Caso de Sucesso: o direito de recomeçar e incentivar uma vida prospera no campo

Advogada se torna produtora rural premiada em Goiás e colhe, junto da família, especialmente do filho de 9 anos, os frutos de uma escolha que a reconectou às origens e abriu novas possibilidades com produtos inovadores feitos à base de mandioca, como sorvete, bombom e palha italiana

Uma história de coragem, amor e reinvenção floresceu no Sítio Terra Prometida, no município de Luziânia, em Goiás. O nome não é por acaso: foi ali que Marcilene Lúcia Moreira Mariano, depois de 16 anos atuando como advogada, decidiu dar um novo rumo à vida. Ao lado do marido, Hilton Fernando Pires, e dos filhos, Maria Fernanda de 19 anos e João Lúcio, hoje com nove anos, ela construiu um futuro conectado à terra e às raízes familiares.

“Eu cresci na roça. Minha família é de origem muito humilde, de Pirenópolis, Goiás. Fui criada em meio a doces, fogão a lenha, tacho de cobre. Minha avó era uma grande doceira, minha mãe também. Eu cresci nesse ambiente”,, relembra Marcilene. “

Com muito esforço e a ajuda dos pais, que não tiveram a oportunidade de estudar, ela se formou em direito, trabalhou como assessora jurídica e passou mais de uma década em escritórios. Mas os rumos mudaram de forma inesperada.

“A minha primeira gestação, ainda quando eu trabalhava, foi de alto risco. Tive eclampsia, e minha filha nasceu com prematuridade extrema. Foi um período muito marcante para mim. Ela nasceu com 970 gramas, e foi muito difícil passar por todos os momentos até que ela pudesse se restabelecer e levar uma vida normal. Fui orientada pelos médicos a não engravidar novamente, já que a eclampsia é uma doença gestacional que poderia se repetir. Dez anos depois, comecei a passar mal e descobri uma nova gravidez já um pouco tardia, quase no quarto mês. Junto com essa descoberta, veio a notícia de que havia um mioma, o que tornava essa também uma gestação de alto risco.”

Diante desse cenário, a decisão foi voltar para o campo para criar João Lúcio, que estava a caminho, junto à natureza. “Decidi que estaria em tempo integral com ele, que ia curtir mais essa gravidez, mesmo já estando quase na metade. Essa decisão teve um impacto muito forte: no meu esposo, no meu pai, que não teve estudo, mas me proporcionou uma formação superior. Então investi numa propriedade que já era da família, mas não tinha nenhuma infraestrutura: sem água, sem luz, sem nada. E eu só tinha um grande sonho: iniciar ali a minha trajetória, plantar, colher, fazer doces.”

Marcilene plantou o primeiro pomar de frutas, regando as mudas com baldes trazidos no carro. Foi o início de uma jornada de trabalho árduo e muitas conquistas. A produção cresceu: goiabas, laranjas e figos deram origem a compotas, geleias e doces cristalizados. Mais tarde, vieram os plantios de gueroba e mandioca.

“Eu me lancei nesse desafio e, graças a Deus, deu certo. Comecei vendendo doces em feiras, fiz cursos no Senar Goiás, me profissionalizei e descobri um mundo de possibilidades.”

Enquanto isso, João Lúcio crescia junto com as plantações e os negócios. “Ele já identificava as plantas pelas folhas, sabia de tudo: ‘Olha, mãe, o pé de gueroba já tem coco! Olha, o pé de goiaba tem fruta!’ O que me chamava a atenção era que todas as frutas que ele comia, ele guardava o caroço no bolso. Os bolsos das roupas dele estavam sempre cheios de sementes, que ele espalhava pelo sítio, onde achava conveniente. E muita coisa nascia.”

Com boas perspectivas comerciais, o plantio de mandioca se tornou uma alternativa promissora de renda. “Desde pequenininho, o João já plantava comigo. Um menino muito dedicado, carinhoso, amoroso com as coisas do campo, e muito respeitoso com o meio ambiente. Sempre se preocupou com as plantas e sempre esteve comigo na época das podas, da adubação, do plantio, da colheita. Então vejo que a decisão que tomei, há nove anos, quando estava grávida dele, valeu muito a pena. Ela me trouxe um retorno enorme: a continuidade desse amor pela terra”, comemora.

Mas viver no campo, literalmente, não são só flores. Exige inovação para se destacar e Marcilene nunca foi acomodada. Ela se capacitou, se conectou com cooperativas e investiu em lavouras padronizadas. Vieram então cursos de aprimoramento em cultivo, processamento e derivados de mandioca, oferecidos pelo Senar Goiás.

“Decidi criar uma linha de produtos derivados da mandioca, mas que fosse inovadora. Comecei a fazer testes, combinando técnicas de cursos e treinamentos do Senar. Por exemplo, criei um bombom de mandioca usando o que aprendi nos cursos de processamento de mandioca e de chocolate. E fui combinando. O sorvete, por exemplo, levou um ano e meio de testes até chegar a uma receita do meu agrado: com cremosidade e um sabor equilibrado de mandioca, que agradasse tanto crianças quanto adultos. Onde eu vou, em feiras, eventos, é um grande sucesso”, comemora,

Com a criatividade da produtora, surgiram outras receitas exclusivas à base de mandioca, como palha italiana, cocada, chips e até o “mandiocotone”: uma versão especial de panetone feita com mandioca.

Hoje, 70% da produção do sítio é de mandioca in natura, vendida para mercados e restaurantes. Os outros 30% vêm da linha de produtos processados, que são os mais lucrativos. O próximo passo é erguer uma agroindústria familiar no Sítio Terra Prometida.

Os bons resultados já trouxeram reconhecimento: “Este ano tem sido muito especial. Recebi dois prêmios: um na AgroBrasília, na categoria Transformação pelo Agro, e outro como vencedora estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, na categoria Produtora Rural. Agora estou na disputa da etapa nacional”, conta, empolgada.

Mas entre os maiores legados no campo, João Lúcio se destaca cada dia mais. Aos 9 anos, já tem sua própria plantação de mandioca.

“Teve um trabalho na escola sobre os indígenas, e eu ensinei como plantar e cuidar da mandioca, com base na experiência que já tenho. Foi muito interessante, porque muitos colegas achavam que se plantava do lado contrário”, lemabra, se divertindo.

João diz que pretende continuar cultivando mandioca. Com o dinheiro das vendas do que já plantou, acredita que, até o fim do ano, conseguirá comprar uma novilha. “Vou continuar com a plantação e começar minha criação de gado. Quando meus pais ficarem velhos e não conseguirem mais trabalhar, eu vou cuidar de tudo, plantar mais mandioca e criar vários animais”, planeja.

Ao lado do marido e dos filhos, Marcilene vive uma história inspiradora, que une passado, presente e futuro. O Sítio Terra Prometida deixou de ser apenas uma propriedade: tornou-se o solo fértil de uma vida sonhada, trabalhada e cultivada, onde raízes familiares crescem firmes e dão frutos doces.

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Fotos Cíntia Ferreira

Comunicação Sistema Faeg/Senar

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