
Produção e consumo de aves natalinas crescem com inovação e cuidados sanitários para garantir mesas fartas e produtos seguros
A rotina do mercado de aves começa a ganhar ritmo acelerado com a proximidade do fim do ano, e produtores, integradores e comerciantes se preparam para atender à demanda que cresce exponencialmente durante as festas. Para 2025, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) projeta um último bimestre positivo e bem suprido, com oferta ajustada ao avanço sazonal da demanda típica do período.
“As empresas vêm calibrando abates e mix de produtos desde o terceiro trimestre para garantir disponibilidade, sobretudo nas proteínas com maior giro nas ceias e confraternizações, como frangos especiais, temperados e cortes”, explica o presidente da entidade, Ricardo Santin.
Do lado do consumo, a leitura é de uma leve aceleração acompanhada pelo calendário do 13º salário e pela conveniência de produtos prontos para assar, que facilitam a rotina das famílias. Essa mudança de comportamento do consumidor tem se consolidado há alguns anos, acompanhando o ritmo mais acelerado das ceias.
Além dos itens tradicionais, cresce o espaço de frangos temperados, recheados e linhas “familiares”. Essa diversificação atende diferentes faixas de renda e tamanhos de lares, afirma Ricardo.
A busca por praticidade e conveniência impulsiona ainda embalagens assa-e-sirva, temperos padronizados, porções fracionadas e soluções para Air Fryer. De acordo com ele, o movimento deve seguir firme, unindo praticidade, redução de desperdício e previsibilidade do tempo médio na cozinha, sem abrir mão da qualidade da carne.
O presidente da ABPA acrescenta o espaço de frangos temperados, que embora os polos tradicionais do Sul e Sudoeste ainda dominem a produção, dada a capilaridade industrial moderna, integração com produtores e boa logística, o Centro-Oeste vem ampliando sua participação, com plantas modernas, disponibilidade de grãos e ganhos de eficiência. Goiás, em particular, tem conquistado relevância, com investimentos em abate, processamento e linhas de maior valor agregado.
O estado combina competitividade de custos e boa posição logística para atender tanto o Sudeste quanto outras regiões em janelas de pico. “Mesmo que o período de festas não altere a segurança do abastecimento contínuo da cadeia avícola brasileira”, Ricardo diz que existe um pico sazonal relevante no varejo, que exige programação antecipada de produção e distribuição.
O Brasil também mantém posição relevante no mercado externo de carne de aves. Ricardo Santin observa que, embora alguns mercados apresentem sazonalidade menor ao longo do ano, o principal vetor externo continua sendo a demanda recorrente por frango in natura e processado.
“Há espaço para itens de maior valor agregado, como temperados, marinados e cortes proporcionados, mas os embarques, na média, sempre responderam requisitos sanitários e preferências locais”, destaca.
Para garantir que toda essa complexidade chegue ao consumidor final, a logística exige precisão, reforço de planejamento e foco no detalhe.
Outro ponto-chave é a biosseguridade reforçada, tanto na granja quanto na indústria. Protocolos preventivos, monitoramento constante e rastreabilidade são essenciais para assegurar a saúde das aves e a segurança alimentar.
A eficiência operacional, contratos de insumos, gestão de energia e redução de perdas ao longo da cadeia fria permitem que a produção siga competitiva mesmo nos períodos de pico sazonal.
O Senar Goiás contribui fortemente para que os produtores consigam aplicar boas práticas e aumentar a eficiência produtiva. Segundo o instrutor de avicultura de precisão Gustavo Milanez, a instituição oferece cursos presenciais e a distância voltados à avicultura, abordando manejo, biosseguridade, nutrição, vacinação, bem-estar animal, gestão e comercialização. "Esses treinamentos capacitam produtores e trabalhadores a aplicar boas práticas e aumentar a eficiência produtiva", explica.
Milanez detalha que as aves natalinas apresentam maior valor agregado e canais de venda diferenciados, incluindo supermercados, indústrias e mercados locais. De acordo com ele, pequenos produtores podem aproveitar nichos regionais e vender aves resfriadas ou temperadas, agregando valor ao produto, desde que respeitem todos os processos para segurança alimentar.
