O conhecimento de novas técnicas pode transformar os resultados em propriedades leiteiras e tem sido cada vez mais exigido nesta atividade. Com tecnologias acessíveis e até a adoção de práticas simples para maior eficiência e lucratividade, é possível fazer com que a produção até dobre. Para isso, produtores têm provado que não é preciso onerar o orçamento e o primeiro passo é identificar e corrigir pontos fracos.
Foi assim com o produtor de Niquelândia, Carlos Antônio Machado de Miranda. Sem ter de desembolsar muito, ele diz que passou de 150 litros para 350 litros de leite por dia na fazenda com cerca de 16 vacas em lactação. “A gente não fazia, por exemplo, a pesagem do leite e agora a gente sabe o quanto cada animal pode comer e, com isso, trata cada um de maneira separada e faz o acompanhamento certinho”, descreve.
A resposta foi rápida, como afirma, e resultou até em economia. Os melhoramentos são mensais e implementados com ajuda da assistência técnica do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás). Em uma das novidades, está a produção da ração na propriedade. Uma redução de até 40% no custo, como calcula. “Compramos os ingredientes para fazer, temos uma lista, e compramos soja e milho de produtores locais”.
Com seis anos de experiência, explica que aos poucos investiu em ordenha, curral e resfriador. Porém, não havia o controle do gado, não sabia quando uma vaca iria parir e, agora, há inseminação e tudo é monitorado. “A vaca estava perto de parir, não sabia, e caia o leite”. Com as novas técnicas, comemora que dá para tirar mais e o trabalho, que já era dividido com pai e a mãe, atualmente ganhou o reforço de um funcionário.
“A gente buscou orientação e conseguiu de forma gratuita, por meio do programa Senar Mais, porque para trazer um veterinário o custo não seria pequeno e hoje temos um resultado muito melhor”. O leite em maior volume já tem freguesia certa, vai para sorveteria, padaria e para a indústria. Como no caso de Carlos, o presidente da Comissão de Pecuária Leiteira da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), José Renato Chiari, pontua que conhecer o negócio é a principal mudança antes de aderir às novas técnicas e tecnologias.
“Não dá para administrar o que não se mede. A gente precisa criar a cultura de controlar os números tanto financeiros como índice de produção”, adverte. O programa nutricional e o controle sanitário são tidos como passos básicos para esse começo. “Mas, para ter a viabilidade do negócio têm outros pontos importantes, como treinamento de mão de obra, bem estar animal, qualidade do que produz e genética”.
Para identificar onde estão as fragilidades, Chiari pontua que há uma vantagem, a maior parte dos laticínios mandam análise do leite para o produtor. Com as informações, é possível monitorar o que acontece no rebanho. “Outra coisa mais recente, e que não se tinha acesso, são os laboratórios em Goiás que fazem cultura para identificar os agentes causadores de mastite, por exemplo, o que facilita a fazer a prevenção”.
Assistência técnica
Depois da economia no lugar certo, ele ressalta que investimento em genética auxilia a ganhar produtividade. “Há a falsa impressão de que genética vai resolver todos os problemas, porém, se não fizer a lição de casa, a genética não vai se expressar”. Para saber o que é possível ser feito em cada caso, a orientação é buscar assistência técnica. O gerente de Assistência Técnica e Gerencial do Senar Goiás, Guilherme Bizinoto, pontua que o programa Senar Mais, voltado para a assistência técnica, está disponível aos produtores rurais, além do leite, em outras seis cadeias produtivas.
“Há formação de grupos de produtores, de 25 a 30 pessoas, por cadeia produtiva, e o técnico de campo visita uma vez por mês a propriedade”, descreve o programa Senar Mais. A primeira ação é o diagnóstico produtivo, depois, juntamente com o técnico, o produtor vai elaborar um planejamento estratégico para os próximos 12 meses e assim começa as implementações tecnológicas, formação e capacitações complementares.
Com isso, da média de 1,5 mil litros por hectare/ano produtores assistidos conseguem chegar até 15 mil litros por hectare/ano, um aumento de produção de dez vezes. Um dos exemplos de técnicas que auxiliam nisso é a intensificação de pastagem, como cita. A alimentação representa cerca de 60% do custo de produção do leite e tem grande importância na rentabilidade da atividade.
“Com alimentação insuficiente, o animal não consegue expressar seu potencial produtivo. Com assistência, o produtor pode se programar para a produção de volumoso para a seca, por exemplo. De acordo com a característica de cada propriedade, várias são as opções como silagem de milho, de sorgo, pastagens tropicais irrigadas, utilizando técnicas de produção que minimizam os custos e aumentam a produção e produtividade.
Sanidade, manejo e bem-estar animal são outras observações que fazem diferença para a qualidade do leite produzido. Para ter acesso aos cursos, treinamentos e assistência técnica e gerencial, Bizinoto informa que basta procurar o sindicato rural mais próximo para ter informação sobre as novas turmas em cada região.
Novidades
Diante dos desafios crescentes do setor, em que é necessário buscar maior eficiência, o produtor de leite da Cidade de Goiás, Giovani Araújo Godim, implementou um novo método que tem chamado atenção. Há dois anos, ele trocou o sistema de piquete para o chamado Composto de Barn, que é um modelo de instalação para gado leiteiro que visa maximizar o conforto e o bem-estar dos animais.
“As vacas que davam média de 23 litros passaram para 31 litros, sem precisar de hormônios, como muitos aplicam”. Ele defende que, com condições melhores, animais de alta produção têm resposta rápida. “Fizemos dois cursos de manejo racional com o pessoal do Senar, o que completou o quadro”. Sem estresse no ambiente, houve uma melhora geral, segundo ele, e para isso teve de investir cerca de R$ 1,5 milhão.
“Com a melhora da genética dos animais ano a ano, eles exigiram um novo sistema de conforto maior e no sistema a pasto não tem como controlar o ambiente deles”, pontua, ao dizer que a iniciativa é nova no País. Na propriedade, são 210 vacas em lactação e rebanho total de 530 cabeças. No campo do melhoramento genético, que é utilizado por Godim, também é possível dobrar a velocidade com custos menores.
Informações geradas a partir do DNA dos animais passam a ser utilizadas para isso. A chamada seleção genômica começa a ser implantada. Segundo a Embrapa Gado de Leite, a maioria do gado bovino no Brasil é formada pelo Zebu e seus mestiços, com raças europeias, e descobrir as diferenças genéticas entre as raças europeias e indianas é fundamental para os estudos de melhoramento genético dos rebanhos zebuínos.
A diferença do que já é feito é que a seleção genômica racionaliza as apostas que são feitas e o melhoramento genético caminha para se tornar um jogo menos arriscado. Entre as outras novidades importantes para a pecuária leiteira também está medicamento, baseado em nanotecnologia para enfrentar a mastite bovina, que é inflamação da glândula mamária, e foi desenvolvido pela Embrapa Gado de Leite (MG) e a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), que buscou parceiros para produção e comercialização.
O produto pode auxiliar muito já que uma em cada quatro vacas apresenta a mastite pelo menos uma vez ao longo da vida produtiva. Já na parte de alimentação, outra tecnologia lançada pela Embrapa é melhoramento de capim-elefante. A vantagem, nesse caso, é o maior valor nutritivo.
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2º Encontro Empreendedores do Leite
4 e 5 de outubro – Goiânia (GO)
Mais informações: (62) 3096-2200
Por Katherine Alexandria, especial para a Revista Campo
Fotos: Fredox Carvalho e Larissa Melo