Murillo Soares
Nesta segunda-feira (26), iniciou-se a segunda semana dos Seminários de Comercialização de Grãos. A equipe da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg) e o consultor em Agrobusiness e analista que atua na Bolsa de Chicago, Pedro Dejneka, estiveram na cidade de Piracanjuba, no sul goiano. O município é um dos principais exportadores de leite, mas sua produção de grãos cresce em maneira exponencial.
Eduardo de Souza Iwasse, presidente do Sindicato Rural (SR) de Piracanjuba agradeceu a Federação por enxergar o potencial do município. Além disso, reiterou a força de vontade dos produtores da cidade. “A verdadeira Piracanjuba é aquela que acorda cedo, produzir e contribui para a economia de Goiás”, bradou. José Mário Schreiner, presidente do Sistema Faeg/Senar também estava na cerimônia e reforçou as palavras de Eduardo, reiterando a importância do município.
Além disso, esclareceu a importância do evento: levar informações ao produtor. “Pedro Dejneka é um dos mais conceituados analistas de mercado do mundo, que traz a economia global para a regional”, disse. Segundo ele, esses pontos são cruciais para que o homem do campo possa se planejar para a próxima safra e continuar sendo um dos pilares do PIB brasileiro. “Se tirarmos o Agro do Brasil, podemos fechar nossas portas. É o setor que tem gerado emprego e feito com que as balanças fechem positivas”, afirmou.
Schreiner ainda sublinhou que o sucesso do produtor rural não é só dele. “Uma colheita bem sucedida irradia em toda a sociedade”, disse. “O que seria de Piracanjuba, por exemplo, sem sua bacia leiteira? A economia da cidade estaria muito prejudicada”, completou. Para ele, a agropecuária não tem o reconhecimento que merece, mas o tempo mostrará o verdadeiro valor do meio rural. “Precisamos ser enxergados”, finalizou.
Muita oferta, pouca demanda
Ao palestrar, Pedro Dejneka levou aos produtores informações pertinentes sobre o mercado econômico global e tentou mostrar a eles uma real radiografia do cenário atual. “A médio e longo prazo, existe um excesso de oferta no mundo, tanto de soja quanto de milho. E a demanda, apesar de ainda forte, não consegue aumentar no ritmo da oferta”, explicou, ao falar dos preços dos grãos. Apesar do cenário aparentemente caótico, reiterou que o brasileiro está salvo pelo câmbio, já que, recebendo em dólar, na prática acaba ganhando mais, embora os custos tenham subido também.
Com o aumento de demanda, segundo ele, é preciso ter muito mais infraestrutura de armazenamento no Brasil. “Nosso país já avançou bastante em relação a onde estava a cinco anos atrás e a cada ano avança mais. No entanto, com todas as burocracias e o atual cenário de crise, os níveis não sobem como deveriam”, ressaltou. Para ele, a armazenagem é um fator diferencial, que possibilitaria ao produtor que investe nisso em um momento bom, alavancar sua produção em um momento ruim. “Ele pode ter muito mais força de negociação segurando seu grão”, completou.
Entretanto, Dejneka acredita que essa não é uma questão de prejuízo. “O armazenamento não afeta tanto o mercado local quanto afeta o produtor em si. Ao invés de segurar um pouco mais, ele tem o incentivo de exportar”, contou. “Mas, mesmo que estivéssemos sem problemas em nossa armazenagem, o preço em reais está tão bom com a defasagem do grão que poucas pessoas o segurariam”, disse.
Informação de qualidade
Com uma atividade tão concentrada na região, Pedro acredita que os produtores devem buscar informações confiáveis e transparentes. “O que chega ao Brasil sobre mercado internacional é fraco. A informação, muitas vezes é errônea e até mesmo tendenciosa. As pessoas se preocupam em falar para o produtor o que ele quer escutar e não o que ele precisa”, argumentou. Segundo ele, mesmo que a realidade não seja boa, o intuito é ajudar o homem do campo a se preparar.
E foi assim para seu Gedeon Cesário, produtor de soja e milho. Sobre a palestra, só avaliações positivas. Para ele, essa possibilidade de ficar “frente a frente” com o mercado traz benefícios a todos aqueles que tiram seu sustento do campo. “Principalmente, ficamos mais espertos em relação a quais decisões tomar: o que plantar, quando plantar e quando vender, que é o mais importante”, avalia. No meio de tantas previsões negativas de Dejneka, uma reflexão: “aprendi que não temos que nos preocupar em acertar o olho da mosca, só em acertar a mosca já temos um bom resultado”.