"O planejamento para o fim de ano é fundamental e deve seguir etapas claras ao longo do ano: entre março e abril, definir escala e revisar instalações; de maio a setembro, conduzir lotes e monitorar sanidade; em outubro, confirmar mercado e logística; e em novembro, abater e entregar os animais. Essa organização permite melhor aproveitamento da época e rentabilidade", explica o instrutor do Senar Goiás.
As boas práticas de manejo e o uso racional de insumos também se aplicam à produção de aves natalinas. A tecnificação, controle ambiental, nutrição de precisão e gestão de biossegurança resultam em melhor desempenho e qualidade final. Segundo Milanez, observa-se em Goiás avanços significativos, como maior tecnificação e integração da cadeia, melhorias no bem-estar e manejo pré-abate, maior oferta de cursos e treinamentos, e adoção de rastreabilidade e certificações de qualidade.
"Para investir ou ampliar a produção de aves natalinas, o produtor deve elaborar um plano de produção e comercialização, manter biosseguridade e plano vacinal, aplicar manejo alimentar e sanitário adequados, capacitar a equipe técnica, planejar fluxo financeiro e logístico, e buscar diferenciação, seja por aves caipiras, temperadas, orgânicas ou com selo de qualidade".
Goiás avança com integração de cadeia, modernização e maior oferta de cursos de treinamento e certificação. A Agência Goiana de Defesa (Agrodefesa) intensifica o monitoramento e fiscalização no período, orientando produtores sobre notificações obrigatórias. “Os médicos veterinários são instruídos a notificar mortalidade acima de 5% em menos de 72 horas”, explica Denise Toledo, gerente de sanidade animal.
Doenças de notificação obrigatória incluem Laringotraqueíte Infecciosa, Salmonella e Micoplasma. Há também controle rigoroso de reprodutores, incubatórios e matrizes.
Denise reforça que, ao suspeitar de doença, o protocolo é simples: procurar o fiscal ou utilizar o e-Sisbravet. A Agrodefesa também disponibiliza canal de ouvidoria e atendimento imediato.
"O período de maior demanda poderia aumentar riscos de movimentações irregulares, mas nas aves natalinas esse risco é baixo porque as empresas seguem rigidamente os protocolos sanitários. Além da fiscalização, há campanhas de educação sanitária, ações de vigilância e certificações", relata.
Produção planejada
A São Salvador Alimentos (SSA) se prepara de forma estratégica para atender à alta demanda de aves no período de fim de ano, mas mantém uma produção uniforme ao longo do ano. Segundo o diretor de Produção Animal da empresa, Roberto Jardim, o planejamento da produção de aves ocorre com 18 meses de antecedência, garantindo que o último trimestre, tradicionalmente o mais aquecido nas vendas, seja atendido sem interrupções. "É esperado que o último trimestre de cada ano seja o mais aquecido nas vendas, especialmente quando falamos de proteína animal. Porém, a produção de aves segue ritmo uniforme de produção, haja vista que o planejamento de um frango produzido ocorre com 18 meses de antecedência", explica.
Historicamente, a receita da SSA cresce cerca de 10% nesse período em comparação aos trimestres anteriores, reflexo do aumento natural de consumo durante as festas.
Para atender a esse pico sazonal, a empresa mantem uma linha especial de frangos de maior peso e idade, ajustando níveis nutricionais à necessidade do plantel. "No caso da Super Frango, nossa ave natalina, chamada de Felicità, além de um tamanho e peso maior, já vem temperada e com embalagem 'assa fácil'', detalha Sergio Moura, diretor Comercial e de Marketing da SSA.
Ele reforça que o produto une qualidade, praticidade e acessibilidade, oferecendo ao consumidor uma alternativa ao peru tradicional. "Possui um preço mais acessível do que um peru, porém tem tamanho, aparência e sabor dignos de uma ave para a ceia de Natal das famílias brasileiras. Além disso, como já mencionado, oferecemos o fator praticidade: a Felicità já vem temperada e com embalagem assa fácil que vai direto ao forno", enfatiza.
O bem-estar animal e a biosseguridade são prioridades inegociáveis na SSA. "Os cuidados com
biosseguridade são sempre mantidos. A saúde dos frangos independe da fase do ano e de qual mercado é destinado. As questões de bem-estar animal são sempre mantidas, pois biosseguridade e bem-estar animal significam produtividade e sustentabilidade", destaca Roberto Jardim.
