Michelle Rabelo
Com o intermédio da Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), produtores que forneciam leite para o Laticínio Manacá e protagonizam o imbróglio que envolve falta de pagamento e até um pedido de recuperação judicial, ouviram atentamente a apresentação de uma proposta por parte da empresa, na tarde da última terça-feira (30). Ainda em fase de estudo, a sugestão é de disponibilizar R$ 15 milhões como forma de adiantamento, para pagamento proporcional, aos produtores que hoje são credores e R$ 1,5 milhão, em forma de bônus, para aqueles que, mesmo com o atraso, não interromperam o fornecimento do leite.
Os produtores foram recebidos pelo gerente de assuntos técnicos e econômicos da Faeg, Edson Novaes, e pela assessora jurídica da entidade, Rosirene Curado. A assessora jurídica questionou a forma como a empresa Manacá expôs sua proposta. “Não se trata de um adiantamento. É a remuneração que será paga por um serviço que já foi prestado”.
Representando a Manacá, o auditor Agnaldo Pacheco – da Masters Auditorias - tirou dúvidas, apresentou a atual situação da empresa, falou sobre a proposta em fase de estudo e fez questão de ratificar o empenho da empresa em resolver o impasse. “Não vamos focar sem pagar ninguém que faça parte da cadeia produtiva do leite. Todos esses terão prioridade”, enfatizou. Agnaldo destacou ainda que a empresa não tem como pagar a dívida antes da elaboração e aprovação, por parte dos credores, do plano de recuperação, o que de acordo com o prazo legal pode chegar até 180 dias.
Por falta de garantias reais, ao final do encontro os produtores decidiram aguardar o plano de recuperação judicial, mesmo levando em conta o longo período de tempo que a Manacá precisa para elaborar o documento e a crise financeira que a maioria deles enfrenta devido ao não pagamento por parte da empresa.
Garantias
Durante o encontro, o auditor alegou que a empresa terá garantias para honrar com a proposta de promover o adiantamento para aqueles produtores que voltarem a entregar o leite para a empresa. “Nosso faturamento anual girava em torno de R$ 300 milhões. Não estamos quebrados, estamos passando por dificuldades”, pontuou.
Questionado sobre as condições da Manacá em arcar com os débitos, Agnaldo explicou que a empresa pretende recorrer ao aporte de capital junto aos sócios e às duplicatas travadas nas instituições financeiras. “Com esse valor vamos priorizar o pagamento dos produtores, em especial aqueles que continuam fornecendo leite para o laticínio”. Ele acredita que as duplicatas travadas, após o pedido de recuperação judicial, girem em torno de R$ 10 milhões.
Sem receber regularmente desde novembro, o grupo iria discutir uma proposta junto à empresa. Eles já haviam se organizado para propor que os produtores fornecessem mensalmente um percentual da produção e recebessem, juntamente com o pagamento do produto entregue, parte do saldo devedor atrasado. A intenção era dividir o débito em cinco meses. Mas isso não será possível.
Na ocasião, os produtores estimaram que o valor total, antes avaliado em mais de R$ 35 milhões deveria alcançar cifras ainda maiores, já que essa foi apenas a quantia resgatada pelas instituições financeiras para quitar débitos em aberto. Contrariando a informação, que vem amedrontando o setor leiteiro, Agnaldo Pacheco disse que a dívida com os 1.800 produtores – quantidade relativa ao estado de Goiás – não deve superar a cifra. Ao final da reunião, ficou acertado que o Manacá vai divulgar uma lista de credores com os respectivos valores.
Recuperação judicial
No último dia 3, o Laticínio Manacá entrou com um pedido de recuperação judicial junto ao poder judiciário – o que, se aceito, dará a empresa um prazo para tentar um acordo com credores sobre um plano de recuperação. Até o término da reunião o pode judiciário não havia divulgado sobre a conclusão dos autos do processo, o que indicaria a aceitação ou não do pedido de recuperação judicial feito pelo Laticínio Manacá.
Em seguida a empresa tem que elaborar um plano de recuperação judicial. Por meio do documento, o laticínio informa aos credores como as dívidas serão pagas, em qual prazo e como fará isso. O grande problema é que a empresa tem 60 dias para apresentar o plano à Justiça. A situação é mais agravada pelo fato de que, segundo a legislação, os produtores são os últimos a receberem. Eles ficam atrás dos funcionários, instituições financeiras, Estado e outros fornecedores.