O que começou como solução para não perder a produção virou tradição de família. Com inovação e apoio técnico do Senar Goiás, Jéssica e a família já somam mais de 30 produtos no catálogo
Transformar dificuldades em oportunidades foi a saída para a produtora Jéssica Maurília e sua família, da Fazenda Campo Alegre, em São Francisco de Goiás, município a 100 km de Goiânia. Há três anos, eles investiram no cultivo de guarirobas, uma palmeira que produz um palmito amargo, típico da culinária rural goiana. Mas, no auge da produção, as vendas começaram a cair. Foi então que o pai da produtora, Maurilio do Carmo Neto, conhecido como Sr. Morilo fez uma observação sobre o mercado que mudou tudo.
“A gente levava as guarirobas para a Ceasa e estava sobrando muito. Um dia, meu pai falou para mim: ‘Vamos fazer conserva?’ Ele disse que acreditava que as pessoas estavam achando difícil preparar a guariroba: tirar a casca, reduzir o amargor no preparo. Sugeriu que vendêssemos ela pronta, em conserva. Mas, com um mês que tínhamos começado, ele ficou doente, e eu fiquei com ele 20 dias no hospital. E o pessoal ligava e falava assim: ‘você é a menina da gueiroba? Traz 10, traz 20, traz uma caixa.’ E, no hospital, ele dizia: ‘filha, quando a gente sair daqui, vamos fazer bastante e vamos conseguir vender.’ Só que, nesses 20 dias, ele foi embora... morar com Deus. E nesse tempo em que fiquei lá, as outras coisas que a gente plantava e cuidava acabaram. Não tinha mais nada para colher”, relembra.
Jéssica, muito abalada com a partida do pai, se apegou ao desejo dele de produzir as conservas. “Cheguei para o meu esposo e falei: ‘vamos fazer potinhos de conserva. A gente não tem outra opção.’ Compramos os produtos para começar. Lembro que a primeira remessa foi com adesivos que tinham apenas um telefone, um código de barras e um nome. Começamos com cerca de 400 unidades. A partir daí, fomos crescendo, trabalhando dia e noite, lutando. Todas as lágrimas, a saudade do meu pai eu usava como força pra fazer esse desejo que ele tinha de dar certo”, explica.
As guarirobas abriram caminho para um novo negócio. Surgiram diversos tipos de conservas: jiló, cebola, batata, cenoura, pimentas, temperos e deliciosas geleias. Todos são produzidos com técnicas que garantem um sabor típico da fazenda, conquistando consumidores fiéis. “Coloquei o nome de @ladarocaprodutosartesanais. As pessoas perguntavam de onde vinha, e eu respondia: ‘Lá da roça’. É um leite lá da roça, um queijo lá da roça, um ovo lá da roça. Então, tudo é da roça, e assim foi com as conservas”, conta.
Era preciso profissionalizar e ampliar a produção. Foi aí que entrou o Senar Goiás, com a Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) para Agroindústria. “Visitamos o produtor uma vez por mês e oferecemos assistência tanto na parte de gestão quanto na técnica. No caso da Jéssica, padronizamos embalagens, criamos rótulos e acompanhamos todo o processo de adequação à legislação e às exigências para consolidar a agroindústria”, explica a técnica do Senar Goiás, Simone Leite.
Com o apoio da ATeG, a produção se diversificou. Além da conserva tradicional, hoje são mais de cinco variações da guariroba, novas geleias e até condimentos especiais, como o sal de parrilla.
“Hoje estamos com mais de 30 produtos. Como novidade, temos agora o sal de parrilla, pois era um item que as pessoas sempre perguntavam se trabalhávamos. Diante dessa procura, estamos desenvolvendo uma linha de condimentos para lançar na SuperAgos, o maior evento do setor supermercadista. Já vamos levar essa nova linha completa”, conta.
Atualmente, oito pessoas atuam na produção, e a família também compra insumos de outros produtores rurais para complementar a matéria-prima. Tudo o que é produzido tem ganhado cada vez mais espaço no mercado.
“Vem gente de vários estados comprar nossos produtos na Ceasa. Principalmente pessoas de supermercados e hortifrúti: elas buscam verduras e acabam levando nossos itens também. Hoje conseguimos entregar no Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Pará e em muitos outros estados onde descobrimos que nossos produtos já chegaram”, detalha.
A filha de Jéssica, Maria Júlia de 9 anos, já segue os passos da mãe, levando sua espontaneidade ao processo de vendas. “Eu ofereço as geleias para que as pessoas provem. Falo de cada sabor, dos que mais vendem. Também mostro os outros produtos. Converso bastante, sabe?! E todo mundo sempre leva pelo menos um depois de falar comigo”, conta, se divertindo.
Para a técnica de campo do Senar Goiás que acompanha a família, a evolução da agroindústria é motivo de orgulho. “É um sentimento de gratidão, porque o produtor acaba virando família. Ver essa melhoria na qualidade de vida, na renda e no bem-estar da família é muito gratificante. Hoje, a fonte de renda virou realização pessoal”, afirma Simone.
Mais do que um negócio, tudo o que é produzido mantém vivo o sonho do pai de Jéssica, que sempre acreditou no potencial da guariroba. “O Senar, para nós, foi o ponto de virada. Eles nos ensinaram a organizar as finanças, a entender o que entrava e saía, a fazer a gestão dos recursos para melhorar o modelo da nossa agroindústria.”
A história da família é um exemplo de como a união entre tradição, trabalho em equipe e conhecimento técnico pode transformar desafios em histórias de sucesso. “Também estamos participando do programa Feira com o Senar, levando nossos produtos para que mais pessoas conheçam. Só no início de setembro, por exemplo, estivemos no III Encontro Mulheres em Campo e na Goiás Genética. Esse apoio também é muito importante para a divulgação do nosso negócio. Eu transformei a ideia em um sonho, e hoje realmente é um sonho, um sonho que a gente está vivendo, que nunca imaginamos que cresceria da forma como está crescendo, graças a Deus”, agradece Jéssica.
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