Michelle Rabelo e Murillo Soares
Mesmo com a crise que acertou em cheio o país, a agropecuária conseguiu superar as dificuldades e até se destacar. Com essa informação o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Mário Schreiner, recebeu a imprensa goiana na tarde desta segunda-feira (21). O motivo do encontro foi a coletiva de imprensa que a entidade realiza para apresentar o balanço do ano que chega ao fim e as perspectivas do ano que se aproxima. Schreiner levantou dados positivos para mostrar que Goiás teve um bom desempenho, e citou como um dos exemplos o saldo da balança comercial do agronegócio no estado, que foi de US$ 2,17 bilhões, contra US$ 3,9 bilhões da União.
Em terras goianas registrou-se ainda um aumento do Valor Bruto da Produção de 4,9%, passando de R$ 30,6 bilhões em 2014 para 32,1 bilhões de reais em 2015. Além disso, foram gerados no estado mais de 52 mil postos de trabalho no setor. No que diz respeito a agricultura, houve a manutenção da área plantada - que chegou aos 5,205 milhões de hectares e a queda de 1% na produção em relação à safra passada – que passou de 19,81 para 19,67 milhões de toneladas. Já na pecuária, observou-se o aumento na produção de aves (10%) e de suínos (4%), contra uma queda na produção de carne bovina (9%) e de leite (4%).
Como principais avanços do ano que já ensaia se despedir, Schreiner falou sobre a manutenção e redução do ICMS de alguns segmentos, como a piscicultura quando comercializada entre estados de 12% para 7%, a atuação na agilização de processos de contratação de crédito rural, o apoio na elaboração e aprovação da Lei de Irrigação do Estado de Goiás, e a atuação direta da Faeg para a aprovação de Medida Provisória no Senado Federal referente a incidência de descontos ao setor rural nas bandeiras tarifárias de energia elétrica. “Diante das boas notícias vale lembrar que não sabemos até quando o setor vai conseguir empurrar a economia sozinho. Sendo assim, a responsabilidade de protegermos a agropecuária, e fazer com que ela consiga continuar se destacando, é muito grande. O setor não é importante só para os produtores, mas para toda a população”, pontuou José Mário.
Porém, em um cenário tão preocupante, o setor agropecuária também enfrentou dificuldades. A queda vertiginosa do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação ultrapassando os dois dígitos, a alta taxa de juros e o aumento custos de produção e dos impostos dos Governos Federal e Estadual foram apontados como principais entraves de 2015.
Orientação: palavra de ordem
2016 será o ano da assistência técnica, já que só assim os produtores conseguirão atingir todo o potencial produtivo e enxergar a crise, que assolou o país em 2015, pelo retrovisor. Com esse entendimento, Schreiner falou sobre a missão das entidades representativas no próximo ano. Na ocasião, o presidente da entidade, que também responde pelo Conselho Administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás), José Mário Schreiner, disse que o objetivo é alavancar parte da classe D/E para a classe C e da classe C para a classe A/B – o que também é meta da ministra da Agricultura, Kátia Abreu.
Segundo Schreiner, completam a lista de desafios para 2016 a implantação e consolidação da Política Agrícola Plurianual, a realização de melhoria de infraestrutura ferroviária (formas de concessão), portuária e rodoviária, a modificação do sistema de
armazenagem e de fornecimento de energia elétrica e a reestruturação dos fundamentos da economia.
Mas nem só de metas será feito o ano que vem chegando. Estima-se que em 2016 ocorra um crescimento da produção de grãos, com aumento de 5,7%, passando de 19,7 para 20,8 milhões de toneladas. Também deve haver um aumento de 1,% na área e 12% na produção de soja, além de uma pequena redução na área e estabilização na produção de milho. Na pecuária, estima-se a ampliação do mercado mundial para bovinos, suínos e lácteos, além de um pequeno aumento das aves. O mercado interno deve se apresentar fraco devido pressão sobre a demanda e a crise econômica interna.
Seguro rural
Sobre a Política Agrícola Plurianual, Schreiner foi enfático ao destacar a necessidade de um modelo de seguro rural. De acordo com Schreiner, o seguro agrícola no Brasil precisa avançar. “Precisamos evoluir, avançar e apresentar um seguro acessível, compatível e bem-sucedido para nossos produtores rurais e para a potencialização do agronegócio”. Enfático em seu discurso, Schreiner destacou a importância de adotar novos modelos e alternativas para o desenvolvimento do setor no país, já que nos últimos 10 anos, a agricultura vem buscando caminhos para um padrão de seguro agrícola acessível aos produtores rurais. “Esbarramos em um dos grandes entraves que envolvem o seguro agrícola, ultimamente ele tem sido usado como moeda de troca, e isso não é bom. O seguro é para segurar as lavouras e garantir acima de tudo, o crédito aos produtores rurais tanto do Brasil quanto de Goiás”, ressaltou.
"A ideia do Plano Plurianual é um plano que venha a nortear as políticas públicas durante 4 ou 5 anos, assim os produtores poderiam enxergar o futuro com maior clareza e confiança. O que eu defendo é um política agrícola totalmente baseada no seguro rural", completou., aproveitando para destacar a aprovação da Comissão Mista de Orçamento (CMO), de R$ 841 milhões para o Programa de Subvenção ao Seguro Rural de 2016, aumentando em 110% a previsão inicial da proposta orçamentária do Executivo.
Senar Goiás
O ano foi de muitas ações para o Senar Goiás. O total de atendimentos da casa em seus programas ultrapassou a marca dos 400 mil. O número surge das várias atividades deste braço do Sistema S, todas realizadas de janeiro a dezembro. Na lista entram programas como Dia de Campo, Proteção de nascentes, Goiás Mais Leite, Pronatec, Faeg/Senar em Ação, Treinamentos de Formação Profissional Rural, Agrinho, dentre outros.
“O Senar é a maior escola-campo do mundo”, disse o presidente do Conselho Administrativo do Senar, José Mário Schreiner. Os programas levaram capacitação e empreendedorismo aos goianos. “Hoje temos um curso técnico em Agronegócio e também uma faculdade em caráter experimental”, ressaltou. Somente atendimentos voltados à educação foram 12.285 – número que engloba atendimentos dos Treinamentos de Formação Profissional Rural, Pronatec, EAD, Rede E-Tec e curso de Empreendedorismo Rural.
O presidente da Faeg destacou que há um tempo os jovens vinham se preparando para os concursos públicos, mas, com o declínio de oferta nesta área, eles começaram a partir para o empreendedorismo. “O Senar tem preparado as pessoas para serem empreendedores, preparando mão de obra para este campo de atuação: a iniciativa privada. É este setor que faz o Brasil crescer e gera emprego e renda”, finaliza.
Dentre os destaques do Senar, cita-se o Programa Goiás Mais Leite, que promove educação continuada e acompanhamento técnico a produtores de leite em todo o estado, e teve 3.030 participantes em 2015. Para 2016, o Sistema Faeg/Senar pretende ampliar as cadeias produtivas da piscicultura, pecuária de corte, apicultura, ovinocultura e hortifrúti. A assistência oferecida promoverá o desenvolvimento, minimizando os impactos ambientais, econômicos e sociais nos sistemas de produção que foram contemplados, diminuindo a pobreza rural e levando milhares de produtores para a classe média rural.
Este ano, o Sistema Faeg/Senar lançou oficialmente o Programa Agricultura Urbana, que busca levar as técnicas de plantio do campo para os centros de convivência urbanos. Centenas de pessoas participaram e aprenderam a cultivar suas próprias hortaliças e jardins. Em 2016, o programa será ampliado.