Faeg inaugura programa que liga eleitorado e figuras políticas

Murillo Soares

Em Varjão, a equipe da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural em Goiás (Senar Goiás) deu início nesta segunda-feira (16) à Agenda de Desenvolvimento Municipal. O programa tem como objetivo avaliar as necessidades e desafios de 120 municípios goianos, em parceria com os respectivos Sindicatos Rurais (SRs). Na cidade, a reunião aconteceu na Cooperativa Mista Agro-Pastoril de Varjão (Coval), onde estavam ainda representantes da prefeitura, da Câmara dos Vereadores, de associações e da sociedade em geral.

A Agenda de Desenvolvimento Municipal de 2016 é uma continuação da edição que aconteceu em 2012, durante as últimas eleições municipais. Equipes do Sistema Faeg/Senar percorreram municípios de Goiás listando problemas que incomodavam os moradores. Destes encontros foram feitas cartilhas com os tópicos levantados, que foram entregues aos prefeitáveis durante a campanha, para que o chefe do executivo eleito pudesse estar ciente dos anseios da população. Assim como em 2012, nesta segunda-feira (16) foram discutidos tópicos sobre: educação; saúde e promoção social; infraestrutura e logística; empreendimento econômico; meio ambiente; política agrícola municipal; gestão pública; e, por anseio dos presentes, segurança pública.

Rafael Pereira, presidente do Sindicato Rural e vice prefeito de Varjão, afirmou que os tópicos discutidos podem, inclusive, servir de base para futuros debates eleitorais. Rubens Santana, presidente da Coval, listou duas mudanças primordiais que deveriam partir daquele encontro. A primeira delas, segundo ele, é abusar de gestão corporativa. “Prefeito, vereadores e a sociedade devem estar em sintonia”, comentou. Ele disse ainda que é necessário ter mais comunicação. “Neste aspecto, pecamos em todos os âmbitos, pessoal e profissional, nos meios privado e público”, salientou.

Metodologia

Segundo Eurípedes Bassamurfo, superintendente do Senar Goiás, cada município tem uma particularidade, “não importa o tamanho do eleitorado”, ressaltou. Para isso, explicou ele, a equipe Faeg/Senar mobilizou meios para debater e melhorar a gestão e a qualidade de vida da população. “O documento que criaremos a partir do que for falado também visa definir prioridades”, sublinhou. Claudinei Rigonatto, superintendente da Faeg, complementou a fala de Bassamurfo, ressaltando que o principal combustível do programa é a participação popular. “Por que não dar a sua contribuição”, indagou aos participantes.

Ele deixou claro, ainda, que, apesar de ser bem útil nas eleições, o foco da Agenda de Desenvolvimento Municipal não é esse. “Nós estamos aqui pensando no bem estar da população, sobretudo em Varjão, cuja economia é predominantemente voltada para o agro, nossa área de atuação”, explicou. “Além do mais, não podemos deixar os levantamentos dos problemas e soluções dos municípios ficarem por conta de marketing eleitoral. Vamos trabalhar para crescer o bolo e todos terem uma fatia dele”, continuou. Já Vitor Hugo Evangelista, gerente sindical da Faeg, sintetizou o objetivo da equipe em três perguntas: “o que já foi realizado?”, “o que ainda é prioridade?”, e “quais são as novas demandas?”.

População ativa

Daniela Souza de Faria tem 26 anos e, apesar da pouca idade, luta com vontade por melhorias em Varjão, sobretudo na área da Educação, tópico em que mais discutiu e trocou ideias com a equipe do Sistema Faeg/Senar. “Minha maior preocupação é com meus filhos e quero que eles, assim como as demais crianças do município, tenham o melhor possível”, contou. E por que bater tão forte na tecla da Educação? “Para ter um lar estruturado, a base precisa ser uma boa educação. Assim, teremos menos violência e menos gente nas ruas”, explicou.

Aproveitando para chamar atenção sobre a falta de participação popular no que tange questões políticas, ela se queixou da quantidade de pessoas presentes. Dos mais de 3 mil eleitores de Varjão, cerca de 80 foram ao encontro. “A própria população está descrente”, lamentou. Daniela, no entanto, acredita que reuniões como esta podem resgatar a fé do coletivo pessoal, já que há a possibilidade de os prefeitáveis ouvirem os verdadeiros clamores da sociedade, segundo disse. “É uma oportunidade de nos ouvirem. Um canal aberto para o diálogo”, concluiu.

Essa relação entre eleitores e políticos também foi destacada por Francisca Ferreira Silva de Urzêda, 45 anos. Ela mesma era uma das pessoas que estavam desiludidas com o cenário político do munícipio. “Eu nem queria vir”, confessou. “Reuniões geralmente ficam só no verbal ou no papel”, afirmou. Ela, entretanto, mudou de ideia porque uma palavra chamou sua atenção: debate. “E foi justamente isso que aconteceu: a Faeg nos ouviu e se comprometeu a ser essa ponte entre nós e o setor público”, continuou.

A maior preocupação de Francisca era com a segurança pública e foi uma das pessoas que mais lutou para a inclusão deste item no documento que será feito. Há pouco mais um mês, sua casa foi furtada e, segundo ela, até hoje o evento deixou traumas. “Minha perda material não foi o principal, e sim a perda da confiança de estar segura em minha própria casa”, contou. “Só temos um carro de polícia que roda Varjão e os distritos. Além dos furtos, temos ainda problemas sérios com drogas que circulam livremente pela cidade. Vejo jovens usando substâncias nas praças”, desabafou. E, após a conversa, assim como em Daniela, a fé e a esperança de dona Francisca foram restauradas. “Agora sinto-me mais disposta a lutar por melhorias em meu município”, alegou.