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Olhar para as comunidades Quilombolas em Goiás

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Campo Saude Cavalcante Larissa Melo 117Parte das 47 comunidades quilombolas no Estado conta com ações sociais, de cursos e de treinamentos ofertadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás). Com necessidades, identidade e cultura próprias – herança de uma história escrita com os tons da resistência – esses povos tradicionais já receberam atendimentos na área de saúde e foram contemplados com formações focadas na agricultura familiar que ajudam a garantir renda e trabalho.

Em maio deste ano, por exemplo, o município de Cavalcante, onde estão as comunidades Capela, Kalunga dos Morros e São Domingos, recebeu atendimentos em saúde e cidadania do programa Faeg/Senar em Ação. Exames preventivos de câncer de colo de útero e de próstata foram realizados. “Identificamos pessoas de idade avançada que nunca tinham feito esse tipo de exame. Isso nos comoveu e mostra o quanto elas estão desassistidas pelo poder público”, comenta o gerente de Promoção Social do Senar Goiás, Flávio Henrique Silva.

A falta de assistência periódica nessa área ocasionou resultados preocupantes. “Voltamos com um médico especialista para fazer um acompanhamento, pois o número de pessoas com alteração no exame de câncer de colo de útero e de próstata foi muito alto”, explica Silva, informando que também foram realizados atendimentos em oftalmologia e pediatria. A previsão é que no próximo ano, ainda no primeiro semestre, o programa Faeg/Senar em Ação volte à cidade.

Cavalcante também está entre os municípios com comunidades quilombolas contemplados pelos cursos do Senar Goiás, direcionados principalmente à agricultura familiar. De 2015 até agora, as formações chegaram aos povos tradicionais de Posse, Divinópolis, Flores de Goiás, Monte Alegre, Iaciara e Teresina de Goiás, como informa a gerente de Formação Profissional Rural, Samantha Andrade. “Em todos eles, até pela vertente da população que compõem essas comunidades, fizemos produtos da agricultura familiar”, explica.

Entre os cursos, estão o de suinocultura básica, voltado para animais criados no fundo de quintal para consumo da família; agricultura família; hortas e fruticultura, cita a gerente. O interesse principal nesse tipo de treinamento, segundo ela, “é ajudar as famílias a produzirem alimentos similares ao do mercado e utilizá-los para a subsistência.”

De acordo Samantha, em alguns municípios, como Cavalcante, Iaciara, Monte Alegre, a demanda é mais tecnificada. Nesses casos, foram realizados cursos sobre piscicultura e de mecanização - uso de tratores e retroescavadeiras -, e até de inseminação artificial voltado para a pecuária leiteira. “Nesse caso, a gente entende que essas comunidades estão acompanhando o desenvolvimento da região, esse upgrade tecnológico”, diz.

Versatilidade

Outra vertente são os treinamentos que dão suporte, como os de eletricidade, hidráulica e alvenaria básica rural, além de solda elétrica. “Essas comunidades têm acessado mais cursos que servem para mais de uma atividade, mas sempre com o cunho de agricultura familiar”. Samantha avalia que essa versatilidade é fundamental para que os quilombolas possam migrar de atividade, conforme a demanda da região ou da economia, e a tocar atividades mais flexíveis.

“A galinha caipira pode ficar um, dois anos sendo criada no quintal até ser consumida, diferente de um gado de leite. Se não tirar o leite, o animal vai ter uma doença, a mastite, que terá que ser tratada com um antibiótico. Ou seja, é uma atividade que tem que ser tratadas com uma atenção, um dispêndio de energia maior”, compara.

Resistência

As comunidades dos quilombolas surgiram a partir do início do ciclo da mineração no Brasil, quando a mão de obra de negros escravizados passou a ser utilizada nas minas de ouro, espalhadas pelo interior do país. Com as dificuldades do trabalho na mineração e as péssimas condições de vida, as fugas eram frequentes, em lugares cada vez mais isolados - os chamados Vãos - dando origem aos quilombolas.

Depois da abolição, grande parte dos moradores dos quilombos preferiu continuar nos povoados que formaram. Com a Constituição Federal de 1988, ganharam o direito à propriedade e ao uso da terra. O quilombo mais conhecido foi o de Palmares, instalado na Serra da Barriga, atual região de Alagoas. Pelo menos dois mil outros deram origens a comunidades hoje chamadas de remanescentes de quilombo ou quilombolas.

Quilombolas

- Em Goiás, são 47 comunidades certificadas;

- Em todo o Brasil, mais de 3 mil;

- Faeg/Senar em Ação realiza atendimentos em saúde;

- Cursos e treinamentos focados em produtos da agricultura familiar.

Fonte: Fundação Palmares / Faeg e Senar

Texto: Diene Batista

Foto: Larissa Melo

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