O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revisou para cima sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária brasileira em 2020. O novo horizonte traçado aponta para um avanço que poderá chegar a 3,4%, levando-se em conta as previsões de safra do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), ou a 4,1%, se considerados os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Antes, o Ipea calculava altas de 3,2% (IBGE) e 3,7% (Conab).
Em ambos os cenários, as estimativas representam uma forte aceleração da atividade agropecuária no país em relação a 2019, quando o crescimento foi de 0,7%, segundo o Ipea.
Na análise segmentada, a perspectiva é de avanço de 3,9% (cenário de safra do IBGE) ou 5% (cenário de safra da Conab) no valor adicionado da lavoura. O bom desempenho da soja (alta de 8,7% na produção, de acordo com o IBGE) e do café (13,1%) devem puxar o crescimento.
No caso da pecuária, a estimativa é de alta de 3,5% no valor adicionado. A produção de suínos ganha destaque, com projeção de crescimento de 4,5% em 2020, mas todas as principais cadeias devem impulsionar a atividade.
Mas o Ipea prega cautela. Um dos riscos são os efeitos do coronavírus na China sobre sua demanda por produtos agropecuários como soja e carnes, principais itens da pauta brasileira de exportação aos asiáticos.
Para o diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Júnior, “os efeitos econômicos do coronavírus podem representar um risco para as projeções do PIB agropecuário, uma vez que a demanda externa por carnes e, por consequência, a produção interna podem ser afetadas”.
Mas ele não acredita em um efeito negativo sobre a produção da carne suína para a exportação porque a China ainda sofre as consequências da peste suína africana e seu plantel permanece reduzido.
O Ipea considera que o efeito do coronavírus não será significativo sobre a produção de soja brasileira, mas na carne bovina o potencial de impacto é maior. No documento que divulgou hoje, o instituto relata os problemas enfrentados pela China — como quarentena em diversas cidades e as dificuldades de armazenamento dos contêineres refrigerados nos portos chineses — como dificuldades para a circulação de mercadorias.
Para a soja, o que pode atrapalhar, na visão dos pesquisadores do Ipea, é o recente acordo entre Estados Unidos e China. “Tudo indica que haverá uma grande pressão para as exportações americanas para a China sejam ampliadas, deslocando os principais fornecedores. Por se tratar de uma commodity, é sempre possível realocar a oferta brasileira para outros mercados que deixariam de ser atendidos pela soja dos EUA, mas com todas as dificuldades de redefinições logísticas e contratuais envolvidas”, destacam.
O Ipea analisou o fechamento dos dados do setor externo de 2019. Segundo o instituto, o valor das exportações dos principais produtos exportados caiu 5% no ano passado em relação a 2018. A soja puxou a queda, com redução de 21% no valor das vendas externas e de 11% no volume exportado (74 milhões de toneladas). O milho, pelo contrário, apresentou altas de 86% no volume vendido (42,7 milhões de toneladas) e de 84% no valor (US$ 7,2 bilhões).
O valor da exportação de carne bovina cresceu 20% em 2019 em relação a 2018. Houve aumento de 16% na quantidade exportada e de 13% nos preços. Os bons resultados, segundo o Ipea, estão relacionados diretamente com o aumento das vendas em mercados já consolidados, a exemplo de China, Emirados Árabes e Rússia.
A queda de US$ 6,8 bilhões nas exportações brasileiras de soja em 2019 superou muito o aumento de US$ 1,6 bilhão nas exportações de proteínas animais. A redução nas exportações de soja foi tão expressiva que superou o valor das exportações de carne bovina (US$ 6,5 bilhões).
O Ipea também analisou o volume de crédito rural contratado em 2019: R$ 179,2 bilhões, valor 0,7% menor que o registrado em 2018. O número de contratos no ano foi de 1,87 milhões, montante 5,7% inferior ao do ano anterior. O valor médio do contrato de crédito rural em 2019 ficou em R$ 96.065,56, 5,3% maior que o observado em 2018.
Apesar da leve redução das contratações em geral, o Ipea destaca o crescimento no acesso ao crédito pelos pecuaristas (3,2%) e nas operações de custeio (2%) e de investimentos (2,4%). A alta registrada no Pronaf (agricultura familiar) chegou a 6,5%, e no Pronamp (médios produtores) foi de 26,1%. O instituto também ressalta o aumento do uso de financiamentos com recursos não controlados, sem subsídios governamentais: 30,2% em comparação a 2018.
Fonte: Valor Econômico.
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