Michelle Rabelo
Mais um passo rumo à democratização da educação. Foi assim que a gerente do departamento de Inovação do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), Rosilene Jaber, definiu a aula inaugural do Programa Rede e-Tec para os futuros técnicos em Agronegócio, que ocorreu no último sábado (28), em Alexânia. Assim como Rosilene, os 40 alunos também abusaram dos elogios à iniciativa que vai levar conhecimento à distância e ajudar a sanar a falta de profissionais preparados para gerir as propriedades rurais.
A gestora destaca que a procura pelo curso foi grande e que a turma é composta por pessoas comprometidas que seguem com uma expectativa grande em relação ao mercado. “Queremos que eles saiam daqui apostando em uma educação continuada. A formação não pode acabar aqui. É preciso que se crie a consciência de que a capacitação é contínua e que esse curso de dois anos vem para abrir um leque de possibilidades”.
Além da turma formada em Goiás, mais 17 foram estruturadas e distribuídas por outros sete estados (Minas Gerais, Pará, Paraíba, Santa Catarina, Sergipe, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro), onde as aulas inaugurais também ocorreram no sábado (28). Ao todo, 1.250 alunos – com idade entre 17 e 35 anos - foram selecionados por meio de um processo seletivo. Todos são produtores rurais ou dependentes de quem vive da terra.
Daqui a dois anos, que correspondem a 1.230 horas/aula sendo 80% ministradas à distância e 20% de forma presencial, eles estarão aptos para orientar os produtores rurais. Segundo o último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 9,3% deles recebem visitas regulares de órgãos governamentais de assistência técnica.
Segundo o secretário executivo do Senar Central, Daniel Carrara, oferecer a assistência técnica, aliada à formação, sempre foi uma meta do Senar. “Os profissionais que vão ser formados pelo Programa Rede e-Tec Brasil no Senar neste curso inicial já têm mercado de trabalho garantido em nosso próprio Sistema”. O secretário prevê a absorção dos alunos pelo Programa de Assistência Técnica e Gerencial com Meritocracia, criado pelo Senar em 2013 para ajudar a sanar a lacuna existente na área.
Perfil
Segundo a coordenadora de Ações e Projetos do departamento de Inovação do Senar Goiás, Ludmila Alves, a maioria dos alunos – cerca de 80% - estão concluindo o Ensino Médio, mas há também jovens – cerca de 20% - que já possuem ou estão terminado o Ensino Superior. É o caso de Camila do Nascimento, 25 anos, que conclui o curso de Direito no final do ano. Ela é filha de produtor rural e pretende ajudar o pai na gestão do negócio. “Eu conheci o Senar Goiás quando procurei cursos na área da Promoção Social (PS) e acabei fazendo quatro treinamentos: pintura de tecidos, fabricação de doces, Bordados em Fita e Processamento de Peixes. Agora vou focar na área da gestão”, explicou.
Alexânia é o único polo presencial de Goiás, mas alguns municípios, por meio dos Sindicatos Rurais (SRs), já demonstraram interesse em engrossar a lista. Enquanto isso, Daniel Carrara, que além de secretário executivo do Senar Central é também presidente do SR de Alexânia, faz questão de ratificar a importância do investimento em educação.
“Existe hoje o consenso de que a educação é um “calcanhar de Aquiles” para o desenvolvimento nacional e, em se tratando do setor agropecuário, ela é ainda mais vital para a economia. O setor é responsável por um terço dos empregos do nosso país, um terço do PIB – Produto Interno Bruto - e pela segurança da nossa balança comercial”, completou Carraca.
Para ele, não há como seguir avançando sem a profissionalização do agronegócio. “Existe hoje um nível de tecnologia que demanda mais do que treinamentos operacionais. O setor rural precisa se profissionalizar em termos de gestão. Precisamos de pessoas preparadas e é esse ganho de qualidade que o Senar está trazendo para a agropecuária”, afirmou.
Parceria nota 10
O chefe de gabinete da Secretaria Executiva e diretor geral da Faculdade CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil), Abdon Miranda, chama atenção para a parceria que resultou no curso. “O Senar Central só conseguiu colocar em prática esse projeto devido às parcerias com as Federações em todo o Brasil. Hoje estamos vivendo um momento de preparação de uma nova postura que está se tomando na agropecuária brasileira no quesito educação. Precisamos de técnicos que tenham condições de colocar a mãos na massa e fazer com que os produtores rendam, produzam. No Brasil se formava os profissionais para a agricultura e pecuária (agrônomos, veterinários, zootecnistas), mas esqueceu-se um pouco da base, que são os técnicos. Foi aí que se formou o Pronatec, que já está consolidado, e agora o Programa Rede e-Tec formando técnicos em gestão. É uma revolução”, comentou.
A opinião é compartilhada pelo presidente da CNA e do Conselho Deliberativo do Senar, João Martins. “O processo de formação do Senar na Rede e-Tec Brasil vai abrir caminhos para o sucesso profissional desses jovens no setor que sustenta a economia do nosso País. Esperamos que todos arregacem as mangas, se dediquem muito e se comprometam com a aprendizagem para aproveitar, ao máximo, a oportunidade de fazer um curso de qualidade, totalmente gratuito”, afirma.
Aulas
A maioria das aulas ocorre à distância, mas com encontros presenciais ao longo dos semestres a partir de um calendário definido nos polos. No caso das atividades à distância, as aulas serão mediadas pelo tutor no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) do Senar. Os alunos também recebem materiais de apoio, como DVD com videoaulas e apostilas impressas de cada disciplina. As atividades presenciais acontecem nos polos de apoio presencial e nas saídas de campo, ambas com supervisão da tutoria presencial.
Os encontros presenciais são classificados pelo secretário de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação (MEC), Marcelo Feres, como fundamental para o desenvolvimento do País. “Estamos vivendo um momento importante de expansão da educação profissional, oferecendo cursos voltados para a realidade do campo, a realidade do setor agropecuário, cursos que atendem ao público de um setor que é estratégico para o desenvolvimento do País”, finalizou.
::/introtext::