O sucesso de Maykon Douglas tem elevado as expectativas para o crescimento da modalidade esportiva em diversas regiões
“O parto de Maykon foi uma cesariana de emergência. Ele sofreu por falta de oxigênio e, por isso, teve convulsões e precisou ficar uma semana na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Logo após, os resultados dos exames confirmaram: paralisia cerebral”, relata o comerciante Dourival Rodrigues Cardoso, 43, pai do paratleta Maykon Douglas Marques, 21, que, acompanhado pelo Senar Goiás, tem se destacado no cenário estadual goiano por suas habilidades no adestramento paraequestre — esporte que começou a praticar a partir da equoterapia.
No início, os pais procuraram diversas ferramentas médicas que pudessem contornar o diagnóstico de paralisia cerebral do filho. Recorreram à fisioterapia, à fonoaudiologia, mas só aos 7 anos de idade que Maykon foi iniciado na equoterapia. Considerado um método terapêutico pelo Ministério da Saúde, a atividade é uma abordagem que utiliza cavalos na expectativa de gerar resultados no desenvolvimento de pessoas com deficiência ou necessidades especiais.
No início do método terapêutico, Maykon era acompanhado em uma fazenda no município de Israelândia, a 200 quilômetros de Goiânia. Em seguida, passou alguns anos sendo acompanhado na Cidade de Goiás, e desde 2019, já em Jussara — a cerca de 230 quilômetros de Goiânia —, município onde mora, está no Centro de Equoterapia João Lucas, entidade sem fins lucrativos que atua em parceria com o Senar Goiás e que acompanha diversas pessoas com deficiência.
A equoterapia foi, portanto, que concedeu ao menino uma nova perspectiva de vida. Esforço é um adjetivo que o persegue desde seus primeiros treinos. Aos olhos dos pais e da equipe que o acompanha, ele faz coisas surpreendentes, as vezes até inexplicáveis.
Dourival, o pai, conta que, à princípio, o filho não começou na equoterapia com a motivação de se tornar um atleta. “Foram os treinadores que perceberam que ele tinha desenvoltura para crescer e praticar o adestramento, por exemplo”, explica.
Diego Almeida Silva, 36, é educador físico e instrutor de equitação do programa de equoterapia do Senar Goiás. De Brasília, Diego se desloca a cada quinze dias para Jussara com o objetivo de aperfeiçoar a capacitação técnico-física de Maykon que, atualmente, se prepara para momentos importantes de sua jornada no esporte.
Entre os dias 4 e 7 de novembro, na capital federal, ele participa do Campeonato Brasileiro de Adestramento Paraequestre. Se classificado, ele pode garantir uma vaga no mundial da Dinamarca no ano que vem.
Tendo em consideração esse momento significativo de reta final, os treinos se intensificam e chegam a exaustivas duas horas de duração. “Para paratletas como Maykon, o processo de preparação é intenso, árduo, dolorido e muito cansativo. E é assim para todos os paratletas que acompanho. Eles abdicam de muitas coisas para praticar o esporte e obter bons resultados”, pontua o instrutor.
Diego também fala sobre a importância do acompanhamento do Senar Goiás e seu sentimento de gratidão quando observa os resultados obtidos por seus alunos. “Enquanto instrutor, é muito gratificante acompanhar de perto a evolução dos alunos ao mesmo tempo que se é respaldado pelo trabalho do Senar, porque o meu trabalho é algo que vai além do esporte, é um trabalho de desenvolvimento humano”, afirma.
Isabella Carolina Souza, 34, é fisioterapeuta, também faz parte da equipe que acompanha Maykon, treinando especialmente funcionalidades e postura. Ela relembra algumas das primeiras conquistas do jovem, como o “Big boy” — cavalo em que ele treina. Foi um presente de um militar de alta patente da Marinha brasileira.
“Ele faz coisas incríveis no cavalo. Nós até já fizemos algumas adaptações, de acordo com as regras de adestramento que estão vigentes, porém mesmo com as alterações e adaptações, ele ainda assim se sobressai nos treinos fazendo o que muitas pessoas não-deficientes não fazem”, afirma Isabella.
No entendimento da fisioterapeuta é impossível fazer um paratleta prosperar nos seus objetivos, sem o alinhamento de uma equipe. Ela observa que é exatamente a união entre a equipe que acompanha Maykon e o apoio assistencial do Senar Goiás— que, aqui, desenvolve um trabalho de gestão bastante expressivo no custeio de hospedagem para os familiares, taxas de deslocamento, apoio técnico, dentre outros benefícios, por exemplo — que possibilitam tamanha desenvoltura do paratleta.
Vale ressaltar que ele é pioneiro no segmento no estado. O jovem sai na frente não só no número de medalhas recebidas — e até um troféu —, como também no desenvolvimento pessoal.
Embora os centros de equoterapia espalhados pelo estado ajudem a uma demanda considerável de pessoas que, em potencial, podem se tornar paratletas, o Senar prevê para o ano de 2022 uma ampliação no acompanhamento desses casos. Hoje, a história de Maykon não só parece ser, mas é única. No entanto, com o andamento dos projetos do Senar Goiás, para o futuro, a expectativa é que milhares dessas histórias sejam replicadas.
Hoje, cerca de 7 instrutores atuam diretamente atendendo os centros de equoterapia no estado que, por sua vez, recebem, ao menos, uma visita presencial de 1 técnico do Senar. A previsão para o ano que vem é que isso aumente, pois, a metodologia do trabalho é justamente a de aproximação. As visitas técnicas — que ocorrem uma vez por mês —, por exemplo, visam, desde já, levantar quais são as demandas de treinamentos, avaliar e acompanhar os atendimentos e, também, atualizar informações sobre número de praticantes e números de atendidos pelos programas terapêuticos.
Tudo isso, na prática, confere uma dinâmica maior no rastreio de futuros paratletas. Presidentes dos Sindicatos Rurais têm observado o valor da equoterapia e o crescimento da modalidade hípica nos interiores — o que aumenta a expectativa para expansão no segmento esportivo. “Quando os paratletas de Goiás chegam para as competições, em Brasília, por exemplo, já existe um reconhecimento de que eles são ótimos”, afirma Letícia Tiago Campos, enfermeira e coordenadora de promoção social do Senar, que acompanha o ramo da equoterapia.
Segundo Letícia, a autoestima dos paratletas é colocada nas alturas com as vantagens que programas dos centros de equoterapia e o acompanhamento do Senar Goiás oferecem. Por isso, casos como os de Maykon Douglas são considerados um sucesso. Não só aos olhos dos técnicos e do público que o acompanha, ele é motivo de orgulho, também — e em especial —, para os pais. “Tê-lo como filho, é o nosso maior orgulho. Ver a sua dedicação, disciplina e alegria em fazer o que faz, não tem preço. Quando olhamos para ele, agradecemos por Deus nos agraciar com alguém tão esforçado e amoroso. No mundo, não existe nada melhor do que ver o filho feliz”, afirma o pai de Maykon.
Fotos: arquivo pessoal
Comunicação Sistema Faeg/Senar