De acordo com ele, todos os aviários da empresa possuem ambientes controlados, com temperatura, umidade, ventilação e iluminação monitoradas, além de alimentação balanceada com água de qualidade e distribuída conforme a idade do plantel. O manejo das aves é humanizado e a equipe é constantemente capacitada para garantir praticas que respeitem o comportamento natural dos animais, complementa o diretor. Monitoramento em tempo real permite rastrear indicadores de saúde, prevenindo doenças e garantindo intervenções rápidas e seguras.
Suporte estratégico
A Cooperativa dos Produtores Rurais de Itaberaí e Região (Copavir) e a Associação dos Avicultores de Itaberaí e Região (Avir) são entidades que atuam no fortalecimento da cadeia produtiva integrada à São Salvador Alimentos (SSA). Criada há cerca de 17 anos, a Copavir surgiu para organizar e dar suporte à integração com a SSA, especialmente na logística e na estruturação dos aviários que recebem os lotes de pintinhos. Hoje, reúne cerca de 300 cooperados, a maio ria deles integrados à empresa, e responde, junto aos associados da Avir, por mais de 1,2 mil aviários responsáveis por parte expressiva dos 500 mil frangos abatidos diariamente pela indústria.
Segundo o presidente das duas entidades, Vicente Pereira de Carvalho Filho, o modelo de integração permite eficiência e previsibilidade na produção. Ele explica que cada produtor é responsável pela estrutura física e pela mão de obra da granja, enquanto a SSA fornece pintinhos, ração, medicamentos, assistência técnica, acompanhamento veterinário e suporte operacional.
"O integrado é prestador de serviço para a empresa, e a remuneração é feita conforme a produtividade de cada aviário, levando em conta conversão alimentar, manejo e custo de produção. O desempenho de cada galpão é avaliado individualmente, o que estimula o produtor a buscar sempre o melhor resultado", explica.
O trabalho, segundo ele, exige dedicação integral, com média de um casal para o manejo de dois aviários, que somam cerca de 60 mil aves. "Há casos em que granjeiros mais experientes chegam a administrar até quatro galpões. O casal é o modelo mais comum, porque a rotina demanda apoio mútuo e atenção constante. A atividade é exigente, mas também gratificante, pois recompensa o bom desempenho e a boa gestão", afirma.
Vicente acrescenta que o uso de tecnologia também tem modernizado o manejo, com sistemas automatizados de aquecimento a gás que reduzem o esforço manual e aumentam a eficiência.
Tanto a Copavir quanto a Avir atuam de forma complementar no suporte aos produtores. Além da representação junto à SSA, promovem ações de capacitação e melhorias nas condições técnicas e estruturais das granjas. "O foco é garantir que os cooperados e associados tenham condições para manter o padrão exigido pela indústria, com produtividade e biossegurança", reforça Vicente.
Um dos principais avanços recentes foi a criação do curso de formação de granjeiros, uma iniciativa idealizada pelas entidades em parceria com a SSA, o Senar Goiás e o Sindicato Rural de Itaberaí. O treinamento nasceu da constatação de que faltavam profissionais qualificados para atuar na atividade, que exige conhecimentos técnicos de manejo, ambiência, biosseguridade e nutrição.
"O curso surgiu dessa necessidade. Tínhamos muitas vagas de trabalho, mas poucas pessoas preparadas. Com o apoio do Senar e da SSA, criamos uma formação que dá base técnica e abre oportunidades para quem deseja ingressar na avicultura", explica.
Os primeiros cursos foram realizados na Universidade Federal de Goiás (UFG), em um aviário escola, e depois transferidos para Itaberaí, onde é mantida hoje a granja escola que serve de base para o aprendizado prático, informa Vicente.
De acordo com ele, o programa já formou diversas turmas e segue em expansão. "A formação do granjeiro é fundamental para a sustentabilidade da cadeia, porque garante mão de obra especializada, gera
empregos e mantém a qualidade da produção. A avicultura é uma atividade que exige conhecimento e responsabilidade, e o curso do Senar cumpre um papel essencial nesse processo", conclui Vicente.
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