Douglas Freitas
Abrindo a tarde de palestras do 1º Seminário de Equideocultura da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), a médica veterinária da Universidade do Cavalo, Cláudia Sophia Leschonski, trouxe às cerca de 200 pessoas presentes no auditório da entidade – entre produtores, profissionais da área e estudantes – informações referentes ao bem-estar animal dos equídeos. Com a palestra ‘Bem-Estar Animal: O que esperar do futuro’, Cláudia bateu de frente com parte do tradicionalismo aplicado ao trato com os animais, o qual se caracteriza, em alguns casos, por formas de lidar que acabam por prejudicar o cavalo.
Trazendo para a pauta discussões como o bem-estar animal, o evento, que conta com apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) e o Instituto Inovar, foi bastante elogiado pela estudante de veterinária, Renata Leandro Canhete, que pretende seguir na área de cavalos futuramente. “Eu não vejo tantos eventos envolvendo equídeos, então quando surgem tais oportunidades é extremamente importante aproveitá-los ao máximo. Já havia realizado outros cursos com a Cláudia Leschonski e quando vi que ela estaria presente me interessei mais ainda, pois concordo com essas novas formas de tratamento racional que se deve desenvolver com os animais”, diz.
Logo de início, Cláudia lançou aos presentes o seguinte questionamento: “O que tenho que fazer para me manter no mercado? ”, com o objetivo de provocá-los a pensar na importância de se modificar certas práticas tradicionais, as quais provocam retrocessos e não avanços. Nesse contexto, o destaque principal se dá às rápidas modificações que vem ocorrendo no setor, em termos de mercado, percepção sobre o animal, realidade econômica, além da qualificação e motivação da mão de obra disponível.
Sem perder o foco sobre os principais desafios brasileiros em relação ao bem-estar dos equídeos, a palestrante fez questão de ressaltar que o Brasil pode, sim, se tornar um paraíso para a área de equideocultura. Tudo isso, pois possui características que são capazes de diferenciar a produção nacional da internacional. “O Brasil possui área abundante e cavalos precisam disso, seja para ele se movimentar ou mesmo produzir os alimentos. Além disso, os terrenos são planos, não há muito frio e não existe muitas áreas desérticas. Da mesma maneira que o país é uma das potências mundiais do boi verde, nós podemos ter um sistema de produção de equídeos de forma natural”, explica.
“Nosso gado é bem valorizado em outros países, pois é criado, em sua maioria, de forma natural. Ele não é confinado e não recebe muita medicação, alimentação artificial ou transgênica. Além disso, é criado praticamente a pasto. Com um pouco de sabedoria, nossos zootecnistas ou profissionais da área de produção alimentar, conseguem adaptar essa realidade à criação de cavalos, sob um modelo muito próximo à vida natural e com custo de produção relativamente menor. Creio que esse seja o desafio da equideocultura brasileira, e um estado como Goiás, localizado nessa fronteira agropecuária, está no ponto da tendência moderna”, argumenta Cláudia.
Trato com o animal
Para a médica veterinária, questionar certos paradigmas se destaca como principal mecanismo de mudanças não só na área equídea, mas em diversos setores dos mais diversos ramos. Ela explica que gerar boas imagens sobre as formas de se lidar com os animais é a bola da vez, afinal, a percepção que as pessoas “fora do mercado” possuem sobre a temática vem se modificando rapidamente. “A palavra de ordem é a qualidade e não a quantidade”, pontua.
Segundo Cláudia Leschonski, o mundo está sempre evoluindo e em completa modificação, e esse processo independe de vontades. “A tradição pode ser muito boa à medida que remonta certos paradigmas valiosos existentes a pouco, mas em alguns pontos ela deve ser questionada. Por exemplo, quando alguém fala: esse cavalo deve usar esse freio, essa embocadura ou essa técnica antiga, porque meu pai e meu avô fizeram assim, eu respondo: você, hoje em dia, arranca dente no boticão sem anestesia?. Ninguém vai querer, pois na hora do próprio dente, a escolha sempre será pelo melhor e mais moderno tratamento”, exemplifica.
“A todos aqueles que são mais fracos, independente de animais de produção ou doméstico, ou mesmo pessoas, todos devem ser amparados pela nossa consciência ética, porque senão estaremos nos remetendo a uma condição de vida cada vez mais primitiva”, explica. Ressaltando que à medida que os papéis mudam na sociedade, Cláudia afirma que as pessoas são automaticamente obrigadas a buscarem uma postura mais ética, a qual se caracteriza, principalmente, pelo bom relacionamento de ambos os lados.
Escalado para falar com o público no fechamento do evento, o proprietário da Universidade do Cavalo, em São Paulo, Luiz Almeida Marins, concorda com a médica veterinária e ressalta a importância daqueles que trabalham com cavalos pensarem no futuro do animal. “É preciso alertar sobre o bem-estar animal, para as formas de se trabalhar, de manejo e relacionamento homem-cavalo. Se não pensarmos nisso, iremos a reboque dessa situação. É preciso sermos mais proativos em relação ao relacionamento com o cavalo, tanto pessoalmente quanto institucionalmente”, defende Marins.
Para o produtor rural da região de Goianápolis, Iris João de Souza, as palestras trouxeram temas que muitos apenas ouvem falar, mas são pouco utilizados nas propriedades. Presenciando pela primeira vez um evento na área de equídeos, ele considera a iniciativa como essencial. “Com as novas práticas que vem surgindo, podemos oferecer melhores condições de tratamento e de qualidade de vida aos animais. É extremamente útil e lucrativo sabermos utilizar tais novas técnicas e saber de tudo que a ciência desenvolve e que pode ser utilizado no dia-a-dia”.
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