O processo de migração envolveu a quebra de um manejo tradicional, investimento em uma nova maneira de produzir e gestão assertiva. Com isso, a Fazenda Cana Brava, a 12 km de Buriti de Goiás, é exemplo de sucesso com apoio do Senar Goiás
“Já trabalhei com leite, mas é uma atividade que não me permitia ter a flexibilidade que gostaria. E como a propriedade aumentou, optei pelo corte, por ser uma atividade com mais facilidade, mesmo não deixando de ser desafiadora”, conta o produtor Wedes Alves de Oliveira.
A sucessão familiar é parte do trabalho no campo, adaptado para melhor rentabilidade. “Minha família chegou na região em 1945 e foi deixando esse legado. Continuamos com as propriedades que vieram dos meus avós e do meu pai”, lembra Wedes, que representa a nova geração à frente dos negócios rurais.
Com um rebanho de 186 animais entre vacas e bezerros, além de 20 novilhas precoces, Wedes viu sua forma de produzir se transformar com a Assistência Técnica e Gerencial do Senar Goiás (ATeG) na pecuária de corte. “Eu conheci o Senar por meio do técnico Adair Neto, que nos procurou oferecendo assistência técnica. Ele explicou sobre o programa e a gente topou, buscando alguém que nos ajudasse a melhorar o que já fazíamos aqui na fazenda. Com a assistência do Senar, a gente melhorou, aumentou a produtividade e trouxe novas tecnologias que ajudaram muito na produção dos animais. Essa questão técnica ajuda muito. Indica qual o melhor jeito de se trabalhar e traz as novidades para a gente. A gente aderiu a isso”, reforça.
O acompanhamento técnico atual é feito por Matuzalém José de Souza Paula, técnico de campo Senar Goiás, que destaca os principais marcos da transformação na propriedade.
“Quando a assistência do Senar começou, a fazenda de herança era extensiva, de pastos grandes. O gado que tinha nela era um rebanho pequeno, mais ou menos 40% do que tem hoje. Os animais estavam com peso mais baixo e de padrão racial pior do que o que têm hoje em dia”, relata Matusalem.
A mudança começou com o trabalho do técnico anterior, Odair, que deu início a um processo estruturado de seleção genética, implantação de estação de monta e adoção da inseminação artificial por tempo fixo (IATF).
“Depois do início da assistência com o Odair, começou um processo de seleção dentre esses animais da própria fazenda, implementou a estação de monta na fazenda e também implementou a técnica da IATF. E, mais ou menos dois anos depois, eles começaram esse processo de inseminação. Foi feita a venda de todos os touros de repasse da fazenda. Então, a partir do segundo ano de estação de monta, era 100% inseminação artificial, não tinha mais repasse com touro”, explica o técnico.
Com a melhoria genética e o aumento da taxa de prenhez, o rebanho cresceu e foi iniciada a retenção de fêmeas e a expansão do plantel. A estrutura da fazenda também evoluiu: foi implantado um módulo de pastejo rotacionado, com adubação, para intensificar o uso das pastagens e melhorar o desempenho dos animais.
“A partir do momento que começou esse processo de seleção, também iniciou um processo de expansão do rebanho, porque essas vacas foram parindo, foram retendo as filhas delas, essas fêmeas foram expostas à reprodução e, por consequência, o plantel expandiu. Com o crescimento desse plantel, iniciou-se também o processo de intensificação da fazenda. Então, foi criado um módulo rotacionado, dividido em quatro piquetes, onde esses animais são colocados de forma rotacionada e é feita a adubação”, explica.
Quando Matusalem assumiu a assistência técnica, novos desafios vieram à tona, principalmente na área sanitária, que passou por reestruturação. “Depois que eu assumi a parte da assistência, a gente fez diversas correções na parte sanitária, com vermifugação, com cura de umbigo, com vacinação também, utilização de vacinas reprodutivas nas matrizes.”
A nutrição do rebanho também foi um ponto de virada. Com base em dietas balanceadas, o trabalho passou a considerar diferentes estratégias para cada fase dos animais, garantindo melhores desempenhos e precocidade na terminação.
“Hoje, a gente trabalha 100% com uma dieta balanceada para esses animais, onde a gente está sempre fazendo a alteração. Boa parte do tempo, esses animais consomem apenas proteinado, tanto as matrizes como os animais em recria. E tem também o sequestro das fêmeas, que a gente faz. As precocinhas, que são inseridas aos 14 meses. E os machos, após desmame, eles também são sequestrados no confinamento. A gente faz uma dieta de adaptação, seguida de uma dieta de crescimento e, no final, uma dieta de terminação. A gente procura finalizar esses machos até os 16 meses”, explica.
A gestão reprodutiva também se profissionalizou. A fazenda hoje descarta 100% das matrizes vazias ao final da estação de monta, mantendo um rebanho mais eficiente.
“A gente observa a estação de monta, faz um repasse no final da estação e todas as matrizes vazias são descartadas. E aí, de tempos em tempos, ele faz reposição, né? Ou de vacas paridas, ou compra vacas prenhes e encaixa esses animais na estação de monta”, detalha o técnico de campo do Senar.
O caso da Fazenda Cana Brava mostra que com assistência técnica contínua e decisões estratégicas bem aplicadas, é possível alcançar eficiência, produtividade e rentabilidade, mesmo em propriedades familiares e com histórico extensivo.
Para Wedes, o maior desafio ainda está fora da porteira: “Hoje, o grande desafio da pecuária de corte é o preço. A gente não manda no produto que produz, o que a gente compra é volátil. Mas dentro da propriedade, a gente tenta baixar custos para ter uma melhor remuneração. E é aí que o Senar entra, nos ajudando com conhecimento técnico e práticas mais eficientes”, agradece.
Comunicação Sistema Faeg/Senar/Ifag