Termômetros ultrapassaram os 40º em cidades goianas, causando prejuízos em lavouras ou atrasos no plantio. Com medidas para amenizar impacto do sol, produtores estimam resultados até 20% melhores.
As altas temperaturas têm preocupado agricultores e pecuaristas em Goiás. Os termômetros ultrapassaram os 41°C em setembro no estado. O calor pode provocar danos às lavouras e diminuição na produção de leite. Com isso, produtores estão investindo em medidas como "protetor solar" para plantas e áreas climatizadas para o gado.
O agricultor Ivan Roberto Brucceli conta que já teve uma perda de 10% na soja plantada este mês em sua lavoura em Rio Verde , região sudoeste de Goiás. Sem chuva nos próximos dias, ele teme que o prejuízo aumente para até 30% do total semeado.
O agrônomo Diogo Alfaix conta que a temperatura ideal para a produção é entre 25°C e 30°C. "O que gera a energia para as plantas, que seria o alimento dela, é a fotossíntese, que acontece dentro das células. Se a temperatura está acima disso e há incidência de muita radiação solar, o estômato fecha. Mesmo tendo água, a folha não faz a fotossíntese", explicou. Com isso, as plantas não conseguem se desenvolver, criar raiz e gerar as vagens com os grãos. Assim, há uma perda na produção total.
Dados do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo) apontam que os meses mais quentes no estado são entre agosto e outubro. Os anos de 2020 e 2021 foram os mais quentes registrados pelo órgão, que faz medições desde 1961. Já em 2023, o estado registrou temperaturas acima dos 40° em pelo menos cinco cidades. André Amorim, gerente do Cimehgo, explicou que, atualmente, há uma onda de calor concentrando-se na região oeste do estado. Porém, a previsão é que as temperaturas abaixem nas próximas semanas.
"Essas temperaturas mais altas vão continuar prevalecendo entre uma chuva e outra, mas depois do dia 25 vamos ter aumento da nebulosidade, pancadas de chuva e a diminuição desse calor. Durante esse trimestre - outubro, novembro e dezembro - teremos temperaturas mais elevadas mesmo. Choveu, a temperatura fica legal. Parou, permanece o calor", explicou.
O assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás, Leonardo Machado destacou que, além das altas temperaturas serem um fator muito preocupante, a falta de chuvas é um elemento ainda mais crítico. Este ano, a combinação das duas situações está atrasando o plantio da soja. "Estamos em um movimento inicial do plantio. Hoje, estamos com cerca de 15% das lavouras de soja de Goiás semeadas. No ano passado, nessa época, já estava com 25% a 30% plantado", disse.
Com um plantio atrasado, a colheita também vai demorar mais e, por consequência, impactar no plantio do milho safrinha, feito logo na sequência. Estima-se que alguns produtores podem, inclusive, não fazer o plantio na safrinha para não correr o risco de ter prejuízo ao não conseguir colher a tempo. O primeiro levantamento da safra 2023/2024 divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento aponta para uma redução de quase 5% na área plantada do milho, o que representa mais de 10 milhões de toneladas.
Para tentar minimizar os impactos, os agricultores estão adotando diferentes medidas. Uma delas é um "protetor solar" para plantas chamado Surround WP, que diminui a temperatura das plantas em uma média de até 4°C. O produto é borrifado sobre as folhas, garantindo que as plantas consigam produzir até três horas a mais por dia.
O agricultor André Marques tem plantações de feijão e soja em diferentes cidades do estado e usou o produto para evitar prejuízos. "Nos últimos dois anos, a temperatura foi muito alta. Ano passado, as plantas estavam sofrendo muito, a plantação indo muito lenta. Eu usei esse produto e, se não fosse ele, eu teria tido uma colheita 15% menor", estima.
O agrônomo Diogo Alfaix explica que o produto filtra a radiação solar, permitindo que a folha não feche os estômatos e pare o metabolismo. "Assim, essa folha ativa fica fazendo fotossíntese por um período a mais por dia, gerando mais energia, e a planta consegue se desenvolver melhor, fazendo mais flores, mais folha e mais grãos", completou.
Já o agricultor Ivan Roberto explica que faz o plantio direto, semeando sobre a palha do milho da safra anterior. Isso faz com que o solo fique mais coberto, diminuindo a temperatura.
O também agrônomo Wesley Sousa destaca que as mudanças climáticas vão fazer com que produtores busquem saídas mais sustentáveis para garantir uma melhor produtividade no campo.
Na pecuária, produtores também precisam se adaptar para conseguir enfrentar as temperaturas próximas dos 40°C. O pecuarista Frederico Machado trabalha com gado leiteiro e montou uma área climatizada, conhecido como "compost barn". Ele explica que, em temperaturas acima dos 38°C, as vacas já começavam a entrar em estresse térmico, o que atrapalhava a produção de leite.
Com esse sistema, instalado há cerca de um ano e meio, as temperaturas dentro da estrutura chegam a ficar de 7°C a 10°C menor do que a temperatura ambiente.
"Com isso, as vacas chegam a produzir até 20% a mais quando estão trabalhando sem o estresse térmico. Antes, trabalhando fora do compost barn , tínhamos uma produtividade de 28 litros de leite por vaca. Agora, atingimos 37, 38, até 40 litros por vaca. Isso mostra o quanto é importante dar esse conforto térmico aos animais nesse período de altas temperaturas", completou o pecuarista.
Conteúdo produzido por g1 Goiás