No quintal da chácara que fica no município de Bela Vista de Goiás, Valdevino Oliveira tem mais de 250 pés de jabuticaba. Algumas árvores foram plantadas pelo avô dele e outras são nativas, com estimativa de mais de 100 anos. Todas ficam carregadas de frutas no mês de setembro. A plantação é irrigada para que a colheita possa ser precoce e assim ter um melhor preço de venda. Durante o ano todo, o material orgânico das outras plantas, como folhas e galhos, é amontoado em leirões para se transformar em adubo, que depois é colocado na raiz das jabuticabeiras.
De uns dois anos para cá o produtor notou que os galhos de alguns pés começaram a secar e na parte baixa do tronco apareceu uma espécie de pó branco. É como se um fungo estivesse agindo aos poucos na da planta até atingir a árvore toda.
Valdevino passou a serrar os galhos doentes na tentativa de que a doença não se espalhe para o restante do pé. Isso compromete bastante a produção já que é preciso esperar anos para a planta se refazer.
"Eu gostaria de saber se tem algum produto que eu possa aplicar nas jabuticabeiras para impedir a secagem dos galhos e também algo que possa usar como prevenção nos outros pés?", pergunta Valdevino.
O agrônomo, especialista em fruticultura e coordenador do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Alexandro Alves, analisou as fotos enviadas pelo produtor e envia a resposta:
"Olá, seu Valdevino! As galerias nos troncos e galhos das árvores do pomar de jabuticabeiras, conforme as fotos enviadas, são formadas por larvas de coleópteros (besouros) que, ao colocar seus ovos na casca ainda viva das árvores, se alimentam de tecido vegetal. Isso é visualizado facilmente quando se vê pequenas galerias formadas no tronco da planta por entre a casca. Outro ponto característico é a formação de um pequeno orifício no tronco por onde a larva penetra e assim causa danos no interior da planta, impedindo o fluxo interno de água e nutrientes. Por isso é chamada de Broca do Lenho (ou tronco). O ataque dessas brocas resulta em sérios prejuízos ao pomar:
● Enfraquecimento e quebramento de ramos produtivos pela ação do vento ou simplesmente o contato de máquinas e implementos agrícolas;
● Entrada de fungos e bactérias causadores de doenças nas plantas;
● Favorece a instalação de formigas e cupins;
● Queda na produção;
● Secamento gradativo de plantas
● Tombamento e morte prematura de plantas.
A localização e o ataque diferenciado das brocas (no lenho), formando galerias em toda extensão interna do tronco e dos ramos, permitem que a praga fique fora do alcance dos inseticidas comuns. Mesmo quando injetados, os inseticidas líquidos não possuem a capacidade de percorrer toda a extensão da galeria ao encontro da praga, que se caracteriza pelo formato em diferentes direções. O tratamento sistêmico (toda a planta) é inviável e deixa resíduos nos frutos, além de não atingir o lenho das árvores onde estão localizadas as pragas.
Por esse motivo, o melhor controle é a inspeção visual das árvores e eliminação dos troncos ou galhos contaminados pela praga. A localização é simples: basta ver a presença de serragem ou pó de madeira nas proximidades do orifício da broca. Sendo localizada, pode-se inserir um pequeno fio ou arame pela galeria de modo a esmagá-la e assim eliminá-la. As larvas podem permanecer na planta por até um ano e quanto mais demorado for o controle, maior o dano. Alguns inseticidas também podem ser introduzidos no orifício como produtos à base de gás fosfina, mas para isso deve-se consultar um Engenheiro Agrônomo para a melhor recomendação."
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Mitos e verdades
Pregos na jabuticaba
Em um passeio pelos quintais dos nossos avós, tios é comum encontrar jabuticabeiras com pregos cravados no tronco. A justificativa é de que isso faz a árvore dar mais frutos. Os ferimentos provocados pelos pregos estimulariam a produção do hormônio etileno, que induz ao florescimento, e sua oxidação fornece uma pequena quantidade de ferro à jabuticabeira.
Será que isso procede ou pode encurtar a vida da planta?
Verdade, mas com cuidado! Talvez a técnica possa funcionar, mas pode causar a morte da planta também. Isso pode ser verdadeiro, como dito, porque o prego provoca ferimento, estimulando a produção do hormônio etileno, que induz ao florescimento, e sua oxidação fornece uma pequena quantidade de ferro à jabuticabeira. O mais indicado, porém, é plantar mudas propagadas vegetativamente como as enxertadas e cuidar adequadamente, adubando e irrigando a planta, que produzirá quando estiver pronta. Isso terá muito mais efeito que um prego.
Um outro fator importante é que muitas vezes o ferimento se torna porta para a entrada para fungos e bactérias, que podem matar a jabuticabeira, além de outras árvores frutíferas onde se utiliza tal técnica. Resumindo, a técnica é muito mais arriscada do que benéfica para a produção de frutas.
Como melhorar a produtividade então?
Em média, as jabuticabeiras podem viver até 20 anos em fase produtiva, mas já há registros de plantas com quase 100 anos de idade, apesar disso ser muito raro. Geralmente, a jabuticabeira começa sua fase plena de produção com 10 a 15 anos, porém, com o plantio de mudas mais atuais com técnicas de melhoramento se consegue plena produção com 7 anos.
O aumento na produção é possível com incremento de produtividade, para isso basta seguir as técnicas agronômicas comuns para outros tipos de plantas como análise de solo, calagem, gessagem e adubação de modo a nutrir bem a planta. Além disso o uso da irrigação também proporcionará bons índices de produtividade ao longo da safra. O monitoramento de pragas e doenças também é fundamental para a boa sanidade do pomar.
Comunicação Sistema Faeg/Senar