sem nutrientes, além de lugares com entulhos e desorganizados”, disse Athos Bonifácio, técnico do Programa Goiás Mais Leite do Senar Goiás.
Mais detalhadamente, explicou como foi feito o trabalho na propriedade, ressaltando que, embora os passos sejam os mesmos, não é o mesmo processo para todos os produtores. “Primeiro precisamos traçar qual é o perfil de cada um. Então, identificamos problemas em infraestrutura, organização, rebanho, bem-estar animal, uso – ou não – de tecnologia e pastagem”, contou. Segundo ele, avalia-se também se há assistência técnica e, no mínimo, contagem de receitas e despesas.
No caso da Fazenda Camarão 2, continuou Athos, havia problemas organizacionais e de bem-estar animal, além da falta de pastagem adequada. Depois de enumerados os problemas, passa-se para a solução. “É sempre bom ressaltar que nada é obrigado, e sim combinado. O produtor começa a trabalhar no que o técnico sugere se ele quiser”, sublinhou. Manoel acatou o que lhe foi pedido e, durante visitas mensais, alterou os pontos problemáticos de sua propriedade.
Na ponta do lápis, conforme mostrado nas estatísticas do Programa, houve aumento de 33% do valor total de leite por dia, redução de 25,4% de despesas, aumento de 11,4% do fluxo de caixa e uma redução de 32,5% das despesas. Ao longo de 2016, segundo Bonifácio, estão nos planos melhorar ainda mais os dados econômicos, além do aumento da produção e descarte dos animais com baixa lactação e desempenho.
Investimento que dá certo
Carlos Eduardo Freitas Carvalho, consultor técnico do Senar Goiás, bateu na tecla da qualidade do leite, um dos principais motes do Goiás Mais Leite. Conforme disse, o Brasil está entrando em um processo pelo qual passaram também diversos países produtores lácteos, como Austrália e Estados Unidos: queda no número de animais de pecuária leiteira. “À medida que a quantidade de vacas caiu nestes países, os litros de leite produzidos subiram, porque começaram a usar a tecnologia a seu favor”, explicou. “Por que isso não aconteceria no Brasil?”, indagou.
A recessão econômica brasileira está influenciando diretamente no consumo, segundo Carlos Eduardo. A alta inflação e o desemprego fizeram com que muitas pessoas perdessem poder de compra e, por isso, só vende quem tem condições de sobreviver no mercado, com produtos bons. “Temos que investir em qualidade. Com números tão baixos, as pessoas já não estão comprando e comprarão bem menos se o que receberem for algo ruim”, sublinhou.
Por isso, falou ele, os cursos do Senar Goiás estão sempre à disposição do produtor: para que se façam produtos de qualidade. Fato respaldado por Manoel. “Gente, é tudo de graça. E está tudo aqui, à disposição para que vocês tenham uma produção boa”, falou, aos sorrisos. “Me chamam de ‘papa-curso’ por aí. Mas eu vi que tinham muito o que aprender ainda e usei dessa ferramenta que estava disponível para mim. Eu achei que sabia de muita coisa, mas sabia bem mais ou menos”, brincou.
Segundo o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, 82% dos produtores não têm acompanhamento técnico, uma situação que tanto a Faeg quanto o Senar Goiás lutam para reverter. “Sem a assistência, a produção cai e a rentabilidade também, o que nos leva a outros números: 53% dos filhos dos produtores querem sair do campo e ir para a cidade e 43% dos agropecuaristas querem vender suas terras”, disse.
“Neste grave momento em que o Brasil passa, temos que usufruir do Senar, que é a maior universidade rural do mundo”, constatou. Schreiner adiantou que, para 2016, as metas são investir e trabalhar com sete cadeias produtoras, investindo cada vez mais no setor produtivo. “O Brasil rural é o Brasil que dá certo”, apontou.