De assistente administrativo, com funções mais operacionais, para gerente de armazém. Esse foi o salto que Reinaldo Matos Cruz, 29, vivenciou na cooperativa agrícola em que trabalha. No trajeto dessa mudança esteve a formação como Técnico em Agronegócio. Durante o curso, oferecido gratuitamente pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás), ele afirma ter ganhado visibilidade dentro da empresa. A promoção ocorreu antes de se formar. “O curso foi um divisor de águas na minha vida. Saí uma pessoa bem diferente, com bastante bagagem”.
Reinaldo começou o curso técnico no segundo semestre de 2015, motivado pela oportunidade de entender um pouco mais do agronegócio. Ele informa que havia feito no mínimo três cursos de curta duração do Senar, via ensino a distância (EaD), entre eles, um voltado para comercialização de produtos agrícolas e outro para administração de empresas rurais. Foi por meio do cadastro nesses, que descobriu o curso técnico. “Minha principal motivação foi a de estar mais interagido com a realidade do agro, que não é só plantar e colher, tem uma série de coisas envolvidas”, informa.
Ele se formou no primeiro semestre de 2017 e, na atual função, de gerente de armazém, afirma que pode colocar em prática o que aprendeu. “Na cooperativa que trabalho tem armazenagem de grão, logística... e tudo vi no curso, então pude agregar para empresa”. A conquista do novo cargo foi acompanhada de uma mudança de cidade. Saiu de Rio Verde para Jataí. Hoje, na atual unidade, Reinaldo responde pela estocagem, recebimento de produtos, logística e gerenciamento de uma equipe formada por 21 pessoas.
Curso do programa Rede e-Tec, que está vinculado ao Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), o Técnico em Agronegócio é disponibilizado desde 2015 no Estado. Voltado para alunos que concluíram o ensino médio, preferencialmente, ligados ao meio rural, tem duração de dois anos, com 1.230 horas. É dividido em quatro semestres, sendo 80% ministrado a distância e 20% em encontros presenciais em um dos 10 polos existentes em Goiás. A média é de um encontro a cada 15 dias.
Cada polo ofertante disponibiliza em média 40 vagas por semestre. Na última seleção foram abertas oportunidades em cinco polos do Estado. Entre os 19 Estados que oferecem o curso, Goiás registrou o maior número de inscritos no processo seletivo do segundo semestre de 2017, com 1.910 candidatos. Goiânia liderou a concorrência no País, com 22,80 por vaga. A próxima seleção está prevista para o início de 2018. Gerente de Educação Formal do Senar Goiás, Fernando Couto informa que o Técnico em Agronegócio é um curso voltado a formar profissionais com visão ampla para o agronegócio, com condição de atuar nos elos antes, dentro e depois da porteira.
Com atuação em agência bancária há quatro anos, Douglas Antônio de Morais, 24, assumiu a partir de janeiro de 2017 uma carteira de clientes em que cerca de 90% são pequenos produtores rurais. Desde então, apesar do banco oferecer treinamento interno, ele diz ter saído em busca de formações complementares para prestar “um bom atendimento”. Ele, que está no sétimo período de Direito, ingressou no curso Técnico em Agronegócio no segundo semestre de 2017. “Eu particularmente nunca tive contato direto no campo. Só do lado de cá, processo e papel. Agora deu para ver do ponto de vista do produtor”, afirma. Após concluir o curso ele diz acreditar que a principal mudança será a forma de enxergar como o produtor trabalha na propriedade e o modo que funciona a administração da atividade.
Variedade de cursos
Além do Técnico em Agronegócio, o Senar Goiás, desde julho de 2014, disponibiliza uma série de cursos de curta duração, que já capacitaram mais de 10 mil alunos até o final de 2017. Disponibilizados de forma on-line, eles são voltados para as características do setor rural no Estado, segundo Fernando Couto. No início foram disponibilizados dois cursos, hoje são 25 distribuídos em quatro programas: Minha Empresa Rural, Jovem Empresário Rural, Agricultura de Precisão e Gestão de Riscos, que trabalha a segurança no trabalho rural.
Os cursos de curta duração têm carga horária entre 16 e 20 horas e são voltados para pessoas com atuação ou interesse em atuar no agronegócio. Única exigência para participar é ser alfabetizado e maior de 15 anos, além de ter acesso a internet. A partir do início do curso o aluno tem um mês para concluí-lo.
Ainda no processo de formação, o Senar Goiás atua com o Programa Jovem Aprendiz, com cursos de capacitação para atender demandas de empresas ligadas a área rural. Além disso, oferece programa de gestão do agronegócio e formação de novas lideranças, trabalhando temas como oratória e comunicação, liderança, gestão de pessoas e empreendedorismo. Esse, segundo Couto, é aplicado dentro dos grupos Faeg Jovem, que hoje já passam dos 70 no Estado.
Além de todos esses cursos, Couto informa que planejam ainda em 2018 passar a ofertar cursos de pós-graduação na área rural, voltado a profissionais com formação superior em ciências agrárias e áreas afins. Essa é uma área nova a nível de Senar, e, segundo o gerente, poderá ser ofertada em qualquer localidade de acordo com a aptidão de cada região do Estado. Ele lembra ainda que, a nível de graduação, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já oferece o curso de Tecnologia em Agronegócio, com duração de três anos, presencial, via Faculdade CNA. “A gente busca dar formação continuada ao meio rural, buscando desde o público mais jovem, via Agrinho, trabalhando na educação básica temáticas da área rural, meio ambiente e responsabilidade social; depois cursos para jovens, de formação continuada e curso técnico; até pós-graduação”, diz o gerente.
Impacto
O presidente do Sistema Faeg Senar, José Mário Schreiner, afirma que, diretamente, o impacto dos programas de educação voltados para o campo é mensurado pelo aumento da produtividade através da qualificação da mão de obra. “A gente só consegue transformar a vida das famílias com a educação e com a transferência de tecnologia para elas. Sem conseguir levar uma educação adequada, seja através de vários modelos que nós temos e também ainda o acompanhamento técnico, que também é educação, a gente não consegue resultados positivos”, diz. Ele ainda acrescenta que a educação “é extremamente importante” para que se possa dar condição de melhorias para todas as famílias que vivem no campo.