Cerca de 1.500 produtores do Estado de Goiás que trabalham com irrigação receberão, em 24 dias, reajuste nos talões de energia na tarifa do horário reduzido de 50% a 200%, dependendo da categoria do irrigante ou aquicultor. Isso porque a Celg terá de se adequar ao decreto da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que prevê mudanças nas tarifas de energia para o setor de irrigação. É previsível o encarecimento, sobretudo, de produtos básicos como arroz, feijão, hortaliças e frutas.
Preocupados com a situação que atinge produtores e consumidores, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) realizou, na tarde desta quinta-feira (10), uma reunião com os envolvidos. Entre os presentes, o superintendente de comercialização da Celg, Leandro Chaves de Melo; presidente do Sindicato Rural de Cristalina, maior área irrigada da América Latina, Alécio Maróstica e o presidente da Faeg, José Mário Schreiner, além de produtores goianos.
A situação é nacional, mas a federação goiana foi a primeira a se manifestar sobre o assunto. O objetivo agora é levar a indignação à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e debater os prejuízos com demais federações do país. Isto porque, a medida é divergente da atual realidade que envolve diminuição em áreas de plantio com o novo Código Florestal e demanda crescente por alimentos em todo o mundo.
O decreto, publicado em janeiro deste ano foi encaminhado à Celg no último dia 3 de setembro, mesma época em que são definidos os reajustes. Para os produtores, o peso foi maior devido à mudança na chamada Tarifa Verde que garantia desconto para quem realiza irrigação entre 21h30 e 6 horas da manhã. O objetivo inicial do benefício era contribuir com o meio ambiente e economizar água.
Insatisfação
“Grande parte da irrigação no país é feita com água da chuva, de forma sustentável. Onde temos uma safra, com a irrigação podemos ter três. Além disso, alguns alimentos só conseguem ser produzidos o ano todo com este sistema. Vivemos uma situação de demanda mundial crescente por alimentos e para suprir as necessidades precisamos de tecnologia. A tecnologia atual é o sistema de irrigação e quando falamos da energia elétrica, estamos falando de algo essencial. Este decreto é preocupante”, afirma José Mário.
Para o presidente, o decreto prejudica o crescimento do país e vai proporcionar um aumento desagradável ao consumidor final. “Todo mundo lembra quando o quilo do tomate chegou a R$ 9 e a culpa não foi do produtor, foi de taxas e tarifas. Quando os novos preços de alimentos chegarem às prateleiras, é preciso saber de onde vem este aumento”, completou.
Presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica explica que, em Cristalina, 50 mil hectares irrigados garantem um faturamento de R$ 950 milhões por ano. Em outros municípios sem irrigação, uma área seis vezes maior apresenta um faturamento de R$ 640 milhões, com rendimento 332,63% menor.
Sobrecarga do sistema elétrico
O uso da energia elétrica durante o período noturno evitava também uma sobrecarga no sistema elétrico. Com o fim do benefício, entretanto, os produtores devem diminuir a irrigação noturna já que ela não é diferenciada e traz ainda despesas trabalhistas como adicional noturno aos funcionários das propriedades.
Outra reclamação dos produtores e empresários da área de armazenagem durante a reunião foi o fato de o Estado sofrer com constantes quedas de energia. A notícia do aumento das taxas sem melhoria no serviço prestado causou indignação nos produtores. Paulo Carneiro Junqueira, gerente de armazenagem da Comigo, afirma que em apenas um dia 10 motores foram queimados este ano devido a quedas de energia. Em posse de relatórios que comprovam as quedas, ele afirma que a situação está cada vez mais insustentável.
O superintendente de Comercialização da Celg, Leandro Chaves respondeu às reclamações dizendo que não é responsável por este setor e que as melhorias não dependem apenas de força de vontade da empresa. “Pagamos R$ 50 milhões em indenizações e isso não é vantagem para a Celg. O problema é mais complexo do que parece e não pode ser resolvido de forma tão simples”, afirmou.
Área irrigada
Atualmente, apenas em Goiás, 260 mil hectares são irrigados e se o parâmetro for Brasil, esse número sobe para 4,5 milhões de hectares. A meta do governo federal era dobrar este número nos próximos 10 anos, mas o decreto da Aneel vai de encontro ao desejo inicial.
No Brasil, 80% do arroz é irrigado e a 3ª safra do feijão, que começa nos próximos dias, também é completamente irrigada. O aumento pode fazer com que a produção se torne inviável, diminuindo a oferta e causando, consequentemente, a elevação dos preços ao consumidor final.