Brasília (9/10) - Os produtores de cana-de-açúcar e as usinas de etanol tiveram prejuízo na safra 2012/2013, com os preços comercializados bem inferiores ao custo total da atividade. Para os fornecedores independentes, a margem de lucro foi negativa em 31% no Nordeste, acarretando perda média de R$ 22,91 por tonelada, enquanto nas regiões tradicionais (São Paulo e Paraná), este valor recuou 21,14%, o equivalente a – R$ 13,61 por tonelada.
Nas regiões em expansão, onde estão as novas fronteiras agrícolas da cana (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais), embora em menor dimensão, também houve prejuízo aos fornecedores independentes, com as margens de lucro negativas em 3,94% (R$ 2,53/tonelada). Os dados fazem parte de um estudo elaborado por técnicos do Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas, da escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Pecege/Esalq).
O resultado do levantamento foi apresentado nesta terça-feira (8/10) na reunião da Comissão Nacional de Cana-de-açúcar da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), pelo gestor de Projetos de Pesquisa do Pecege, Carlos Eduardo Xavier, um dos coordenadores do estudo, feito a partir de levantamentos de custos de produção de cana, etanol e açúcar realizados em 15 regiões produtoras. “Este cenário dos preços inferiores ao custo total foi constatado na maioria das regiões pesquisadas”, explicou.
Segundo o estudo, um dos fatores que contribuiu para os expressivos prejuízos aos produtores independentes de cana é o alto valor das terras arrendadas para o cultivo da matéria-prima, no caso das regiões tradicionais, e a incorporação dos custos de capital no Nordeste, que impactaram diretamente no custo total da atividade canavieira. “Se não mudarmos a atual política do setor sucroenergético, perderemos competitividade e muitos produtores sairão da atividade”, afirmou o presidente da Comissão, Enio Fernandes.
Na sua avaliação, além do custo de produção, outro problema vivido pelos produtores é a formação dos preços pagos pela cana-de-açúcar, hoje feita na maioria dos estados pelo Consecana, conselho formado por produtores de cana, etanol e açúcar, que decidem o valor da tonelada a ser pago ao fornecedor. “A remuneração da matéria-prima é injusta, ficando de 10% a 13% abaixo do valor real”, justificou Fernandes.
Ainda assim, ressaltou, os produtores na safra 2012/2013 foram mais eficientes em relação às usinas que têm produção de cana-de-açúcar própria, segundo apontou o estudo. Este fator, acrescentou Fernandes, pôde ser constatado a partir da comparação dos níveis de Açúcar Total recuperável (ATR), que mede a qualidade da matéria-prima, “desmentindo as afirmações de que o fornecedor independente não é um bom gestor”.
Etanol – O estudo do Pecege mostrou que os custos do etanol também ficaram bem acima dos preços de comercialização. As margens de lucro ficaram negativas em 17,5% para o etanol hidratado no Nordeste, e de 12,2% e 11,9% nas regiões tradicionais e de expansão, respectivamente. Para o etanol anidro, as margens para as três regiões pesquisadas foram de -6,4% (regiões tradicionais), -5,2% (regiões em expansão) e de -11,4% (Nordeste). “Se não mudarmos a atual política para o etanol, perderemos competitividade e muitos produtores sairão da atividade canavieira”, alertou.
O açúcar foi o único dos três produtos em que a margem ficou positiva. No Nordeste, o lucro foi de 10% para o açúcar branco. Para o açúcar bruto, chamado de VHP e que é destinado à exportação, a região de expansão teve margem de lucro elevada em 11%. Nas outras regiões, tanto para o açúcar branco quanto para o VHP, a margem foi de pouco mais de 2%, o que faz com que as usinas fiquem receosas em ampliar a produção para evitar um excesso de oferta, e a conseqüente queda dos preços.