O Brasil importa mais da metade do trigo que consome e, da parte que é produzida no país, quase tudo vem do Sul. Mas isso pode mudar: o grão está conquistando também o cerrado. O Oeste da Bahia, por exemplo, alcançou no ano passado a maior produtividade média do país: 6 toneladas de trigo por hectare. A média nacional não chega a 3 toneladas.
Na região de Luís Eduardo Magalhães, pelo menos cinco agricultores apostaram nesse cultivo como uma alternativa para a entressafra de soja. Juntos, eles já somam 3 mil hectares de plantação.
Só na fazenda de Fábio Ricardi, a lavoura de trigo saltou de 100 para 900 hectares. "Ele entrou para suceder outras culturas e evitar doenças, diminuir pragas de solo e melhorar a rotação de culturas", conta.
A cultura é irrigada e a água é cortada na hora certa, fazendo com que o cereal feche o ciclo sem umidade no grão. Assim, o trigo pode ser armazenado por mais tempo e o produtor escolhe a melhor época para vender. Com isso, chega a ganhar de 15% a 20% mais. Além da Bahia, Minas Gerais, Distrito Federal e Goiás também apostaram na cultura. Em todo o cerrado, a produção aumentou cerca de 70% nos últimos oito anos.
A família do produtor Egydio Bonato planta trigo em Cristalina, Goiás, há 30 anos. Ele trouxe a experiência do Rio Grande do Sul e resolveu apostar no cerrado por conta do clima que favorece o desenvolvimento do grão, com dias quentes e noites mais frias, em torno dos 11 graus. Neste ano, plantou 180 hectares de trigo e a produção foi de 1,2 mil toneladas.
Trabalho da Embrapa
A boa produção e qualidade do trigo no cerrado se devem muito ao trabalho da Embrapa. Em 40 anos de pesquisa em melhoramento genético, a instituição já desenvolveu em torno de 50 novas variedades de trigo adaptadas para a região. A busca é por alta produtividade e qualidade industrial para panificação.
"Nós buscamos trigos com alta força de glúten, alta estabilidade, principalmente. É o que vai fazer com ele produza uma farinha de boa qualidade", explica Júlio Albrecht, pesquisador da Embrapa Cerrados.
O desafio agora é encontrar variedades de sequeiro, que não dependam de irrigação, para a região. O produtor José Guilherme Brenner está plantando trigo de sequeiro em suas terras pela terceira vez. Esse tipo precisa de temperaturas ainda mais baixas que o irrigado. Este ano, conseguiu colher 2,8 mil quilos de trigo por hectare, um rendimento acima da média nacional.
Sua produção vai para a Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF). Hoje, dos 150 cooperados, 30 plantam trigo de sequeiro ou irrigado. Esse trigo, que antes enfrentava resistência da indústria, hoje tem um dos maiores rendimentos do país: até 800g de farinha por cada quilo de grão. No mês passado, cooperativa bateu o recorde de moagem: 1,05 toneladas de farinha.
"Acho que o cerrado tem uma importância muito grande nessa autossuficiência no trigo nacional. Talvez vá tornar o Centro-Oeste um exportador de matéria-prima para os estados do Sul, e talvez que sabe até para outros países", diz Leomar Cenci, presidente da Coopa-DF.
Os brasileiros consomem 11 milhões de toneladas de trigo por ano. Assim como esse cereal, a soja também começou a ser cultivada no Sul do país e foi se adaptando ao cerrado até se tornar o grão mais cultivado do país.
Conteúdo: Globo Rural
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