A demanda por crédito rural disparou no trimestre de abertura do ano-safra 2020/2021. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que os desembolsos somaram R$ 73,8 bilhões no acumulado de julho, agosto e setembro, um avanço de 28% em relação aos três primeiros meses do ciclo anterior. A procura é intensa por recursos em todas as operações (custeio, comercialização e investimentos), um cenário que já leva ao esgotamento precoce das principais linhas com juros subsidiados do Plano Safra 2020/2021.
Vários fatores explicam o apetite dos produtores e agroindústrias. Redução dos juros, perspectiva de safra recorde de grãos, valorização das cotações de importantes produtos da pauta de exportação (soja, milho, café, algodão, proteína animal) e demanda internacional aquecida potencializaram as margens no campo. "O aumento das exportações e o câmbio favorável trouxeram para diversas culturas e atividades alguns dos preços recorde da série histórica. Isso explica uma demanda crescente por crédito e que deve continuar", explica Antonio Chiarello, diretor de agronegócios do Banco do Brasil.
Para a atual safra, o BB disponibilizou R$ 103 bilhões para o campo, volume 11,3% maior em relação aos R$ 92,5 bilhões do último ano agrícola. Entre julho e setembro, foram emprestados R$ 30 bilhões, alta de 20% em relação a igual período do ano passado. A demanda está especialmente aquecida por linhas de investimento, conforme balanço da Secretaria de Política Agrícola (SPA) do Mapa. Neste início da safra, enquanto os contratos de financiamento de custeio subiram 20% (R$ 42,5 bilhões) e os de comercialização 4% (R$ 6,5 bilhões), a contratação das linhas de investimento teve alta de 72% (R$ 19,6 bilhões).
" O recorde de produção agrícola com preços inimagináveis, aliado a um custo de produção que não se alterou tanto, aumentam as margens e levam o produtor a buscar produtos de crédito para investir", opina o diretor de agronegócio do Bradesco, Roberto França.
O forte apetite nas operações de investimentos levou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a alertar para o esgotamento dos recursos de programas com linhas equalizadas, a exemplo do Pronaf (agricultura familiar), Pronamp (médios produtores rurais) e Inovagro (inovação tecnológica). A queda nas taxas de juros contribuiu para a redução das taxas dos programas equalizados, o que aumentou a demanda. "Se compararmos as taxas médias com as da safra anterior, elas estão entre 1,0 e 1,5 ponto percentual em média mais baixas", diz Tiago Luiz Peroba, chefe do Departamento de Clientes e Relacionamento Institucional do BNDES.
Já antevendo a alta demanda, o Mapa previu para o atual Plano-Safra o remanejamento de recursos entre as linhas com maior e menor demanda. "Mesmo que isso ocorra, é pouco provável que dê conta de suprir a procura e a demanda reprimida da safra passada", diz o diretor-executivo de crédito do Banco Cooperativo Sicredi, Gustavo Freitas. A situação não é inédita. No ciclo passado, diz o executivo, também houve o esgotamento precoce de recursos de longo prazo de programas equalizados.
"Em algumas linhas operadas pelo BNDES, os recursos se esgotaram em 22 de outubro de 2019. Em maio deste ano, o orçamento adicional de R$ 500 milhões se esgotou em quatro horas e meia", diz. No primeiro trimestre do atual ano-safra, o Sicredi já desembolsou R$ 9 bilhões, um crescimento de 20% sobre os R$ 7,5 bilhões de igual período do ano passado. Nas linhas de investimentos, o crescimento foi de 141%.
As instituições financeiras estruturam alternativas para financiar o campo, em uma matriz que se torna mais diversificada a cada ano. Crescem recursos em poupança com exigibilidade rural, Cédulas do Produto Rural (CPR), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e recursos livres.
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Fonte: Valor Econômico